Habacuque no Sítio do Pica-pau amarelo
No livro Reforma da Natureza, de Monteiro Lobato, a boneca
Emília decide corrigir o que para ela eram erros no mundo. Dona Benta havia
sido chamada para as conferências de paz que aconteceram na Europa após a
Segunda Guerra Mundial e levou os demais membros do sítio com ela, deixando a
bonequinha. Para Emília, o mundo não tinha sentido, ela tinha uma postura
niilista, não entendia a razão de existirem pernilongos e moscas, o motivo de a
centopeia ter tantos pés e a minhoca nenhum. E por aí vai, nada tem sentido,
então, ela decide mudar o mundo ao estilo “Alice no país das maravilhas”, fazendo
os devidos ajustes. Uma das mudanças mais curiosas é que agora as vacas têm
torneirinhas para facilitar a saída do leite. Quando Dona Benta voltou,
repreendeu Emília explicando-a que as coisas no mundo têm um lugar porque a
Natureza as colocou ali, tudo feito vem do simples acaso. Ela expressa sua
crença no Naturalismo filosófico, o problema era que aquela bonequinha era
desobediente e continuou querendo reformar a natureza.
Habacuque e Emília acreditavam que as coisas seriam melhores
se fossem como eles queriam. O profeta
não via sentido no mundo da sua época; o povo estava corrompido e para ele Deus
já devia ter feito alguma coisa, para ele Deus não estava fazendo nada. O
Senhor revela Sua resposta a esses questionamentos: Ele enviará o terrível exército
da Babilônia para corrigir Israel. O profeta fica perplexo, pois o exército
babilônico era monstruoso, para Habacuque eles eram um povo pior do que Israel,
ele queria que Deus agisse, mas não dessa forma. Ele agora busca afastar esse
tipo de intervenção divina, então muda o tom e o foco de sua queixa, também a
forma como se refere a Israel e demonstra uma atitude mais paciente.
“Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” (Habacuque 1.13)
A isso Deus responde que trará a Babilônia para corrigir
Israel, mas os que tiverem fé serão declarados justos e sobreviverão.
Justificação é o ato de Deus declarar que o pecador agora é justo por conta da
fé nEle. A ideia central em Habacuque, é que os justificados pela fé viverão,
já os ímpios enfrentarão a Ira do Senhor. O Senhor vai corrigir Israel através
da Babilônia, mas ela não ficará impune, ela será posteriormente castigada.
Através desse desfecho, Deus fez o profeta ver os acontecimentos de seus dias
através do Seu plano Redentor.
Nas fábulas do Sítio do Pica-pau Amarelo existem muitas
visitas no mínimo inusitadas como, por exemplo, a que já citamos de Dona Benta
a uma conferência de paz após a Segunda Guerra Mundial. Já imaginou Sir Winston
Churchill provando os bolinhos de chuva de tia Anastácia? Consegue imaginar uma
conversa entre Dona Benta, Emília e Habacuque?
Essa conversa não é mais do que uma alegoria à pergunta: qual a resposta
da Escritura à busca de sentido após a Queda?
A primeira resposta de Habacuque a Emília e a Dona Benta é
que as ideias delas são incoerentes consigo mesmas. Vamos primeiro pensar na
ideia de Emília: “Nada tem sentido”. É que o niilismo ensina que nada tem
sentido, se você investigar mais ao fundo verá que o que ele ensina é que nada
tem sentido, exceto ele. O que o niilismo diz é: “tudo é sem sentido, menos
eu”. Uma ideia que diz que nada tem sentido está refutando a si mesma. Com Dona
Benta não é diferente. Se o sentido do mundo é autogerado ele nunca pode ter
sido diferente de si mesmo, em outras palavras, o significado que o mundo tem
hoje deve ser o mesmo que ele tem desde sempre, ele deve vir desde a eternidade. A própria noção de eternidade nega as
categorias de força, matéria e energia, pois nada debaixo do sol é desde
sempre. Como explicar o significado do mundo usando força, matéria e energia,
crendo que o significado que o mundo tem transcende a essas categorias sem ser
incoerente? Imagine alguém que vive procurando o sentido para sua vida negar
que há qualquer sentido para ela, alguém que quer explicar a si e ao mundo
negando suas próprias definições ou iludindo a si mesmo, que tipo de vida é
essa?
O que aprendemos com Habacuque é que o propósito não está no
mundo em si, como Dona Benta achava, tampouco no que damos a ele, como Emília
acreditava, mas no modo como Deus o define, assim, a segunda resposta do
profeta é que apenas através da intervenção divina podemos reencontrar esse
sentido. Habacuque sabia disso por experiência própria, ele não via sentido no
mundo em que vivia até que Deus o respondeu, Deus se revelou, Deus falou, Deus
lhe deu novas lentes, Deus faz ele pensar o mundo em novas categorias, Deus,
Deus, Deus, sempre Deus.
Apenas encontrando o significado em Deus poderemos viver
longe do perverso ciclo vicioso que nos arrasta em uma espiral de autoengano
rumo à perdição eterna, podemos viver o máximo de nossas vidas que podemos
viver, viver de verdade, com liberdade e profundidade, vida em abundância.
Encontrando alegria e satisfação em Deus, assim poderemos cantar com o profeta:
Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas
videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento
nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu
exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. (Habacuque
3.17,18)
Daniel Brito
Que edificante!! Que o espirito santo continue a lhe orientar, amém ❤
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