Deus conosco: O milagre da encarnação


 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (João 1.14)
A mente humana é limitada demais para entender com plenitude toda a carga teológica expressa nos primeiros versículos do evangelho de João. De forma poética, com esta espécie de “introdução”, podemos ter um breve vislumbre dos grandes temas trabalhados ao longo do livro de João. O logos grego carrega uma complexidade que a nossa tradução transmite como “Verbo”, e de uma forma que não podemos ponderar completamente, nos é dito que este “Verbo” se fez carne e habitou entre nós. Um texto sublime descreve a maravilha da encarnação. O criador entrou no mundo da criação e mudou tudo. Deus se fez homem para nos redimir.

Deus assumiu a carne humana e se humilhou para nos reconciliar com Ele mesmo, assim, a história da humanidade é marcada de uma vez por todas. A Bíblia nos mostra como, onde e quando isso aconteceu, atentemos, portanto, para o texto do evangelho de Lucas que descreve a anunciação do nascimento de Jesus:

Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. (Lucas 1.31-32)

Você já deve ter pensado o que teria se passado pela cabeça de Maria, as perguntas que surgiram em sua mente. Imagine só, uma moça prestes a se casar descobrindo que terá um filho sem nunca antes ter se submetido às condições naturais para isso. Impossibilidade? Não para Deus. No meio artístico, muitas pinturas retratam este momento, poemas e músicas tentam retomar a alegria do milagre da vinda do Salvador. O poema “Salmo para a manhã de natal” ¹, de Thomas Pestell, é uma linda composição que nos revela a beleza da encarnação:

Veja, o Grande Criador fez
A si mesmo uma casa de barro
Um manto de carne virgem tomou
Que vestirá por nós

Ouça, ouça o sábio e eterno Verbo
Como um bebê chora
O Senhor veio como servo
E Deus no berço repousa

Há ainda uma música interpretada por alguns cantores e grupos musicais intitulada de “Mary, did you know?”², em português “Maria, tu sabias?”, nesta canção, é como se alguém questionasse a ciência de Maria a respeito da grandiosidade do seu pequeno bebê. Um trecho marcante diz:

Maria, tu sabias que o teu Bebê criou os céus e a Terra?
Maria, tu sabias que o teu Bebê governará nações?
Sabias que o teu Bebê dos céus era o Cordeiro?
E a criança que seguras é o grande "Eu Sou"?

Contemple a beleza que você não pode entender totalmente, veja o cenário. A vinda de um bebê iniciou o nosso retorno ao lar, ao verdadeiro propósito. Um menino nasceu para nos proporcionar o novo nascimento. A criança acolhida nos braços da mãe é o Deus que nos tomou por adoção. O recém-nascido em uma manjedoura de Belém iluminou o mundo inteiro. O bebê vulnerável, propenso ao choro, é O Senhor que enxuga e enxugará toda lágrima. O garoto que precisou aprender a andar é o Guia que direciona e sustenta os nossos passos. Infinito revestido de finitude, o Senhor eterno viveu sob as limitações do tempo. Esvaziou-se a si mesmo para a carne humana habitar sem, contudo, deixar de ser Deus (Fp. 2.7).

A figura de Deus estendido sobre a palha, longe dos palácios e vestes reais, não nos decepciona, antes, como aos pastores, nos maravilha, gerando adoração e devoção. Um menino nos nasceu! Deus enviou seu filho amado! O governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz (Is 9.6). Jesus, Deus encarnado, consolação de Israel, a semente prometida, soberano sobre todas as coisas, desejado das nações. Esperança nossa. Salvador.

Era necessário que Ele se tornasse semelhante a nós, e foi o que aconteceu. Deus conhece o coração do homem e sabe todas as nossas fragilidades porque cuida dos filhos como um Pai atento, e ainda mais: um pai que já esteve em nosso lugar. Viveu a vida que deveríamos viver e pagou o preço que deveríamos pagar.

 À vista disso, você pode confiar plenamente naquele que nunca te deixou e que conhece como ninguém a sua estrutura. Quando seus olhos se recusarem a enxergar todas as dádivas recebidas, lembre-se do bebê no estábulo, lembre-se que quem governa o universo veio até você. Se a fraqueza falar mais alto e as tentações parecerem avassaladoras, lembre-se que Jesus se compadece de nós porque passou por todo tipo de tentação, mas não pecou. 

Moça, quando tudo parecer irreparável, confie no único capaz de acalmar tempestades, controlar os ventos e instaurar ordem no caos. Nada foge do Seu controle. Como na canção, lembre-se que o menino que um dia esteve nos braços da mãe, é o grande “Eu Sou”, nada está fora de suas mãos. Quando parecer que não há mais ninguém ao seu lado, lembre-se que o Senhor nunca te abandonará. Este texto não é sobre uma época do ano simplesmente (embora se torne oportuno nestes momentos de celebração), é sobre o maior presente que você já recebeu, é sobre Deus conosco.   


Juliany Correia
__________________
¹ McGrath, Alister. Encarnação. São Paulo: Hagnos, 2011. p. 30. 
² Disponível em: https://www.letras.mus.br/jeremy-camp/mary-did-you-know/traducao.html

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.