O real anseio por trás das histórias de fantasia


A indústria cinematográfica está aí para provar que a fantasia vende mais que a realidade. O filme campeão de bilheteria na história do cinema é "Vingadores: Ultimato". Uma história de super-heróis, com personagens que podem voar, possuem muita força física, agilidade e velocidade sobre-humanas, grande inteligência e, é claro, um vilão muito poderoso. O segundo colocado na lista das bilheterias mundiais é Avatar, que também inclui elementos espetaculares e imaginativos.  A arrecadação bilionária desses filmes demonstra o interesse que as pessoas têm no tipo de mundo e de existência neles retratados. Mas por que histórias assim atraem tanto o coração humano? O que estamos ansiando quando nosso coração se encanta por esse tipo de ficção?

 

O tipo de vida que fomos originalmente criados para ter e o estado que agora nos encontramos parecem estar envolvidos em nossa fascinação por mundos fantasiosos. Nós fomos criados para viver para sempre, não ficar decrépitos, nem morrer, mas usufruir a vida em abundância de amor, beleza, verdade, justiça. Dominar a criação em bondade e sabedoria, como regentes do Grande Rei. Entretanto, por causa da entrada do pecado em nosso mundo, toda a nossa realidade foi alterada, a morte veio como consequência, fomos separados da nossa Fonte de felicidade e propósito, expulsos de casa e amaldiçoados. Desde esse dia, de uma forma difícil de explicar, nosso coração anseia por um mundo além desse, uma realidade sobrenatural que transcenda nosso mundo fugaz.

 

C. S. Lewis explica que:


“Seria muito mais verdadeiro dizer que a terra das fadas desperta um anseio pelo que […] não se sabe o que é. Isso […] agita e aflige (para o enriquecimento de toda a vida) com a sensação difusa de algo além do alcance dela e, longe de abafar ou esvaziar o mundo real, dá-lhe uma nova dimensão e profundidade.”1

 

E Tim Keller:

 

“Os grandes contos de fadas e lendas – A Bela e a fera, A Bela Adormecida, O rei Arthur, Fausto – não aconteceram de verdade, claro. Não são fatos reais. Contudo, parecem suprir um conjunto de anseios do coração humano que a ficção realista nunca é capaz de alcançar ou satisfazer. Isso acontece porque no fundo do coração humano existem esses desejos – de experimentar o sobrenatural, de fugir da morte, de conhecer um amor que jamais podemos perder, de não envelhecer, e sim viver o suficiente para concretizar nossos sonhos criativos, de voar, de nos comunicar com seres inumanos, de triunfar sobre o mal... mesmo sabendo que na realidade essas histórias não aconteceram, nosso coração anseia por essas habilidade e conquistas, e porque uma história bem contada satisfaz momentaneamente nossos desejos, aliviando um pouco esse incrível anseio.”2

 

As telas de cinema ou as histórias escritas estão, de alguma forma, expressando esses anseios que transbordam do nosso coração. É como se essas narrativas estivessem, de alguma forma,  tocando nos resquícios da grande história humana. O pastor Emílio Garofalo escreveu:

 

“Nossas histórias são adaptações da grande história que envolve todas as histórias. Como alguns autores já notaram com grande propriedade, boa parte das histórias de fantasia envolvem matar o dragão e resgatar a princesa. Ora, não é isso que nosso Senhor Jesus faz? A obra de Cristo (a vida perfeita, a morte na cruz e a ressurreição ao terceiro dia) derrota a grande serpente e resgata uma noiva para si. Essa é a história arquetípica.”3

 

Tim Keller abordou a mesma ideia em termos parecidos:

 

“Jesus Cristo veio do mundo eterno e sobrenatural que sentimos existir, que nosso coração sabe que existe, embora a cabeça diga que não. No Natal, ele abriu uma passagem entre ideal e real, eterno e temporário e ingressou em nosso mundo. Isso significa, se Mateus estiver certo, que existe uma bruxa má neste mundo, e que estamos debaixo de um feitiço, e que existe um príncipe imponente que quebrou o feitiço, e que existe um amor do qual jamais seremos separados. E voaremos de verdade um dia, derrotaremos a morte, e neste mundo, hoje [vermelho] nas presas e garras”, um dia até as árvores dançarão e cantarão (veja Sl 65.13; 96.11-13).”

 

É por causa de uma realidade maior e acima de nós, mas que está impressa em nosso coração, que torcemos pelo “felizes para sempre” das histórias de fadas ou nos emocionamos com os finais épicos nas grandes telas. Nós queremos viver e explorar um mundo esplendoroso, vencer o mal e todo sofrimento, ter contato e comunhão com o Divino e, em Seu amor perfeito, ter todas as nossas necessidades satisfeitas eternamente.


Se a Bíblia estiver certa, e eu creio que está, um dia, tudo isso será a nossa realidade mais tangível!  

 

Sonaly Soares Brito

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1C. S. Lewis - Sobre três maneiras de escrever para crianças.

2Tim Keller – O Natal escondido

3Emílio Garofalo Neto - Teorias da conspiração — o que há de fato por detrás delas?


 

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