Verdadeiramente relevantes

23:45

O mundo em que vivemos é permeado por grandiosas narrativas nas quais pessoas importantes fazem coisas importantes. Heróis, governantes, nobres, guerreiros, sábios e outras grandes personalidades são louvadas e admiradas. Na narrativa das narrativas, entretanto, as coisas não são bem assim. Embora Deus use os “poderosos”, frequentemente Ele atua por meio de personagens aparentemente irrelevantes. Isso nos recorda o tão conhecido trecho da carta de Paulo aos coríntios:

 

Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar os fortes.  Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele (1 Co 1.27-29).

 

Não nos faltam exemplos de tal verdade ao longo das Escrituras. Jesus nos ensinou claramente como isso funciona na prática, com seu próprio exemplo e também com o exemplo daqueles que o seguiram e espalharam sua mensagem.

 

Algumas passagens relacionadas ao chamado dos discípulos me deixam bastante pensativa (talvez este seja também o seu caso). Mateus 4.20 narra Jesus chamando pescadores, que imediatamente deixam suas redes e o seguem. Certamente, dois deles já tinham estado com João Batista – que apontava Cristo como o Cordeiro de Deus – o que pode explicar a rapidez com que seguiram Jesus (Jo 1.35-42). Mas, o que teriam pensado esses discípulos quando decidiram ir? Quantas vezes eles tinham orado pela vinda do messias que agora os chamava? E como falaram de tal decisão para suas famílias? Nós não sabemos. O que sabemos é que Jesus chamou homens comuns para segui-lo, homens estes que abandonaram mais que suas redes e barcos.

 

Em Mateus 9, lemos como se deu o chamado de Mateus (ou Levi). Jesus disse “Siga-me” e Mateus simplesmente “levantou-se e o seguiu” (v.9). O que pensou o publicano ao abandonar a coletoria? Um coletor de impostos dificilmente era estimado pelas pessoas. O que os outros discípulos pensaram ao ver o publicano juntando-se a eles? Será que passou pela cabeça de Mateus que usaria suas habilidades de registro para escrever sobre o mestre? O que ele pode ter observado e ouvido a respeito de Jesus antes de segui-lo? O que pensaram os romanos ao perder seu funcionário? Insanidade?  A rapidez da resposta de Mateus é notória, ele abandonou mais que o seu posto de trabalho. Para Deus nada é impossível.

 

Além dos 12 homens que chamou, algumas mulheres também acompanhavam Jesus e serviam a ele e aos discípulos com seus bens (Lc 8.1-3). Estas e tantas outras foram redimidas por Jesus, seja física ou espiritualmente. Em que momento elas decidiram contribuir financeiramente? O que disseram seus familiares? O que pensavam os mais notáveis ao redor? O que significava para elas andar de cidade em cidade servindo aqueles homens? Você já deve saber que, naquele tempo, a cultura judaica não considerava o testemunho das mulheres, mas foram exatamente as mulheres as primeiras a testemunharem a ressurreição. Mais uma vez Jesus deu importância ao que nada valia.

 

Esses são apenas alguns exemplos de que Deus age através de pessoas que não possuem um alto nível de notoriedade. Seus critérios não correspondem aos critérios humanos, assim, ele não favorita os mais habilidosos e populares, ricos ou de família distinta. O Senhor faz sua obra ao longo dos séculos a despeito de quem somos e do lugar que ocupamos, dos títulos que carregamos ou das conquistas que colecionamos. Ele nos ama com amor eterno e vê além do que o homem vê.

 

A narrativa das narrativas não é sobre os protagonistas improváveis, mas sobre o grande autor que os deu vida. Faça o que ele disse, viva como Ele ensinou, busque conhece-lo cada vez mais e fazer sua vontade sem preocupar-se em ser honrado ou notado. Geralmente os que não buscam honra são os que a recebem. Veja o que Deus fez com pescadores, publicanos e mulheres, além de tantos outros que não sabemos... No fim das contas, nem importa que você seja mencionado.

 

“Deus normalmente age por meio da moça que ninguém queria e do moço que todo mundo esqueceu, em todas as gerações.” ¹

 

Nada temos de bom em nós mesmos que não tenha sido dado por Ele, de modo que a verdadeira relevância consiste em ser instrumento em suas mãos, ser o que Ele nos chamou para ser, ainda que desprovidos de relevância humana. Existem muitas coisas que talvez Deus esteja te convidando a deixar para trás e outras que ele te chama a abraçar. Se você é “importante” ou não, lembre-se sempre de que o centro não é você.

 

“Quem se gloriar, glorie-se no Senhor”. (1 Co 1.31)

 

 

Juliany Correia

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¹KELLER, Timothy e Kathy. A sabedoria de Deus: um ano de devocionais diários em provérbios. São Paulo: Vida Nova, 2019.


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