O pecado da murmuração
Lembro-me de uma
vez em que estava dando os últimos ajustes em um trabalho importante, que
deveria ser entregue no dia seguinte e, quando já estava perto de acabar, meu
computador simplesmente apagou e eu não conseguia mais ligá-lo. Apertava o
botão insistentemente, sem acreditar que aquilo estava acontecendo. Quanto mais
eu tentava e ele não ligava, mais chateada eu ia ficando. Isso foi motivo
suficiente para que eu reclamasse da vida, do mundo e de toda a engrenagem do
universo, afinal, porque aquilo foi acontecer justamente naquele momento?
Porque não apagou depois que eu tivesse terminado e salvo o trabalho no e-mail?
Questionamentos como esses eram como combustível para minha revolta e amargura
contra aquela circunstância.
Lembro-me também de
ter pedido a Deus que me ajudasse. No primeiro momento, quando o computador
desligou, eu roguei com medo: “Meu Deus, o que foi isso?”, mas na segunda vez
que me dirigi a Ele, eu já estava envenenada pela irritação que estava
brotando: “Deus, isso não está acontecendo!” Eu dizia sem conseguir acreditar,
mas o que eu realmente estava dizendo era: “Deus, porque o Senhor deixou isso
acontecer?” Mesmo que essas palavras nunca tenham saído da minha boca, no meu
coração eu estava questionando a falta de ação de Deus em me ajudar, como se
Ele tivesse obrigação em fazer isso. Depois de algumas ligações, em duas ou
três horas, o computador estava em perfeito estado e fiz os ajustes novamente.
O que percebi
depois foi que minha surpresa (revolta) não era exatamente porque aquilo estava
acontecendo, mas porque estava acontecendo comigo. Se alguém me contasse que
passou por isso, ou eu mesma visse alguém tendo que lidar com esse contratempo,
é muito provável que eu não ficaria tão aborrecida e revoltada; sentiria alguma
empatia e tentaria ajudar, mas nada igual ao que senti.
As Escrituras, como
um espelho magnífico que nos faz ver o que de outra forma não veríamos, me
mostrou que aquela expressão de aborrecimento seguida de reclamações é pecado,
e o nome que Bíblia dá a esse pecado é murmuração. A murmuração provém da
incredulidade e se expressa em amargura. Minhas reclamações eram fruto da minha
incredulidade. Eu pensava: “Deus não evitou que aquilo acontecesse e agora que
aconteceu, é provável que Ele também não me ajude, pois o computador não liga
mais, eu perdi meu trabalho”. De fato, Ele não me ajudou da forma e na hora que
eu queria, mas sua ajuda veio quando o computador foi concertado no mesmo dia,
eu terminei o trabalho e entreguei no prazo. Naquele dia, eu aprendi uma grande
lição.
O apóstolo Paulo
exortou os filipenses a evitarem a murmuração:
“Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Filipenses 2:14-15)
Eles deveriam fazer
todas as coisas sem incredulidade e amargura, e o contexto dos primeiros
cristãos era bem diferente do nosso. Eles tinham que lidar com questões como
perseguição e martírio, não simplesmente o imprevisto de uma falha em um
equipamento eletrônico, mas ainda assim, foram exortados a viverem sem
murmurar.
Vejamos alguns dos
males da murmuração:
1. Murmurar nos faz desvalorizar as
bênçãos que Deus já nos deu: Lembram
o que narra o capítulo 14 de Números? Depois de ouvir o relatório dos espiões,
o povo ficou aterrorizado com as noticias, choraram e murmuram pedindo para
voltar para o Egito. O Senhor os havia libertado da escravidão e estava
prometendo presenteá-los com uma terra fértil, mas por causa da incredulidade
(Núm. 14.11), desprezaram essas bênçãos e valorizaram a escravidão ao desejarem
retornar a terra do Egito.
2. Murmurar nos torna mau humoradas e
amargas: Perdemos a
doçura e a esperança de que as coisas podem ser mudadas, ficamos resmungonas e
insuportáveis, chegando mesmo a ser descortês com as pessoas a nossa volta.
