Celebrando a verdadeira amizade


"Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome. Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros." (Jo 15.15-17)
Esta passagem nos diz muito sobre o relacionamento de Jesus com seus discípulos e como esse relacionamento é um exemplo para as relações humanas. Nós, que antes éramos inimigos de Deus, temos agora o privilégio de sermos amigos dEle por causa de Cristo. O fato de Jesus nos chamar de amigos não só muda nosso relacionamento com o Pai, mas também com as outras pessoas. Cristo afirma que conhecemos a vontade do Senhor porque isso se tornou possível através dele mesmo e, uma vez que conhecemos esta vontade, temos a ordem: “amem-se uns aos outros”. De fato, vemos claramente que “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). Primeiro, Deus restaura nossa amizade com Ele e depois restaura nossos relacionamentos, tornando possível a amizade com outras pessoas. Jesus não só é o nosso amigo perfeito, mas também é o exemplo maior de como devemos agir sendo verdadeiros amigos.

É verdade que muitas pessoas não compreendem bem o significado da verdadeira amizade. Ela é minimizada a ponto de ser considerada um mero passatempo ou diversão e não uma virtude, um amor, uma dádiva divina. Vivemos em um mundo onde as relações são bastante superficiais, “amizades” surgem por interesse e acabam rapidamente quando as expectativas de beneficiar-se usando o outro são frustradas. Além disso, confunde-se amizade com um amor que inclui toda aceitação, dessa forma, um amigo de verdade nunca confronta o erro do outro, mas sempre o acolhe. Na tristeza ou em situações adversas, amigos abandonam amigos. Na alegria, há os que acham difícil exultar com o outro. Não foi assim que o nosso melhor amigo nos ensinou.

Se observarmos a conduta de Jesus com seus amigos, podemos ver quão maravilhosa é a verdadeira amizade e celebrá-la, fazendo com que as atitudes do mestre inspirem as nossas. Ele conhecia todas as falhas dos seus discípulos, sabia quem o ia negar, trair, conhecia os orgulhosos, os céticos, os medrosos. Ainda assim, lemos em João 13.1 que Ele “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Contemplamos nos evangelhos um Cristo que ora pelos seus discípulos e também pede para que eles orem com Ele em um momento de extrema aflição. Contemplamos Jesus consolando Marta, chorando com Maria e ressuscitando Lázaro. Ele também repreende Pedro e a incredulidade dos seus seguidores, recebe ajuda financeira de mulheres e nutre a fé de várias pessoas através de seus feitos. E há muito mais, Jesus torna-se amigo daqueles que são rejeitados e redime-os! Cristo inicia uma conversa espiritual com uma mulher samaritana à beira de um poço e muda toda sua vida, o mesmo Jesus come com um publicano, convence-o de suas injustiças e o salva! Seja em um barco ensinando, em um jantar, à beira de um poço, a caminho de outra cidade e em tantas outras situações, Jesus é nosso exemplo supremo de como tratar as outras pessoas e de como podemos ser amigas de verdade.  

É certo que temos imperfeições e que nossas amizades logicamente não serão perfeitas, mas precisamos um dos outros e é necessário entender que “Cristo não morreu para criar adoradores isolados. Ele morreu para criar amizades que o exaltem, isto é, Ele morreu para criar a igreja” ¹. O que torna uma amizade possível é o que temos em comum com o outro, e Cristo é o nosso tesouro em comum! C. S. Lewis escreve sobre isso de forma belíssima em sua obra “Os quatro amores”, ele diz:

“Mas, para um cristão, não existem, estritamente falando, acasos. Há um mestre de Cerimônias invisível em atividade. Cristo – que disse a seus discípulos: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi” – pode verdadeiramente dizer a todo grupo de amigos cristãos: “Vocês não escolheram uns aos outros, mas eu os escolhi uns para os outros.”. A amizade não é uma recompensa pelo discernimento e bom gosto que tivemos quando nos descobrimos mutuamente. Ela é o instrumento pelo qual Deus revela a cada um as belezas de todos os outros.” ²

A amizade procede da beleza de Deus, por isso, valorize-a! Não deseje apenas ter amigos de verdade, mas seja um amigo de verdade seguindo o exemplo de Jesus. Lembre-se sempre:

"Você não é uma ilha, portanto, não se isole das pessoas utilizando-se do pretexto de que que já possui Cristo como amigo. Definitivamente, não foi isso que Ele ensinou, antes, busque honrá-lo em seus relacionamentos. “Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios” (Rm 12.10).

Não tenha medo de ser confrontado e nem de confrontar quando for necessário. Um amigo de verdade corrige em amor e se alegra quando o outro está mais próximo de Deus. “Leais são as feridas feitas pelo amigo”, “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro” ( Pv 27.6, 17).

Tenha a sensibilidade de ser um auxílio na adversidade, de chorar junto, mas não se esqueça de exultar com a alegria do outro.

“Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram” (Rm 12.15).

Correr acompanhado é melhor que correr sozinho. Isso não é realidade apenas no esporte, mas também na vida cristã. Corra com seus amigos em busca do tesouro em comum!  “... corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé...” (Hb 12.1,2), “Melhor é serem dois do que um” (Ec 4.9).

Ore por seus amigos e seja grato por eles. Celebre a verdadeira amizade, entenda que o fato de Deus ter nos amado primeiro proporcionou a dádiva de glorificá-lo através dos nossos relacionamentos e agora é possível cumprir a ordem: “amem-se uns aos outros”!


Juliany Correia
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¹PIPER, John. Disponível em: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2012/10/john-piper-cristo-morreu-para-nos-dar-amizades-que-exaltam-a-cristo
²LEWIS, C.S. Os quatro amores – 2.ª ed.- São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009, pag. 125.

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