Lutando contra a amargura


A cada tempo que se passa a amargura tem se tornado frequente no meio cristão. Ela surge a partir de uma reação às ofensas ou situações pelas quais somos submetidos, tendo deste modo, uma essência relacional. Quando alguma ferida emocional não é tratada, suscita em nosso coração sentimentos como raiva, tristeza, dor, vingança, entre outros, que por sua vez, faz com que a amargura germine em nosso interior.

A amargura nos traz o senso de que somos as vítimas, e dessa forma, o culpado precisa ser punido, pois como afirma Dane Ortlund:

“Elas machucaram você. Fizeram o que nunca deveriam ter feito. Ou não fizeram o que deveriam ter feito. E você leva as feridas [...] Aqui está o que acontece: ao invés de fazer algo externo para ferí-los, você faz algo interno. Você nutre amargura. Esta é a psicologia do ressentimento. Você executa punição emocional sobre eles internamente quando a punição real não pode ser executada externamente. Você monta um tribunal em seu coração, uma vez que um tribunal real é impraticável.”¹

Nos sentimos injustiçados e queremos justiça, porém os meios que buscamos podem ser prejudiciais a nós, e não ao outro, como a amargura, que nos priva de nossa paz e bem-estar relacional. A raiva incutida em nosso interior nos faz atuar como juízes, onde o tribunal se encontra montado em nosso próprio coração, e em qualquer oportunidade sobrevinda queremos executar sentença condenatória contra o réu, que carrega consigo a grande culpa de ter nos ofendido.

Como temos reagido às ofensas causadas pelos outros? Isso pode revelar muito acerca de nós. Revela se confiamos na justiça de Deus o suficiente ao ponto de descansarmos em Sua soberania. Revela o grau de nossa fé e confiança aplicadas sob a perspectiva das Sagradas Escrituras.

Somente ao Senhor pertence a vingança, ao qual retribuirá a cada um segundo o seu procedimento (Dt 32:35, Rm 2:6), portanto, não procuremos mais vingar a nós mesmos (Rm 12:19), baseados em nosso senso falho de justiça. Retidão, equidade e sabedoria estão sempre diante Dele, ao qual reina pelos séculos dos séculos.

Todas nós ofendemos ao Senhor continuamente, e a nossa culpa possui um peso eterno por ser contra Ele, e embora Ele sendo poderoso o suficiente para nos exterminar, e com razões para isso, escolhe reagir às nossas ofensas enviando o Seu único Filho Jesus para morrer pelos nossos pecados, nos fazendo provar da doçura de Sua graça.

A nossa dificuldade em demonstrar graça para com o próximo nos possibilita perceber a pecaminosidade que existe em nosso coração. Somos naturalmente propícios a nutrir sentimentos contra os nossos semelhantes, sempre que estes ferem o nosso ego, porque somos essencialmente pecadores. À parte da graça de Deus estamos fadados em nossos próprios pecados, trilhando o caminho que nos conduz à condenação eterna.

Mas, uma vez desfrutando da maravilhosa graça de Deus em nos perdoar e nos amar apesar do que somos, passamos a conhecer o que é o amor. Em Cristo não somos melhorados em alguns aspectos, mas somos transformados, porque recebemos uma nova natureza, que é distinta da anterior, porque caminha em progressividade à conformidade da imagem daquele que a criou: Cristo. Somos a cada dia aperfeiçoados para sermos como Ele é, e aprendemos a dar aos outros da graça que recebemos Nele.

Mudamos a forma em que tratamos o próximo a partir do momento em que mudamos a nossa forma de enxergar a nós mesmos e a eles. Quando passamos a vê-lo como um pecador igual a nós, que a qualquer momento pode falhar, vemos que não somos superiores a ninguém, e que todos precisamos de graça.

É isso o que caracteriza o perdão: ao invés de retribuir ao outro conforme o que é merecido se concede graça. Mesmo tendo motivos para desenvolvermos amargura e toda sorte de maledicência contra o próximo, como discípulas optamos por agradar ao nosso Senhor, que nos ensina sempre como devemos ser e como devemos nos comportar neste mundo. Ele nos ensina que a amargura é pecado (Ef 4:31-32), e que a raiz de amargura nos perturba e contamina a muitos (Hb 12:15). Por ser pecado, é algo do qual precisamos nos arrepender, confessar a Deus e abandonar.

Sei que podes pensar: Mas você não sabe o que passei, e porque carrego estas feridas emocionais. Realmente, eu não sei, mas Deus sabe. E a sua Palavra nos assegura de que Ele não nos deixará passar por algo que esteja além das nossas forças (I Co 10:13), logo, Ele pode te dar as forças suficientes para suportares o que for, de forma que não possas fazer algo que te leve a desobedecer à Sua vontade. Ele pode trazer a cura ao teu coração, para que possas estar livre de tudo aquilo que te aprisiona e que te torna infeliz, pois é isto o que a amargura faz. A cura é desenvolvida a partir do momento em decides perdoar ao invés de guardar ressentimentos, desarraigando tudo o que possa culminar em amargura em teu interior, entregando tudo ao Senhor e descansando Nele, ao invés de agir por conta própria.

“Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.” (Cl 3:13)

Ele suportou todos os nossos pecados, para nos mostrar que podemos suportar uns aos outros em amor, e nos deu abundantemente de Sua graça para que possamos de nossa relação com Ele transbordar em graça para com o próximo. Ele nos deu do perdão imerecido e pede que sejamos como Ele.

Vencemos a amargura desenvolvendo em nós o caráter de nosso Senhor, amando como Ele, perdoando como Ele, sendo humildes como Ele mesmo é, e embora isso seja contraditório a todo o mundo, mais perto estaremos da Sua vontade, e afinal, é isto o que realmente importa.


Thayse Fernandes
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¹ ORTLUND, Dane. A psicologia do ressentimento. Disponível em: < http://reforma21.org/artigos/a-psicologia-do-ressentimento.html>. Acesso em: 22 agosto 2017.

2 comentários:

  1. Que texto bom, estava precisando, mas é tão difícil olhando para nós... Que o Senhor nos encha de Sua graça e ajude a guardar o coração em obedece-Lo, honra-Lo e caminhar conforme os sonhos Dele para nós todas.

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  2. Olá, Beatriz!

    Realmente não é fácil, por isso precisamos olhar tudo com os olhos da graça, voltados para o nosso Senhor, que certamente ajudará a todo aquele que por Ele pede ajuda em dependência.

    Que Ele nos encha de Sua graça
    Grande abraço!

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