“A vida de Deus na alma do homem”
“Porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte.” (Romanos 8:2)
A união com Cristo, no Espírito, por meio da qual recebemos vida é
chamada pelo apóstolo Paulo de “lei do Espírito de vida” em oposição a “lei do
pecado e da morte”, em outras palavras, Paulo apresenta o Cristianismo como
sendo “a vida de Deus na alma do homem”1 através da união com Cristo
no Espírito, nesse contexto o puritano Henry Scougal compreendia o Cristianismo
como:
“Uma união da alma com Deus, uma real participação da alma com Deus, uma real participação da natureza divina, a própria imagem de Deus gravada na alma”1
Vivemos no mundo por meio dessa vida que flui de Cristo a nós, por
meio dela nossa natureza pecaminosa vai sendo morta e vamos nos tornando mais
parecidos com Cristo. O Espírito age em nós e conosco nessa transformação,
providenciando meios para tomarmos aquilo que Ele nos dá gratuitamente, esses
meios são ferramentas à nossa mortificação, os quais devemos usar
diligentemente.
Se olharmos para nossa sociedade através do Cristianismo iremos ver o
mesmo que Paulo viu em Romanos 8. Ele viu dois grupos de pessoas, os quais são
definidos nos termos daquilo que amam; há aqueles que vivem segundo a sua
natureza pecaminosa e morrem, também há aqueles que matam a sua natureza
pecaminosa e vivem (Romanos 8.13). Todos os homens estão entre essas duas
categorias, todos são definidos pelo que amam. Agostinho falou que somos
criaturas que vivem nesse mundo conectados a realidades espirituais maiores do
que nós, ele falou dessas realidades como duas cidades construídas sobre
diferentes amores:
“O amor de si e o desprezo a Deus criaram a Cidade dos Homens; o amor a Deus e o desprezo a si criaram a cidade de Deus”2
Em nossas cidades dividimos espaço com pessoas conectadas a uma cidade
diferente da nossa, devemos viver nas nossas cidades através da vida que
recebemos em Cristo, assim iremos ser de fato suas testemunhas e influenciar o
meio onde estamos com os valores do Seu Reino. Ele vive, nós vivemos da Sua
vida.
Isso exige mortificar a carne, isto é, nossa natureza pecaminosa.
Antes de querer aplicar o Cristianismo a nossa sociedade devemos aplica-lo a
nós mesmos. Devemos praticar a mortificação através do esforço intencional de
um firme compromisso diário de adoração a Deus, incialmente, façamos como John
Owen, meditemos em Cristo:
“Considere a plenitude da graça, as riquezas, os tesouros de força, poder e ajuda armazenados nEle para nosso sustento”.3
Medite até ser aquecido, até ter os seus desejos e emoções impactados
por esses tesouros de graça que estão em Cristo, tenha persistência, se tudo
que ao fim da meditação for um tédio distraído e você se sentir triste por
isso, saiba que essa é uma expressão de amor a Deus, isso mostra amor a Deus
porque você sente-se triste ao não sentir a presença do Senhor aquecendo sua
alma, ruim será se você se sentir distraído e achar que isso é normal, for
indiferente. Após meditar em Cristo você estará apto a impor obstáculos ao
pecado, ele é descrito como uma gravidez no Salmo 7:
“Sim, o perverso gera o mal; concebe o sofrimento e dá à luz a mentira.” Salmos 7:14
Uma gravidez começa com um desejo, o qual leva a uma gestação e depois
ao nascimento. Se o pecado é como uma gravidez você deve abortá-lo, não
nutri-lo; não deixe desejos pecaminosos surgirem, através da devoção privada e
do culto solene exercite novos desejos, desejos celestiais, não administre sua
tentação, você estaria gestando o pecado ao fazer isso, quando você começa a
pensar que é forte para o resistir e que pode lidar com sua tentação muito bem
sozinho, mas você não pode, o aborte, não pense o quanto você pode lidar com
sua tentação, mate, aborte o pecado antes que nasça. Esse é um momento crítico,
o pecado quer que você ache que é forte para lidar com ele, mas você não é, e
você sabe que não é, então aborte sua tentação. Caso o pecado nasça peça perdão
a Cristo imediatamente, identifique as ocasiões em que pecou e fuja delas, veja
qual desejo pecaminoso levou você a cair, negue ele, veja em que circunstâncias
caiu, fuja delas. Olhe para Cristo e siga em frente, e, lembre-se o foco aqui é
o progresso, não a perfeição, já que não seremos perfeitos nessa vida, mas
podemos progredir na santificação: hoje mais que ontem, amanhã mais que hoje.
Assim será cada dia mais intensa e brilhante a vida de Deus na tua alma.
Daniel Brito
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1Título do livro do puritano Henry Scougal
2Agostinho – A cidade de Deus.
3John Owen – A mortificação do pecado.
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