O doce fruto do Espírito


Das três Pessoas benditas da Trindade, o Espírito Santo é a que aplica a redenção nos eleitos. Após a exaltação do Senhor Jesus, quando retornou ao céu e assentou à direita do Pai, rogou-Lhe que enviasse o Espírito Santo, o que Ele havia prometido quando ainda estava com os apóstolos (João 14.16). E assim aconteceu, o Santo Espírito veio e passou a habitar na igreja. E hoje, Ele continua a nos habitar, onde quer que haja um “nascido de novo”, ali está o Espírito dentro dele. Essa Pessoa divina e bendita tem operado uma grande obra dentro de nós.

Em nossos tempos parece que a tendência tem sido esquecê-lo ou valorizá-lo como um poder abstrato que faz as pessoas apresentarem um comportamento marcado por excessos. Para nosso próprio bem, é bom evitarmos essas duas direções. O Espírito Santo é uma Pessoa Divina e é digno, assim como o Pai e o Filho, do nosso amor e obediência.

Entre as muitas ações que fazem parte da Sua obra, podemos citar algumas:

Ele dá vida (João 3.6, 7);
Ele dá poder (Atos 1.8);
Ele santifica (II Tessalonicenses 2.13);
Ele ensina e ilumina (I Coríntios 2.12);
Ele dá segurança (Romanos 8.16);
Ele unifica (Efésios 4.3).

Jonathan Edwards escreveu que o Espírito é

“a soma das bênçãos que Cristo buscou, pelo que fez e sofreu na obra da redenção”1

O Espírito Santo também concede dons à igreja, além de produzir Seu fruto em nosso interior, assim, o fruto é justamente a evidência de que alguém “anda pelo Espírito”. Na carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo fala sobre o fruto do Espírito colocando-o em direta oposição com as obras da carne, e, incentiva os gálatas a “andar pelo Espírito” para não satisfazer os desejos da carne e assim ter o fruto do Espírito. Pensemos um pouco sobre o que é produzido por esses dois “sistemas operacionais opostos” que atuam continuamente dentro de nós:

As obras da carne
A palavra que foi traduzida para nós como “carne” é o termo grego sarx. Quando essa palavra, nas páginas do Novo Testamento, é usada fazendo contraste ao Espírito, ela se refere a nossa velha natureza que anseia pelo pecado, não ao nosso corpo físico. No versículo 17 do capítulo 5 de Gálatas, Paulo diz que há uma guerra entre o Espírito e a carne que afeta diretamente nossos desejos.

Nos é apresentada uma lista daquilo que a carne (natureza caída) produz em Gálatas 5.19-21. Numa tentativa de classificá-las, é possível apresentá-las em 4 seções:

Sexualidade: Imoralidade sexual, impureza e libertinagem.
Religião: Idolatria e feitiçaria.
Relacionamentos: ódio, discórdias, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja.
Individual: Embriaguez e glutonarias.

Perceba nessa relação de obras produzidas pela carne, que a mesma natureza que é imoral (pecados sexuais), também é religiosa (religiões falsas), que destrói seu próximo (por meio de relacionamentos marcados por ódio e etc...), também destrói a si mesmo (com o abuso de bebidas e comidas).

O fruto do Espírito
Em contraste a toda essa perversidade produzida por nossa natureza caída, está a lista de nove virtudes, as quais, Paulo chama de “o fruto do Espírito”. Isto é, as nove virtudes juntas constituem o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5:22,23)

Isso indica que no coração em que o Espírito está produzindo Seu fruto, as nove virtudes devem estar presentes, não apenas uma ou duas, mas as nove. É claro que não estarão em plenitude e perfeição, mas em crescimento e progresso, ainda que em algum momento não possam ser vistas, como escreveu Timothy Keller:

“...o crescimento cristão é gradual, tanto quanto o crescimento de um nabo ou de uma batata. Ninguém consegue ver o crescimento botânico – só se pode medi-lo depois de algum tempo. O fruto do Espírito pode estar se desenvolvendo na vida de um cristão sem que ele se dê conta disso, até que um problema ou dificuldade apareçam e ele pense: ‘Alguns anos atrás, eu jamais seria tão paciente ou teria tanto autocontrole para enfrentar essa situação.’ Isso mostra que o fruto do Espírito estava crescendo o tempo todo, pouco a pouco, sem ser notado.”2 

Também é importante destacar que apenas aqueles que foram regenerados, que estão selados com o Espírito Santo é que podem ter esse fruto sendo produzido em seus corações. Talvez conheçamos alguém que não é cristão, mas é bastante paciente e podemos pensar que ele tem o fruto do Espírito, mas não tem, isso se deve ao temperamento natural da pessoa e não à obra sobrenatural do Espírito. Para a paciência dessa pessoa ser entendida como o fruto do Espírito, deveria ter junto com a paciência as outras oito virtudes, pois o fruto é constituído pelas nove características. Assim como o gomo de uma laranja não é uma laranja, essas virtudes isoladas não podem ser consideradas como o autêntico fruto produzido pelo Espírito Santo.

