Não murmure, lamente.


O sofrimento é uma realidade universal, e os cristãos não fogem a essa regra, o Senhor advertiu que teríamos aflições nesse mundo. Então, mais cedo ou mais tarde, teremos de lidar com algum sofrimento e são nesses momentos de dor que nosso coração se encontra mais disposto a murmurar e se queixar contra Deus, esquecendo sua bondade e graça, que dia após dia, está sobre nossas vidas, mesmos nos dias maus, e dessa forma, não conseguimos honrar o Senhor quando passamos pelos vales.

É uma necessidade nossa dizer que está doendo, desabafar e chorar. Essas coisas, muitas vezes, nos aliviam a alma, mas podemos fazer isso com fé ou incredulidade, e, é nesse ponto que distinguimos o lamento da murmuração.

Quando lamentamos nossos corações se abrem e falamos sem reservas e sem medo de sermos julgados pelo que falamos, muitas vezes entre lágrimas, daquilo que nos inquieta. No lamento lançamos diante do Senhor aquilo que nos aflige, falamos a Deus o que nos perturba, o que nos angustia. Deus quer que o crente faça isto, Ele quer que você faça isto quando a aflição sufocar seu coração.

É comum crentes deixando de lamentar por receio de ser achado murmurando contra o Senhor, de fato a murmuração é um pecado (1 Co 10.10). Tal receio se deve de uma compreensão incorreta do lamento. A linha que separa lamento e murmuração não é tênue, pelo contrário, ela é firme e bem estabelecida; o que diferencia o lamento da murmuração e a fé; enquanto aqui há fé, ali não há.

Enquanto Davi fugia de Absalão ele questionava a Deus lamentando: “Porque te esqueceste de mim?” (Sl 42.9), mas continuava crendo; Ele ainda era o “meu auxílio e meu Deus” (Sl 42.5), havia fé. Cristo na cruz perguntou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, conforme registra Mc 15.34. Houve o questionamento do Filho, mas isso não fez com que o Pai deixasse de ser o “Meu Deus, Meu Deus”, também havia confiança.

Nossa sociedade prega a busca pelo prazer como objetivo da vida humana, todos devem se satisfazer ao máximo possível, mas quando o sofrimento bate na porta das pessoas que vivem essa filosofia e o prazer parece uma realidade tão distante, a vida perde-lhes o sentido, pois não encontram esperança em algo maior para depositar confiança. Como cristãos não devemos ser levados por essa filosofia mundana de uma vida sem dor, devemos estar preparados para enfrentar o sofrimento e louvar a Deus em circunstâncias assim.

Devemos louvar a Deus em todo tempo (Sl 146.2), sejam nos dias de alegria ou de tristeza. Será que é possível louvar a Deus dizendo que sentimos dores? Louvar a Deus dizendo que nos sentimos sozinhos, desamparados? Observe mais uma vez o Salmo 42, para estas perguntas há nesse Salmo um “sim” gigantesco.

Se acredita que o Salmo 42, que é um salmo de lamento individual, foi escrito por Davi quando estava fugindo de seu filho Absalão, que liderou uma rebelião contra ele a ponto de levá-lo a fugir para o extremo norte de Israel.

Longe de Jerusalém, Davi se sente com como um animal desesperado de sede depois de fugir de seus caçadores (Sl 42.1), a sede de Davi não era causada pela saudade do palácio, ou mesmo saudade de seu filho, a sede de Davi era de Deus (Sl 42.2). Dentro do contexto do Antigo Testamento, ao estar longe do Tabernáculo Davi não poderia cultuar a Deus, se encontrar com Ele para lhe prestar culto.

Para agravar as dores do salmista havia as acusações de seus inimigos, os quais diziam constantemente: “Onde está o teu Deus?” (Sl 42.3). Esta pergunta vem envenenada com muita ironia e muito sarcasmo, era como se os inimigos dissessem: “Não é você que confia em Deus?", "Por que será que você está passando por isso?" Impropérios assim também foram ditos ao Nosso Jesus quando ele estava crucificado, os homens passavam por ele balançando a cabeça e diziam: “Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus.” (Mt 27:43). A acusação que os inimigos do Senhor faziam a Ele na cruz também era cheia de ironia e sarcasmo, os inimigos do Mestre estavam por trás dessa fala expressando que Aquele que estava na cruz não confiava em Deus de verdade, porque se confiasse não estaria daquela forma, naquela circunstancia de tamanho sofrimento.

Os mesmos que acusaram ao salmista, acusaram ao Cristo e acusam à igreja de hoje. Quando alguém fala que o irmão permanece doente porque não tem fé ou que o sofrimento na família da irmã é porque esta família não confia de verdade em Deus, não estão mais do que engrossando as fileiras dos inimigos do salmista e de Cristo, acrescentando dores aos justos que sofrem. Deus quer que este irmão enfermo e que esta irmã com problemas na família abram seus corações, se derramem, chorem, digam quais são seus medos e o que eles são obrigados a ouvir sendo crentes e passando por situações assim.

Deus recebe a adoração do coração sofredor que crê nEle, Ele entende a dor e o lamento dos seus filhos, mas pune com Sua justiça aquele que murmura, que blasfema. Deus não abandona o Seu povo, Deus está próximo do Seu povo, Deus não esquece do Seu povo.

Devemos ter diante do sofrimento a mesma postura do salmista (Sl 42.6); lembrar de Deus e esperar nEle. Mais que buscar ter alegria se lembrando de dias felizes, devemos trazer a nossa memória como o nosso Deus é grande, Ele é imutável e fiel a aliança feita com Seu povo. Só uma visão exaltada de Deus pode consolar o crente que sofre.

Devemos louvar a Deus em todas as circunstâncias, nos dias de felicidade com Salmos de júbilo, nos dias de tristeza com Salmos de lamento. Cristo na cruz teve nos seus lábio o Salmo 22.1: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, enquanto suportava o peso dos pecados de Seu povo e enfrentava severa dor. O salmista no Salmo 42 espera por ter nos lábios a canção do Senhor ao sair do oceano de lutas em que ele se afoga (Sl 42.8). Não murmure, lamente! Exponha sua dor ao Deus em que você confia.


Daniel Brito

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