Quando o coração está gelado

Há períodos na vida em que nossos corações se assemelham às árvores no inverno, o rigoroso inverno do hemisfério norte. Coberta de neve, sem folhas, sem flores, sem frutos, aparentemente, sem vida. Os olhos já não choram pelos pecados cometidos, a oração é apática e irregular, não há frequência nem deleite na leitura das Escrituras e o momento de devoção particular se torna algo enfadonho e sem vigor, por isso, é substituído por várias distrações.

A Confissão de Fé de Westminster no capítulo 12, que trata da “Perseverança dos Santos”, declara acerca dos salvos no 3º parágrafo:

“Eles, porém, pelas tentações de Satanás e do mundo, pela força da corrupção neles restante e pela negligência dos meios de preservação, podem cair em graves pecados e por algum tempo continuar neles; incorrem assim no desagrado de Deus, entristecem o seu Santo Espírito e de algum modo vêm a ser privados das suas graças e confortos; têm os seus corações endurecidos e as suas consciências feridas; prejudicam e escandalizam os outros e atraem sobre si juízos temporais.”

Essa condição de esfriamento espiritual se origina em nossa natureza pecaminosa que insiste na prática de algum pecado específico ou mesmo o pecado da negligência na disciplina dos afazeres santos, que são os meios de graça, ordenados para nossa edificação, mas quando desprezados por longos períodos resulta, inevitavelmente, no esgotamento do vigor espiritual, considerando que a alma interrompe o contato com a sua Fonte de vida.

E, sendo assim, o coração fica endurecido pelo fortalecimento da carne causando tristeza ao Espírito que pode nos privar, temporariamente, de alguns consolos, pois Deus retira parcialmente a luz do seu rosto e permite que andemos em trevas, e embora não caiamos definitivamente do estado de graça, o Senhor usa a vara da Sua correção para nos corrigir e restaurar.

Um coração gelado tem grandes dificuldades em ter prazer em Deus e nas coisas que agradam a Deus, por isso que é tão difícil orar nesses períodos de esfriamento. Até tentamos nos enganar dando desculpas a nossa consciência de que não vamos orar em determinado momento porque estamos muito cansadas ou por qualquer outro motivo, mas sabemos que a razão não é essa. Não oramos porque não queremos, não temos vontade de falar com Deus, de estar à sós com Ele.

Isso deveria nos levar a chorar copiosamente, cheias de arrependimento e clamando sinceramente por perdão, porque fomos criadas para amar e nos deleitar em Deus, e se não estamos, algo está muito errado conosco.

Às vezes estamos tão ocupadas, com tantas atividades que esquecemos de inquirir nossos corações sobre seu estado, sobre sua relação com Deus e quando somos alertadas a situação já está bem grave, porque baixamos a guarda, em algum momento deixamos de vigiar e fomos vencidas pela carne, pelo pecado, pelo diabo.

No entanto, nesses momentos de tantas fraquezas devemos nos lembrar de que estamos em uma relação pactual com um Senhor extremamente bondoso, por isso, nossas fraquezas devem nos levar até Ele, porque Jesus Cristo ama os fracos e os que nada são.

O Senhor quer aquecer nossos corações e nos encher de vigor espiritual para vencermos a carne, o mundo e Satanás, e nos deleitar n’Ele. Mas precisamos correr para Ele, quebrantadas e arrependidas. Alguém, porém, pode dizer que não consegue, porque não sente vontade, no entanto, vá sem vontade mesmo, não seja escrava do que você sente, mas seja guiada pelo que você sabe sobre Deus e a Sua vontade.

Exerça sua fé e se agarre às promessas bíblicas de uma vida frutífera e abundante na presença de Deus, da ação poderosa do Espírito que nos ajuda em nossas fraquezas, da mediação do Senhor Jesus advogando em nossa causa e do consolo do Pai.

Seja disciplinada e não troque o momento da oração particular por nada. Insista, busque, vença a tentação das distrações e da preguiça. Nada é mais urgente e importante do que estar com Deus.

Sonaly Soares