Orações: Segundo quem Deus é, Ele responderá


O profeta Daniel era uma figura de destaque na Babilônia, havia chegado ali na sua juventude e por longas décadas serviu aos reis caldeus, os quais haviam escravizado sua nação, destruído o templo de Jerusalém e desterrado a maior parte dos sobreviventes às distantes terras do norte, o povo estava humilhado e por setenta anos serviu de escárnio ao mundo da época, essa calamidade é descrita em ricos detalhes e com muita emoção no livro “Lamentações de Jeremias”.

A grande Babilônia, que escravizou Judá e vários outros povos, agora havia sido vencida por uma coalizão de reinos que assumiu o posto de primeira potência da época, o império medo-persa, com essa ascensão os medos-persas tomaram para si todas as terras dos caldeus e toda sua estrutura administrativa, dentre essas terras estava Judá e dentro de toda essa estrutura estava, desde jovem, o profeta Daniel.

Setenta anos já haviam se passado desde o início do cativeiro, Daniel já não era o jovem forte que havia chegado ali, agora ele era um ancião em avançada idade, o mundo havia mudado, as potências imperiais já não eram mais as mesmas, tudo em volta dele estava diferente, mas a fé do profeta permanecia inabalável, sua confiança na Palavra de Deus, seu amor por seu povo e por sua terra continuava em seu coração, sobretudo, a fidelidade do Senhor à Sua Palavra permanece e irá mostrar-se mais uma vez gloriosa.

A oração que Daniel fez ao ler o texto do profeta Jeremias (Provavelmente Jr. 25.11 ou Jr. 29.10), foi uma oração na qual ele pediu a Deus por si e por todo o povo de Judá (9.20), isso é o que podemos chamar de oração intercessora, esta que o fiel clama ao Senhor não só por si, mas também por outros. O pedido do profeta se dá após um longo reconhecimento dos pecados do povo (v.5-15), ele pede que Deus aparte a Sua ira de Jerusalém (v.16), que resplandeça a luz do Seu rosto sobre a cidade (v.17), ele pede isso confiando na misericórdia do Senhor, não na justiça do povo, pois eles não tinham nenhuma (v.18).

Cumpre dizer que não há entre nós, pecadores, uma oração intercessora aceita por Deus sem que essa apresente o nosso estado caído ou sem um reconhecimento implícito desse estado da parte de quem ora, não podemos nos apresentar a Deus para interceder por outros como se nós mesmos não tivéssemos culpa diante desse mesmo Deus, podemos ver esse reconhecimento de pecado de quem faz uma intercessão por outros também aqui, nessa oração, Daniel confessou também o seu pecado (v.20). Assim como o sacerdote fazia expiação pelos seus pecados antes de interceder pelos do povo fazendo sacrifícios por eles, o profeta aqui ora pelos seus também ao orar pelos do povo.

De fato, só Cristo é o profeta e sacerdote que pode interceder por outros sem reconhecimento prévio ou implícito de qualquer delito próprio, pois Ele não tem nenhum, em 1 João Ele é chamado de nosso advogado, nosso intercessor junto ao Pai, diferente de nós, Ele tem justiça em si mesmo, e não tem pecados a reconhecer diante do Pai, Ele é Jesus Cristo, o Justo (1Jo 2.1). A oração do profeta Daniel no capítulo nono de seu livro foi recebida pelo Senhor e prontamente respondida, ela foi registrada a nós como um exemplo de oração com a qual podemos aprender a orar uns pelos outros.

Em primeiro lugar vejamos onde toda e qualquer oração recebida por Deus nasce. Ela se inicia no próprio Senhor através do impulso que nos leva a orar. Quando oramos somos impulsionados a isso pelo próprio Deus, esse impulso não vem de homens caídos, ele vem do próprio Senhor, ele é comunicado a nós pela Escritura e distribuído de acordo com a providência dEle. Como Deus aceitaria aquilo que vem do pecador se isso antes não viesse dEle mesmo? Como um Deus Santo iria se deleitar em satisfazer o pedido de uma criatura mergulhada em pecado se esse pedido não fosse impulsionado e conduzido pelo Santo Espírito? Ora, se fôssemos orar ao Senhor sem esse impulso vindo dEle, com as motivações de nossos próprios corações, iríamos orar para nos esbanjar em nossos prazeres carnais, e isso é claramente reprovado (Tg 4.3).

Vejamos como isso se apresenta em Daniel 9: O que levou o profeta Daniel a orar aqui foi ele ter entendido à luz da Escritura que o cativeiro estava para ter um fim, o impulso de que estamos falando veio da parte do Senhor por meio de Sua Palavra, a providência do Senhor distribuiu as circunstâncias de tal modo que o profeta Daniel leu Jeremias e compreendeu que os setenta anos de cativeiro profetizados estavam a se cumprir (9.2) no primeiro ano do rei Dario (9.1), rei medo-persa, rei do povo que iria promover o regresso de Judá à sua terra, assim, movido pelas Escrituras e dentro das circunstâncias que Deus distribuiu ele faz essa oração. Esse impulso das Escrituras veio com tamanha força sobre o profeta que o levou a uma extrema devoção, ele orou com jejuns e com panos de saco e cinza (9.3), símbolos de humilhação e quebrantamento:

“Voltei o rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com pano de saco e cinza”

Vamos agora refletir sobre onde as orações impulsionadas pelo Senhor repousam, isto é, em quem Ele é e o que Ele faz. Podemos não saber quais serão as respostas às nossas orações, mas sabemos quem o Senhor é e que segundo aquilo que Ele é, Ele nos responderá. Não O conhecemos completamente, é bem verdade, mas podemos conhecer aquilo que de Si Ele revelou, o puritano congregacional William Ames escreveu que:

“Deus permitiu que Moisés O visse de costas e não de frente porque podemos conhecer a Deus, mas não completamente”.1   

Como a oração de Dn 9 repousa naquilo que Deus é? A oração apresenta o Senhor como Fiel a Sua Aliança (v.4), como Justo (v.7) e Misericordioso (v.9), e, segundo esses atributos, Deus respondeu sua oração. E respondeu prontamente (v. 23), anunciando a obra de um Ungido (termo hebraico Messias e em grego Cristo), que viria para fazer expiação pelos pecados (v.24). É nesse Ungido que resplandece com toda glória os atributos do Pai: Seu Filho, se a fidelidade do Senhor se mostra gloriosa ela demonstra sua glória aqui - no Filho. A obra do Filho é a resposta que Deus envia a Daniel, o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é a resposta mais tremenda, exaltada e gloriosa que Deus nos dá.

Isso não te encoraja a uma vida inteira de orações persistentes? Saber que o Senhor nos ouve e responde segundo Sua natureza perfeita não é motivo mais que suficiente para orarmos sem cessar? Deus é Justo, Santo, Bondoso, Sábio... Então todas as Suas respostas as nossas orações serão justas, santas, bondosas, sábias...

Quando estiver orando, lembre de quem Deus é, pense nos atributos de Sua natureza, não há duvidas de que isso nos encherá de esperança e fortalecerá nossa fé e amor ao Rei Majestoso que ouve atentamente nossas orações e responde segundo quem Ele é.

Daniel Brito
______________
1William Ames – The Marrow of sacred divinity

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.