Nunca foi sobre nós: temor e exultação na beleza de Deus



Se fizéssemos uma análise dos textos mais utilizados para falar a mulheres, com certeza Provérbios 31 lideraria o ranking. A mulher descrita em Provérbios inegavelmente apresenta qualidades excelentes. Proveniente dos dizeres ensinados por sua mãe, o retrato feito pelo escritor deixa bem claro o sucesso de uma mulher, esposa e mãe cujas qualidades sobrepujavam qualquer falha. Esta descrição é um acróstico de versículos a respeito da excelência feminina, sendo um verso para cada letra do alfabeto hebraico. Claramente, estamos diante de um modelo de mulher notável em produtividade, em seus relacionamentos, nos cuidados com o lar e em diversos outros aspectos. Entretanto, além de todas essas lições, Provérbios 31 nos fala sobre Deus.

Jen Wilkin, em seu livro “Incomparável”, destaca que muitas vezes nossa ideia de mulher “temente a Deus” se baseia em um estereótipo de piedade. Assim, é possível que muitas mulheres tenham uma compreensão apenas da superfície do versículo 30, que afirma:

A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada. Pv. 31.30

Percebemos que o louvor que esta mulher recebe não é somente pelas suas excelentes obras ou beleza, mas principalmente porque ela é temente a Deus, fato evidenciado em suas ações. Não podemos entender que o valor de uma mulher está na lista de coisas que ela consegue dar conta ou no quanto ela é reconhecida por aquilo que faz. Antes, atentemos para o real sentido da mulher louvável que nos é posta como exemplo: ela teme ao Senhor.

O temor do Senhor não deve ser confundido com algum tipo de medo ou pavor, mas está relacionado à reverência e santo temor.

“O temor do Senhor compreende o fato de que o Pai que fomos ensinados a chamar de ‘nosso’, é também o Senhor do universo, entronizado entre os querubins, fazendo o que lhe apraz entre as nações.” ¹

O livro de Provérbios também nos traz uma preciosa verdade sobre o temor a Deus:

  “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.” Pv 9.10

Nosso coração deve ter como princípio esse temor, reconhecendo reverentemente a majestade do Deus incomparável a quem servimos. Quando entendemos de fato quem Deus é, compreendemos outras coisas importantes: não somos deuses. Você não é Deus. Eu não sou Deus. A pessoa que você mais admira e se inspira não é Deus. Há um abismo enorme entre quem Deus é e quem nós somos. A imagem de Deus em nós possibilita que ele compartilhe conosco alguns de seus atributos, isto é, há características que são verdadeiras para Deus e que também podem ser verdadeiras para nós, a exemplo de sua santidade, bondade, justiça e fidelidade. Porém, há atributos que apenas pertencem a Ele.

Joshua Harris faz um convite para que contemplemos tais atributos da forma correta, com o devido temor em nosso coração. Magnificamos a Deus quando paramos de tentar enxergá-lo através de um microscópio – que torna maior aquilo que é minúsculo. Ao invés disso, devemos estudar Seus atributos como quem estuda os astros através de um telescópio. As lentes desse instrumento nos mostram como algo é muito maior do que se imaginava a priori. Há algo muito especial nessa comparação, porque por mais que a imagem vista de um telescópio nos maravilhe, ela não chega nem perto da real grandiosidade do que está sendo observado. Assim é com o nosso Deus. Não é como dissecar um sapo em laboratório, não é algo seco e sem vida. Você pode contemplá-lo como uma criança aprecia o céu estrelado, ou como acrescenta Joshua:

“Você pode estudá-lo da forma como você estuda o pôr-do-sol, que o deixa sem palavras. Você pode estudá-lo da forma como um homem estuda a esposa que ele apaixonadamente ama. Alguém o culpa por notar cada detalhe? Ele é insensível se deseja conhecer os desejos e os anelos do coração dela ou quer ouvi-la falar?” ²

Quando penso no Alto e Sublime Deus, lembro-me das palavras do salmista:

Quem é como o Senhor, o nosso Deus, que reina em seu trono nas alturas,mas se inclina para contemplar o que acontece nos céus e na terra? Sl 113.5-6

O Deus que não se pode comparar, soberano e elevado, se inclina para contemplar o que acontece no céu e na terra. O Maravilhoso e Elevado Senhor segura em nossas mãos. Ele não pode ser medido, mas nós somos totalmente mensuráveis, limitadas em todas as coisas. O Senhor não pode ser conhecido por completo, mas o que conhecemos sobre Ele muda completamente o que pensamos sobre nós mesmas e sobre tudo ao nosso redor.

Deus existe por si mesmo, sem origem e independente de qualquer coisa. Nós somos dependentes, derivadas. Ele é criador que não precisa de matéria prima, nós, que frequentemente retornamos ao quadro já pintado em busca de inspiração, sempre (re)produzimos. Ele é autossuficiente, mas nós somos sempre necessitadas. Ele é eterno, mas nós somos apenas um sopro com os dias contados.

Nosso Senhor é o único que nunca muda, mas nós somos mutáveis e inconstantes. Ele é onipresente, está em todas as coisas e ao redor delas, mas não é igual a elas. Por todos os lados encontramos sua mão, mas a nossa presença se limita a um só lugar. Onde estamos nós além do hoje, aqui e agora?

Deus sabe de todas as coisas, mas nós – que nos orgulhamos do “tanto” conhecer - sabemos tão pouco. Deus pode todas as coisas, mas a onipotência humana simplesmente não existe. O Senhor é soberano. Tem capacidade e autoridade de agir, tem tudo sob perfeito controle. Mas nós nunca temos o controle de tudo o tempo todo - nem nas situações mais simples.

Claramente, há muitas maneiras em que Deus é diferente de nós, e temê-lo nos fará exultar tanto nestas distinções quanto nas características que Ele compartilha conosco. O reconhecimento e reverência a Sua grandeza nos leva a conhecê-lo melhor. Por sua vez, esse conhecimento faz-nos entender que não podemos ser aquilo que somente Ele é, e não podemos exigir que os outros também sejam. Contemplar a Sua majestade é como olhar para o céu e se sentir tão minúsculo, mas, ao mesmo tempo, tão agradecido por poder contemplar tamanha infinitude.

A mulher de provérbios 31 tem muito a nos dizer sobre sua beleza, sucesso, valor e excelente proceder, mas o principal é que ela nos diz muito sobre o seu Senhor, sobre aquele que é entronizado em sua vida e a quem ela teme. Não esqueçamos de um detalhe tão importante.


Juliany Correia
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¹WILKIN, Jen. Incomparável: 10 maneiras em que Deus é diferente de nós (e por que isso é algo bom). São José dos Campos, SP: Fiel, 2017.
²HARRIS, Joshua. Cave mais fundo: o que você acredita? Por que isso importa? São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2011.


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