Devemos lembrar também, que um fruto é gerado por algo que tem vida, a árvore/planta. Assim também ocorre com o fruto que Paulo está tratando, ele é gerado pelo Espírito Santo, o mesmo que gera vida espiritual em nosso interior. Logo, aqueles que não têm o Espírito Santo de Deus, e, portanto, não nasceram de novo, estão mortos, não têm vida espiritual e, desta forma, não podem ter esse bendito fruto.

Examinemos cada uma das virtudes que compõe tão doce fruto. Eu gosto do modo como Timothy Keller aborda, falando o que é, o seu oposto e a imitação falsa dessas virtudes:

1. Agape = amor. Significa servir uma pessoa para o bem dela e por seu valor intrínseco, não pelo que ela pode nos proporcionar. Seu oposto é o medo: autoproteção e abusar das pessoas. Sua falsificação (imitação falsa) é o afeto egoísta, em que você é atraído por alguém e o trata bem devido ao modo como essa pessoa faz você se sentir acerca de si mesmo.

2. Chara = alegria, o deleite em Deus pela pura beleza e valor de quem ele é. Seu oposto é a desesperança ou o desespero, e sua falsificação, o entusiasmo baseado na experiência de bênçãos, não do Abençoador, provocando oscilações de humor conforme as circunstâncias.

3. Irene = paz, significando a confiança e o descanso na sabedoria e no controle de Deus, em vez de em nós próprios. Substitui a ansiedade e a preocupação. A versão falsa da paz é a indiferença, a apatia e a falta de interesse.

4. Makrothumia = paciência, a capacidade de enfrentar problemas sem perder a cabeça ou partir para o ataque a torto e a direito. Seu oposto é o ressentimento contra Deus e contra os outros. Sua falsificação são o cinismo e a falta de cuidado:”Isso é pequeno demais para eu me importar”.

5. Chrestotes = benignidade, a capacidade de servir ao próximo de maneira prática e de modo a me tornar sensível, proveniente de uma profunda segurança interior. Seu oposto é a inveja, que me torna incapaz de me regozijar na alegria alheia. E sua alternativa falsificada são as boas obras manipuladoras, ao fazer o bem ao próximo de modo que possa me gloriar e sentir que sou “bom o bastante” para os outros ou para Deus.

6. Agathosune = bondade, integridade; ser a mesma pessoa em qualquer situação, em vez de um impostor ou hipócrita. Não é o mesmo que ser sempre verdadeiro, mas nem sempre amoroso, livrar-se do peso no peito apenas para se sentir ou parecer melhor.

7. Pitis = fidelidade, lealdade, coragem, ser plenamente confiável e fiel à própria palavra. Seu oposto é ser oportunista, amigo só nos bons momentos. Sua falsificação é ser amoroso, mas não verdadeiro, de modo que você nunca está disposto ao confronto ou ao desafio.

8. Prautas = amabilidade, humildade, abnegação. O oposto é ser superior ou voltado para o próprio interior. Humildade não é o mesmo que inferioridade.

9. Egkrateia = domínio próprio, a capacidade de colocar o importante acima do urgente, em vez de ser sempre impulsivo ou descontrolado. A falsificação levemente surpreendente é a força de vontade baseada no orgulho, a necessidade de sentir no controle.2

Essas nove graças são evidências fidedignas da presença do Espírito em nós, pois:

“O Espírito de Deus nunca habita em alguém sem também fazer dele um jardim de frutos espirituais.”3

A esta altura, talvez você esteja preocupada tentando se examinar no intuito de encontrar tais evidências nesse momento de sua vida. Entretanto, elas não serão vistas enquanto você está sozinha e tranquila no seu quarto, mas na convivência comum com outras pessoas, elas se manifestarão mais claramente no dia a dia. Então, você pode tentar lembrar como seu coração tem respondido quando é aquecido pelas circunstâncias. Perceba que essas graças não estão restritas a meros atos externos, como ser educada ou gentil, mas aquilo que é produzido no centro do nosso ser. O foco, a princípio, é no que estamos nos tornando e não no que fazemos, pois o que fazemos deve ser a consequência natural do que está dentro de nós.

É possível também, que devido a nossa falta de diligência na comunhão com Deus, que leva ao enfraquecimento da nossa vida espiritual e fortalecimento da natureza pecaminosa, cresçam ervas daninhas do pecado em nosso jardim, prejudicando sua frutificação temporariamente. Se assim estiver acontecendo conosco, precisamos fazer o que Paulo orientou os gálatas a fazer:

“Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” (Gálatas 5:24,25)

Ao falar sobre crucificar a carne, ele está se referindo a mortificação dos desejos pecaminosos da nossa natureza caída. É o enfraquecimento do poder de atração que tais desejos têm sobre nós, até chegar ao esvaziamento deles.

“Andemos também pelo Espírito”, significa Ser guiado por Ele. Ter nossos desejos alinhados ao d’Ele, para isso, é preciso contato permanente com Ele, comunhão estreita e amorosa.

Precisamos nos arrepender e buscarmos nosso amado Jardineiro Celestial.


Sonaly Soares
_____________
1Jonathan Edwards - Apocalyptic Writings (The Works of Jonathan Edwards Series, Volume 5)
2Timothy Keller – Gálatas para você
3Scott Hubbard - How to Recognize the Holy Spirit - Nine tests for spiritual fruit (Disponível em desiringgod.org)

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