Como combater o orgulho?

20:16

Vivemos em um mundo onde somos instigadas continuamente a almejar os grandes títulos, o sucesso, o reconhecimento e a sermos promovidas. Gostamos disso! Gostamos de ser vistas e reconhecidas pelos outros, de nos sentirmos importantes, e desejamos intrinsecamente que percebam o quanto somos bem-sucedidas em tudo. É natural do ser humano ser assim, pois dentro dele existe uma essência vaidosa, um orgulho por natureza. Todos nós somos orgulhosos. Aliás, nascemos orgulhosos! A grande importância que damos a nós mesmos, aos nossos sentimentos, desejos e vontades, já é suficiente para refletirmos o quanto nos autoconsideramos, e esse muito pensar em nós mesmos nos faz presunçosas, anelantes de reconhecimento. Sendo assim, estamos sempre como que andando em um lugar escorregadio, correndo o risco de anelarmos o prestígio e a glória que pertencem a apenas um Ser que é digno: Deus. 

A Bíblia nos assevera que o Senhor Deus é o Único que merece toda honra e glória, a qual não divide com ninguém (Is 42:8). Ele é exaltado em si mesmo, possuindo toda proeminência e transcendência, estando infinitamente mais elevado que tudo o que existe, sendo ininterruptamente digno de adoração. Nunca daremos a Deus um culto o qual satisfaça toda a Sua dignidade, a terra não tem essa capacidade, “nem todo o Líbano basta para queimar, nem os seus animais, para um holocausto.” (Is 40:16).

Esse mesmo Deus veio ao mundo na pessoa de Jesus Cristo, a fim de redimir pecadores e os levarem de volta à comunhão com Ele. Jesus se encarnou e viveu como um de nós, em nosso mundo, embora sendo Deus.

“Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de  homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2:6-8)

A humilhação do Senhor absoluto, Jesus Cristo, leva seus servos a se sentirem constrangidos e a se envergonharem, pois até os seus servos não estão isentos do orgulho, antes, lutam contra ele dia a dia. Ao contrário do nosso Mestre, nós somos orgulhosas! Vangloriamo-nos até no serviço que prestamos a Ele, quando ansiamos ser reconhecidos pelos que nos veem. Às vezes percebemos nos sentindo superiores aos outros, pelo nosso conhecimento, ortodoxia, ortopraxia, habilidades, dentre tantas outras coisas. O orgulho é certamente um de nossos maiores inimigos. Ao vermos a cruz ensanguentada, com o sangue inocente sendo derramado por causa dos nossos pecados e tamanha devoção do nosso Mestre, não existe outra reação senão a de rendição e arrependimento, por não sermos o que devíamos ser. Martyn Lloyd-Jones já dizia:

"Só há uma coisa que me prostra até ao chão e me humilha até o pó: olhar para o Filho de Deus, e, em especial, contemplar a cruz. Quando contemplo a maravilhosa cruz na qual o Príncipe da Glória morreu, meu maior ganho considero como perda e desprezo todo orgulho meu! Nada mais faz com que me sinta assim. Quando vejo que sou um pecador... E que nada, exceto o Filho de Deus na cruz, pode me salvar, sou humilhado até ao pó... nada além da cruz pode nos dar este espírito de humildade."¹

Semelhantemente, John Stott afirmou que:

"Toda vez que olhamos para a cruz, Cristo parece dizer-nos: 'Estou aqui por causa de você. É o seu pecado que estou levando, a sua maldição que estou sofrendo, seu débito que estou pagando, sua morte que estou morrendo'. Nada na História, ou no universo, nos torna tão conscientes de nossa pequenez como a cruz. Todos somos grandes aos nossos próprios olhos, especialmente no que diz respeito à justiça própria, até que visitamos um lugar chamado Calvário. É lá, aos pés da cruz, que murchamos de volta ao nosso tamanho real."¹

A cruz é suficiente para minar o nosso orgulho. Ao contemplarmos o Salvador morrendo pelos nossos pecados, “murchamos de volta ao nosso tamanho real.” E quanto mais próximos de Deus nós estivermos, mais nos encontramos. A proximidade com Deus não nos traz status, vanglória ou dignidade. A proximidade com Deus nos humilha e nos faz sentir miseráveis e imundos, porque nos faz vermos o que realmente somos e diante de quem estamos. Assim como a maior proximidade da luz traz a melhor visão das coisas, a maior proximidade para com o Senhor nos traz o correto entendimento das coisas. Quanto mais próximos do Senhor nós estivermos, mais claramente veremos o que nós somos: dependentes e necessitados da Sua graça, nada além disso.

