"A humildade que brota do Evangelho"
Recentemente, ouvi alguém fazer uma breve advertência contra
o orgulho e sentimento de superioridade em relação às outras pessoas utilizando
o seguinte versículo:
Pois, quem torna você diferente de qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse? (1 Coríntios 4.7)
De imediato, lembrei de algumas situações nas quais a arrogância
humana se sobressai, de forma sutil ou descaradamente. Desde o princípio, a
humanidade amarga com o próprio orgulho, sedenta por autossuficiência e fazendo
a vida neste mundo uma verdadeira competição. Nos desgastamos, sofremos e
empenhamos esforço não para alcançar o que precisamos, mas para mostrar que
somos capazes, para subir um degrau a mais que o vizinho, para ir mais longe
que o colega. Queremos ter certeza de que estamos sempre em condição superior,
queremos sempre mais. Nada é o bastante se alguém a nossa volta está um passo à
frente.
Mesmo entre os cristãos, podemos perceber que a humildade
tem se tornado uma virtude pouco valorizada e buscada. Tendemos esquecer que
tudo o que temos e somos é puramente consequência da maravilhosa graça de Deus.
Aconteceu com os cristãos de Corinto, acontece comigo e com você.
Em sua primeira carta, Paulo faz uma série de advertências
aos coríntios, inclusive, em relação ao orgulho. O trecho supracitado nos faz
entender que havia divisões causadas por um senso de superioridade. No capítulo
3, vemos claramente que isso estava acontecendo pelo fato de que a igreja de
Corinto tinha sido discipulada não apenas por Paulo, mas por outros ministros
como Apolo e Cefas. Ao que parece, a maior divisão se dava entre os irmãos
instruídos por Paulo e Apolo, ambos eram cooperadores de Deus, mas acabaram se
tornando um motivo para o abandono da humildade por parte dos crentes de
Corinto.
“Sou de Paulo!”, “Sou de Apolo!”, certamente eles declaravam
vociferando o quanto eram melhores. “Sou de A!”, “Sou de B!”, “Estudei mais!”,
“Tenho mais experiência!”, gritam os homens em busca de afirmação e um pedestal
maior, mas uma voz suave proclama:
Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. (Mateus 20. 26-28)
Jesus nos ensina a humildade não só através de declarações
como esta, mas também em seu procedimento. Na conhecida passagem em
que Ele lava os pés dos discípulos, percebemos, inicialmente, que Jesus não é
compreendido por todos, mas sabe muito bem o que está fazendo. Nosso Senhor,
tão elevado, tão digno, realizando uma atividade destinada a servos, uma lição
simples e por vezes ignorada:
Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. (João 13 14-15)
A humildade que emana do evangelho consiste em seguir o
exemplo de Jesus. Tirar a capa, preparar a água, lavar e enxugar os pés, não os
próprios, mas os dos outros. Só podemos agir dessa forma quando paramos de
pensar apenas em nós mesmos. Isso não é como uma fórmula que nos deixará mais
humildes, mas é sobre entender a grandiosidade de Deus e a nossa pequenez. Tim
Keller afirma:
A essência da humildade resultante do evangelho não é pensar em mim mesmo como se fosse mais nem pensar em mim mesmo como se eu fosse menos; é pensar menos em mim mesmo. ¹
É impossível considerar um Jesus egocêntrico, porque suas
atitudes não revelam isso, pelo contrário, a cruz nos mostra claramente que
Ele, sendo Deus, humilhou-se a si mesmo. Mas Deus o exaltou à mais
alta posição, o Senhor eleva os humildes.
Portanto, busquemos a verdadeira humildade que brota do
evangelho*. Ela não gera divisões como em Corinto, mas une. Não temos nada que
não tenhamos recebido, não temos em nós mesmos motivo de orgulho. Não
precisamos parecer bons e competir o tempo todo, não precisamos mostrar que
sabemos mais. Não precisamos iniciar uma corrida sem fim rumo à autossatisfação
e não precisamos inflar até explodir em frustração.
Necessitamos, urgentemente, olhar para Jesus, ouvir suas
palavras e seguir seu exemplo. Necessitamos diminuir e entender que a graça de
Deus não olha para quem somos e o que já conquistamos, ela simplesmente nos
alcança. Assim, revistamo-nos de um coração humilde e “quem se gloriar,
glorie-se no Senhor" 2 Coríntios 10.17
Juliany Correia
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¹ KELLER, Timothy J. Ego transformado: A humildade que brota
do Evangelho e traz a verdadeira alegria. São Paulo: Vida Nova.
* Título proveniente do subtítulo do livro referenciado
Amei!🙏🏻
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