Aprendendo com salmos
O livro de salmos tem sido um alicerce na devoção cristã durante vários séculos. Ele foi o hinário que Israel utilizou em sua adoração pública a Deus, esteve presente na vida dos primeiros cristãos (Cl 3:16, I Co 14:26) e foi o livro mais citado por Jesus em seu ministério, além de ser utilizado e reutilizado em toda a história eclesiástica por vários homens e mulheres que amaram ao Senhor em contextos, épocas e culturas diferentes.
“No Israel antigo, a poesia era amplamente apreciada como meio de aprendizagem. Muitas coisas que eram suficientemente importantes para serem lembradas eram consideradas apropriadas para a composição na forma poética.”¹
Logo, eles foram escritos para serem memorizados, além de
cantados, seja individual ou coletivamente.
Sem dúvidas, salmos é um livros mais amados pela Igreja (e
por nós), pois suas palavras não apenas instruem a nossa mente, mas penetram em
nossos corações, sendo esta uma característica da poesia e da música. Como
disse John Piper², os salmos tocam em muitas emoções, além de permitirem que
sempre encontremos a nós mesmos neles, independente de como nos encontramos.
“Toda situação da vida está representada no livro de Salmos.
Os salmos preveem cada condição espiritual, social e emocional possível e o
treinam para elas - mostram quais são os perigos, o que você deve ter sempre em
mente, qual deve ser sua atitude, como conversar com Deus sobre o assunto e
como obter dele a ajuda necessária.”²
No livro de salmos encontramos diversas orações a partir das
próprias experiências dos salmistas, que em sinceridade expunham para o Senhor
tudo o que estavam sentindo. Com isso, destacamos algo que podemos aprender:
Aprendemos com salmos
a sermos sempre sinceras diante de Deus
É isso o que os salmistas faziam, sem mascarar ou diminuir
qualquer palavra do que queriam dizer, expressavam suas emoções ao Senhor.
Podemos até nos assustar com alguns salmos, principalmente os chamados
imprecatórios, por vermos a tamanha sinceridade dos salmistas em desejarem que
Deus tomasse vingança sobre seus inimigos. Eles estavam sendo antes de tudo,
sinceros, e quando paramos pra refletir, não existe nada que possamos dizer ao
Senhor que O assuste ou que faça Ele saber algo que já não sabia antes. O salmo
139 inicia descrevendo a onisciência do Senhor: Ele nos sonda e nos conhece,
examina todos os nossos caminhos e sabe de tudo o que vamos dizer sem que haja
qualquer palavra em nossa língua. Então, por que tememos entregar nossas
orações com tudo o que estamos pensando ou sentindo a alguém que sabe tudo a
nosso respeito? Aprendamos com os salmistas a expressarmos nossas emoções a Ele
em sinceridade.
“Derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio.” (Sl 62:8)
Aprendemos com salmos
sobre quem Deus é
Encontramos a riqueza da descrição dos atributos de Deus nas
muitas orações do saltério. É mais do que um livro sobre experiências humanas,
salmos é um livro sobre Deus.
“Os salmos também nos ajudam a enxergar Deus - não como queremos ou esperamos que ele seja, mas como ele de fato se revela. A riqueza das descrições de Deus no Saltério ultrapassa a inventividade humana.”³
Contemplamos o poder, majestade e soberania do Senhor (Sl
62:11, 93:1, 115:3), a sua eternidade e imutabilidade (Sl 90:1-2, 102:27), o
seu amor que dura para sempre (Sl 118:1,136:1), a sua misericórdia que não nos
trata conforme merecemos (Sl 103:8-14), a sua justiça que nunca falha (Sl
7:6-11), dentre tantos outros atributos neste precioso livro.
Para nos aproximarmos de Deus é preciso sabermos quem Ele é.
Os salmistas enriqueciam suas orações sobre o ser de Deus, centralizando-as
Nele. Que prossigamos em conhecer ao Senhor por meio de sua palavra revelada e
centralizemos Ele em nossas orações, pois Ele é totalmente digno e
incomparável!
“Ninguém, entre os deuses, é como tu, ó SENHOR, e nada existe que se compare às tuas obras.” (Sl 86:8)
Aprendemos com salmos
a buscar ao Senhor incircunstancialmente
Não importava o que estavam vivendo, os salmistas também
recorriam ao Senhor em toda e qualquer situação. Em tempos difíceis eles
buscavam ao Senhor, expondo para Ele a tristeza ou desesperança que havia em
seus corações; mas em tempos bons também O buscavam, declarando para Ele o
quanto estavam alegres ou agradecidos por algum livramento, ou por simplesmente
adorá-Lo. Em tempos de perigo descreviam o medo que tinham ou a confiança que
estavam nutrindo Nele, o ódio que seus inimigos lhe causavam ou a solidão que
sentiam. Em tempos de fraqueza espiritual, rogavam em arrependimento e
contrição pelo favor do Senhor. Enfim... seja qual fosse a situação, eles
oravam.
Que não sejam as circunstâncias que moldem a intensidade da
nossa busca a Deus, mas que a intensidade dessa busca permita que nossos corações
sejam moldados e preparados para qualquer uma das circunstâncias que vivermos.
Busquemos ao Senhor em todo tempo.
“Louvarei o Senhor em todo o tempo; meus lábios sempre o louvarão.” (Sl 34:1)
Aprendemos com salmos
a adorar
Os salmos foram compostos para adoração! Eles são frutos da
devoção em amor ao Senhor. Infelizmente, muitas de nossas orações são
egocêntricas e gananciosas - centralizamos apenas em nós mesmos, em nossos
desejos e necessidades. Precisamos a cada dia nos lembrar que toda a nossa vida
deve ser pautada por adoração e que nossas orações devem glorificar a Deus, não
a nós.
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome seja toda a glória, por teu amor e por tua fidelidade.” (Sl 115:1)
Que oremos os salmos! Criemos esse hábito de colocar os
salmos em nossas orações ou de colocar nossas orações neles. Lutero afirmou
que:
"Quem, no
entanto, começou a orar o Saltério com seriedade e regularidade, logo
dispensará as próprias orações superficiais e piedosas dizendo: 'Elas não tem o
sabor, a força, a paixão e o fogo que encontro no Saltério.'"4
Particularmente, amo o livro de salmos e estou regozijada em
ter me comprometido em ler este precioso livro neste ano de 2019. Tem sido uma
experiência incrível! Adotei como método de leitura um livro devocional, que
inclusive já foi citada neste texto, de Timothy Keller. Te incentivo também a
ler e a amar o livro de salmos, pois encontrarás a ti mesma e a Deus nele. Que
a glória do Senhor seja refletida em nossas orações, com sinceridade,
conhecimento, busca incircunstancial e adoração. Concluo com mais uma citação
de Keller:
“Não nos limitamos a ler os salmos; devemos mergulhar neles de modo que moldem profundamente a forma de nos relacionarmos com Deus. Eles são o modo divinamente ordenado de aprender a devoção a nosso Deus.”³
Que o Senhor nos dê essa graça! Deus as abençoe em Cristo!
Thayse Fernandes
¹ FEE,
Gordon D., STUART, Douglas. Entendes o que lês? um guia
para entender a bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. São Paulo:
Vida Nova, 2011
³ KELLER, Tim. KELLER, Kathy. Os cânticos de Jesus: um
ano de devocionais diários nos salmos. São Paulo: Vida Nova, 2017
4 Citado por Dietrich Bonhoeffer em seu
livro: Orando com os Salmos.
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