3. Murmurar nos leva a colocar a culpa
da nossa insatisfação sempre nos outros: Seja
o que for que nos sobrevém, colocamos a culpa nas pessoas, nas circunstâncias,
na vida, no universo, e até mesmo em Deus. Temos uma imensa dificuldade em
perceber que a maior parte dos nossos problemas é responsabilidade nossa. As
pessoas podem até nos afetar nos fazendo algum mal, mas quem decide como vamos
lidar com isso somos nós, não os outros.
4. Murmurar nos deixar cada vez mais
ingratas: Em Números
11.4-9, vemos os israelitas reclamando do maná, a provisão alimentícia que o
próprio Deus lhes dava, porque desejavam comer os peixes e as cebolas do Egito.
Não estavam agradecidos porque tinham o que comer, estavam reclamando porque a
comida não era a que eles desejavam.
A murmuração é algo
sério e Deus a considera como sendo dirigida diretamente contra Ele (Núm.
14.26-29)1. Para o nosso bem, não devemos ignorar a gravidade desse
pecado. No entanto, é importante que não confundamos murmuração com lamentação.
Lamentar não é um
ato pecaminoso. Na Bíblia mesmo há um livro só de lamentos (Lamentações de
Jeremias), e vários salmos expressam lamentos, sejam comunitários (Sl 12, 44,
58, 60, 74, 79, 80, 83, 85, 89*, 90, 94, 123, 126, 129) ou individuais (Sl 3,
4, 5, 7, 9-10, 13, 14, 17, 22, 25, 26, 27*, 28, 31, 36*, 39, 40:12-17, 41,
42-43, 52*, 53, 54, 55, 56, 57, 59, 61, 64, 70, 71, 77, 86, 89*, 120, 139, 141,
142).
O lamento é a
expressão da dor de alguém que confia em Deus, que espera pelo agir d’Ele, mas
enquanto Ele não age a pessoa exprime sua dor em choro, gemidos e palavras. A
Bíblia não nos proíbe de lamentarmos, de expressar nossa dor, mas quando
começamos a duvidar do amor e da bondade de Deus para conosco, ficamos
amarguradas e começamos a reclamar, estamos murmurando.
Precisamos seguir
as instruções bíblicas para poder evitar a murmuração, e uns dos mais poderosos
antídotos contra esse pecado é a fé e a gratidão. É isso o que tenho aprendido.
A confiar no meu Deus, descansar em Sua soberania, me alegrar em Seu amor,
usufruir da bondade que se manifesta dia após dia e ser grata pela maior de
todas as bênçãos – Ele mesmo. Para nossa felicidade, não podemos
minimizar tudo o que Cristo é para nós. Se fizermos isso, os problemas mais
banais se tornarão grandes e poderosos o suficiente para nos esmagar e tornar
nosso coração incrédulo e amargo.
A nós é ordenado em
I Tessalonicenses 5.18:
“Sede gratos por todas as coisas, pois essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.”
Esforcemo-nos para
isso, e nos alegremos com as bênçãos que somente um coração grato pode
reconhecer e usufruir.
Sonaly Soares
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1Jeremiah Burroughs – A murmuração irá
te destruir.
* Há certa
dificuldade em classificar esses Salmos, porque eles poderiam se encaixar em
mais de uma categoria, por serem de tipos mistos.
Que reflexão perfeita! Obrigada.
ResponderExcluirAmém, Marcelle
ExcluirUm abraço!
Louvado seja o nome de Jesus!!
ResponderExcluirSempre!
ExcluirQue Ele te abençoe!
Louvado seja o nome o nome do Senhor Jesus.
ResponderExcluirEternamente!
ExcluirAbraço!
Como este texto tem falado ao meu coração! Deus abençoe por tudo!
ResponderExcluirAgradecemos as palavras, Karem.
ExcluirQue Ele te abençoe também!
Alguem me responde uma coisa.
ResponderExcluirse eu murmurar, no sentido literal da palavra. Ex: Meus pais foram dormir e eu murmuro pra falar com meu irmão, estou pecando?
Mas isso nos leva a ver de outra forma, e isso só nos mostra como deus e grandioso e perfeito.
Quando murmuramos? Em cultos? Na sala de aula?
Se murmuramos em cultos estamos errados, pois deviamos estar prestando atenção no pastor.
se murmuramos na sala de aula estamos errados, pois deviamos estar prestando atenção no professor.
normalmente murmuramos quando estamos fazendo algo de errado. Reflita um pouco