Servas como Maria


A mulher escolhida para ser a mãe do nosso Salvador residia em uma cidadezinha da Galileia chamada Nazaré. Era Maria, uma camponesa comum à época em que vivia. A grande expectativa das mulheres de vários séculos se concretizou na vida dela - ser a mãe do Messias que seria enviado por Deus, conforme era previsto pelos profetas.

Aos olhos humanos, era inconcebível que Maria gerasse um filho, pois era virgem. Porém, Deus tem suas formas de agir quando a escolhe para conceber o Seu filho unigênito. Para Ele, nada é impossível (Lc 1:37)! Após ouvir que iria conceber, Maria questiona ao anjo como isso aconteceria, e ele a responde que desceria sobre ela o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo a cobriria com a sua sombra (Lc 1:35).

Aprouve ao Senhor Deus operar aquilo que é impossível diante dos homens, a fim de revelar o Seu poder e a Sua graça atuante sobre os pecadores. Foi a Maria que Ele quis dar a glória de carregar em seus braços aquele que salvaria a humanidade. Porque ela achou graça aos Seus olhos, de sorte que era bendita entre todas as mulheres. Não pelos seus méritos, mas pela Sua graça. Não pelos seus meios, mas pelo poder que opera mesmo nas impossibilidades.

Porém, Maria estava desposada com um homem da casa de Davi chamado José. O que poderia acontecer caso José visse que ela estaria grávida sem eles terem ainda se casado? Ela poderia decepcioná-lo e perder o seu casamento, pela suposta traição que cometera contra ele; ser difamada, por todos os que saberiam do seu pecado; e ser apedrejada, conforme a lei de Moisés. Ela sabia disso, que poderia perder tudo e viver desamparada, ou então, morrer infeliz. A resposta que Maria deu ao anjo, todavia, foi surpreendente:

“Eis aqui a serva do Senhor, que se realize em mim tudo conforme a tua palavra.” (Lc 1:38)

Em submissão, Maria se prontificou a passar por tudo o que o Senhor havia determinado para a sua vida mesmo que não entendesse. Ela sabia que era apenas uma serva Dele, e que a sua vontade era sempre o melhor para a sua vida.

Quanta coisa aprendemos com essa notável serva! Aprendemos que o nosso lugar no Reino de Deus não é diferente, pois todas fomos chamadas para o serviço do Rei celestial. Somos assim como Maria, apenas servas.

A palavra usada por Maria é ainda mais profunda, ela usa doulos, que significa escravo, denotando que ela era uma escrava rendida ao seu Senhor. A imagem de escravos era algo comum nessa época, visto que a escravidão estava presente em vários lugares. Enquanto que doulos é a palavra usada para escravo, kyrios é a palavra usada para Senhor. Sobre este cenário, John MacArthur traz algumas explicações:

“Kyrios e doulos são dois lados da mesma relação. Ser um doulos era ter um mestre. Da mesma forma, um kyrios, por definição, era o dono de escravos. Assim, confessar Jesus como ‘Senhor’ é simultaneamente, confessar que Ele é o nosso Mestre, e que nós somos seus escravos.Na época do Novo Testamento, o kyrios tinha total autoridade sobre a vida de seus escravos, quer trabalhassem no campo ou na casa do mestre. Ele poderia dar aos seus escravos qualquer tarefa, como enviá-los em uma missão ou confiar a eles sua propriedade durante sua ausência. Se eles procedessem bem, o mestre poderia recompensá-los, ou simplesmente não fazer nada, visto que fizeram o que deles era esperado.”¹

Um escravo agia em obediência restrita ao seu Senhor, não podendo optar sobre o que deveria fazer ou não. Seu dever era aceitar silenciosamente a vontade do seu dono. Se tivesse um dono generoso, ele era um privilegiado, mas se tivesse um cruel, teria que obedecer-lhe igualmente.

Temos um dono, Jesus Cristo, Ele é o melhor de todo o universo, e também é o mais importante de todo este.

“Ser um escravo de Jesus Cristo é a maior bênção que se possa imaginar. Ele não é apenas um Senhor generoso e gracioso, mas é também o Deus do universo. Seu caráter é perfeito; seu amor é infinito; seu poder, inigualável; sua sabedoria, insondável; e sua bondade, incomparável.”¹

O nosso Senhor nunca desejará algo que seja prejudicial às nossas vidas, mas somente o que for para o nosso bem, e que redunde para o louvor da Sua glória. Relutamos em obedecê-Lo, porque não confiamos o suficiente Nele, nem o amamos como deveríamos. Não confiamos em tudo o que Ele nos diz que Ele é. Aceitamos a vontade do Senhor até quando essa vontade não contrarie a nossa, e assim, esquecemos que Ele é soberano e Senhor, e nós, seus servos.

Como Maria, precisamos aprender a estar dispostas a nos submetermos a Ele, incircunstancialmente. Mesmo que isso implique em perdas aos olhos humanos. Mesmo que isso implique em sermos desprezadas pelo mundo, ou sermos contrariadas em nossos desejos. Precisamos ansiar por ter os desejos de Deus! Amando o que Ele ama, odiando o que Ele odeia, satisfazendo toda a Sua vontade, que é boa, agradável e perfeita.

O Senhor escreveu uma história para cada uma de nós, e no seu livro estão escritos todos os dias pelos quais viveríamos, antes de qualquer um deles existir (Sl 139:16). Mesmo que na nossa trajetória não sejamos tão conhecidas como Maria, a mãe do nosso Salvador, podemos ter a certeza de que todas temos o nosso lugar na grande história da redenção, cujo regente é Deus. Todas somos participantes dos Seus grandiosos propósitos no mundo.

Um dia Ele veio ao mundo em forma humana, na pessoa do Senhor Jesus Cristo, para mudar a nossa história, sobre a qual estava fixada condenação por causa dos nossos pecados, nos dando uma esperança e um futuro. Através da sua morte, recebemos vida; das suas feridas, cura; da sua humilhação, glória. De forma que agora, como servas rendidas, podemos dizer como as palavras de John Newton:

“Adeus mundo, Teu ouro é refugo que não reluz.
Agora vejo a sangrenta cruz.
Jesus morreu para me libertar
Da lei, do pecado e de ti;
Com amor comprou minh’alma para Si;
Senhor, aceita e exija o todo;
À Tua vontade eu tudo submeto.
Agora, não sou de mim mesmo, mas Teu.”

Jesus Cristo é o nosso Senhor, e também é o nosso Salvador. Aquele que nos comprou para si mesmo, com um preço caríssimo de sangue. Aquele que nos libertou do império das trevas e nos transportou para o seu Reino, e agora, pertencemos a Ele eternamente. O Senhor nos deu tudo o que necessitávamos em nossa vida, e agora tudo o que realmente temos é a Ele, o nosso bem mais precioso. Sem mais resistência aceitamos toda a sua vontade, porque O amamos e queremos O agradar, e mesmo que façamos tudo, um dia reconheceremos que tudo o que fizemos não é nada diante da grandeza de quem sempre estivemos. Ele é digno da nossa obediência e da nossa rendição, simplesmente por ter conquistado o nosso coração, por ter ofuscado o nosso olhar com o brilho da sua beleza, e por nos fazer entender que somos amadas com amor eterno e alcançadas com uma graça inefável. De forma que dizemos livremente: somos suas servas, que se cumpra em nós toda a Sua vontade!


Thayse Fernandes
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¹ MACARTHUR, John. Escravo: a verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo. São José dos Campos, SP: Fiel, 2012.

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