Certamente, a humildade não está em voga nos nossos dias; porém, é muito necessária aos servos de Deus e também é uma consequência, porque eles entenderam o que significa o evangelho, o que significa a graça de Deus e estão remando contra a maré do presente mundo, a fim de agradar a Deus. A vontade de Deus para as nossas vidas é que sejamos humildes, tal como o nosso Senhor, seguindo o Seu exemplo. Jesus veio ao nosso mundo e nos ensinou o que é humildade. Ele diz: “Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (Jo 13:15).

Como podemos ser humildes? Primeiramente, isso é uma obra da graça de Deus, atuante em pecadores que em rendição se submetem à Sua vontade. À parte de Deus não existe a verdadeira humildade de espírito, mas com Ele, pecadores orgulhosos podem ser transformados em servos humildes gradativamente. Graças a Ele, podemos ser o que Ele quer que sejamos, porque Ele nos proveu tudo o que seria necessário para a vida e a piedade (II Pe 1:3).

A comunhão com Ele, por meio da perseverança em oração e meditação das Sagradas Escrituras, nos proporcionará meios para conseguirmos êxito em nossa luta contra o orgulho. Precisamos nos manter sempre centradas em nosso relacionamento com Deus.

Além disso, que pensemos na graça, voltemos aos pés da cruz e lá veremos o nosso Salvador. Olhemos para a sua vida, tudo o que Ele foi durante seu ministério, como agia, como pensava e falava. Ousaríamos ser o que Ele não foi, e o que Ele não quer que sejamos? 

Olhemos para as Escrituras: Deus odeia o orgulho (Pv 8:13, 16:5). Ele não apenas odeia o orgulho, como também resiste aos orgulhosos, e os abate (I Pe 5:5, Is 23:9). Combater o orgulho é então perseguir a vontade de Deus.

Também, que apreciemos a glória de Deus. Só há um digno, só há um a quem deve ser direcionada toda a estima e honra. Como bem disse João Batista, “convém que ele cresça, e que eu diminua” (Jo 3:30). Pensemos em tudo o que Ele é, em Sua soberania e nos submetamos a ela. Quando agimos com orgulho estamos também desconsiderando a soberania de Deus, firmando nosso próprio trono, mantendo o controle e a direção das nossas vidas e buscando suficiência em nós mesmos. Voltemo-nos para o Senhor Deus, mantendo nossos olhos, segurança e satisfação somente Nele, e desviemos os olhos de nós, desviemos nossa atenção de nós para Deus.

E que tens tu que não tenhas recebido? (1 Co 4.7).

Tudo o que temos provém de Deus e tudo o que somos é obra Dele. Não temos motivos para nos orgulharmos do que temos, somos ou fazemos, quando na verdade entendemos que tudo é dádiva de outrem, do Senhor Deus.

Cabe ressaltar além dessas coisas, que uma das virtudes opostas ao orgulho é o amor. O serviço cristão em amor para com o outro é uma ótima ferramenta contra o orgulho. O Senhor já nos orientara:

“Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo.” (Fp 2:3)

Somos estimulados pela Palavra a servirmos, e ao invés de nos sentirmos superiores, tratar aos outros como se eles fossem superiores. “O amor não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece” (I Co 13:4). Se ainda nos ensoberbecemos é porque nos falta amor.

Todas essas orientações acima listadas nos servirão de grande ajuda no nosso combate contra o orgulho. Esse combate sempre existirá enquanto aqui vivermos na terra. Um dia seremos libertos, um dia nós estaremos em total conformidade com a vontade do Senhor, e é ali que estaremos livres do orgulho, estaremos diante do Senhor, o adorando incessantemente e reconhecendo que Ele, e somente Ele, é digno de todo louvor.


Thayse Fernandes
________________ 
¹ MAHANEY, C.J. Humildade verdadeira grandeza. São José dos Campos: Fiel, 2008.

6 comentários:

  1. Excelente texto! Tão pertinente em nossos dias em especial, às servas do Senhor que exercem liderança em algum ministério. Deus abençoe sua vida, querida irmã!

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    1. Olá, Olindina!

      Sou grata pelos elogios e considerações.

      Que o Senhor te abençoe!
      Abraço

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  2. Que texto excelente! Que Deus vos abençoe.

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  3. Que texto maravilhosa!Glória a Deus pela vida de vcs, sempre sou muito abençoada com os texto de vcs!

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    1. Amém, Larissa!

      Esse é nosso objetivo, que mulheres sejam edificadas no entendimento da Palavra de Deus, que molda todo o nosso entendimento e a nossa forma de agir, redundando em glórias ao Senhor.

      Que Ele continue te abençoando
      Abraço!

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