Era-lhe necessário passar por Samaria (Jo 4.4)


Há tantas pessoas hoje que estão vivendo suas vidas, absortas em seus pensamentos e planos, suas necessidades, angústias e preocupações; acordando, indo trabalhar, voltando para casa e fazendo isso novamente todos os dias. Muitas nesse estilo de vida seguem a procura de significado em sua existência a partir destas coisas.

 

Quantos de nós não estávamos exatamente assim, como ovelhas desgarradas como se não tivessem pastor.

 

"Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho;” (Isaías 53:6)

 

Vivíamos neste mundo sem nos importar com as coisas do alto, mas apenas segundo as nossas próprias necessidades, buscando idealizações, vivendo para saciar a nós mesmos, para abraçar o mundo e alimentar os desejos da nossa carne.

 

Toda essa ilustração me faz lembrar o diálogo de Jesus com a mulher samaritana. Aparentemente, aquela mulher estava realizando as coisas comuns do seu dia a dia.  Certamente teria saído de casa para fazer algo absolutamente normal no seu tempo, que era pegar água.

 

Atravessando as ruas da cidade, ela provavelmente vinha pensando nas roupas que lavaria com aquela água ou o quanto seria necessário para abastecer a sua casa. Talvez ela apenas queria pegar aquela água e voltar para casa, sem se deter com ninguém ao chegar no poço, mas não foi isso que aconteceu, como vemos no texto abaixo:

 

“Era-lhe necessário passar por Samaria. Assim, chegou a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José. Havia ali o poço de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se à beira do poço. Isto se deu por volta do meio-dia. Nisso veio uma mulher samaritana tirar água.” (João 4.4-7)

 

Ao chegar no poço de Sicar, aquela mulher se deparou com Jesus. Ele, ao contrário dela, havia marcado aquele dia. Ele realmente queria passar por Samaria para ter um encontro com ela e falar-lhe sobre o evangelho. Jesus iria mostrar-lhe qual a verdadeira água que saciaria a sua sede eternamente.

 

Quando olhamos para essa história aprendemos muito com a atitude de Jesus, pois ele decidiu entrar na história dessa personagem para trazer-lhe graça e redenção. Apesar de ser samaritana, pecadora e indigna, Jesus aproximou-se dela para comunicar-lhe o evangelho. Jesus sabia que era necessário falar-lhe das boas novas a seu respeito. Como Alister Mcgrath comparou: “Jesus ‘aceita-nos’, conhecendo-nos da forma como somos e, tendo lidado com o que somos por meio da cruz e ressurreição, somos capazes de sentar e comer em sua presença”.

 

Quantas vezes nós, ao contrário de Cristo, somos preconceituosos com alguém devido a seu modo de viver ou a seus pecados?  Desprezamos a ponto de não nos aproximarmos em amor para buscar explicar-lhes o evangelho.  Quantas vezes preferimos o caminho mais longo, a exemplo dos judeus que preferiam cruzar o rio Jordão ao invés de passar por Samaria?

 

Precisamos ter o entendimento de que a salvação das pessoas não é obra de nossas mãos, mas fruto da graça divina e por misericórdia o Senhor nos usa para proclamar a salvação a muitos. Assim, independentemente desse lugar ser recheado de pecadores, impuros, idólatras etc., não devemos nos desvencilhar de sermos como Jesus foi.

 

“Jesus estava preparado para aceitar, além dos limites, aqueles que seus contemporâneos consideravam inaceitáveis.  Jesus sentava-se à mesa com aqueles que o mundo considerava párias, como por exemplo, os publicanos, os serviçais títeres das autoridades romanas. Misturava-se com aqueles de quem as pessoas respeitáveis não queriam se aproximar, como as prostitutas. Foi visto sozinho com mulheres - um fato escandaloso para a época- e conversava com elas de igual para igual sobre as maravilhas do reino de Deus. Pregava aos samaritanos, para horror dos judeus. Misturava-se com os leprosos, que haviam sido banidos da sociedade como impuros; conversava com eles e, até mesmo, os tocava, correndo o risco de ficar leproso também.  Em suma, Jesus estava preparado para encontrar e aceitar até mesmo aqueles que a sociedade considerava proscritos. No entanto, esse encontro nunca deixava as coisas como eram. O encontro leva à transformação”. ²

 

Somos chamados a testemunhar aquilo que Jesus um dia realizou por nós e, a exemplo dele, devemos passar por samarias, olhar para os outros e oferecer misericórdia. Devemos lembrar que a nossa salvação e a de qualquer outro é fruto única e exclusivamente da graça que nos foi concedida por meio de Jesus Cristo.

 

Que o Senhor nos ajude a enxergar o quão pecadores nós somos, para que nos prostremos em humildade e arrependimento, olhando o outro com misericórdia. Que arda em nossos corações o desejo de compartilhar desta água viva, para que todos sejam cheios da plenitude da água que jamais terá fim.

 


Kelly Balbino

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¹ McGRATH, Alister. Encarnação. São Paulo: Hagnos, p 65, 2011.

² McGRATH, Alister. Encarnação. São Paulo: Hagnos, p 67, 2011.

 

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