Invisivelmente encontrada


É muito comum brincarmos com as criancinhas de esconde-esconde. É uma delícia contar e esperar elas se esconderem. Muitas vezes elas escolhem alguns lugares bem prováveis. Embaixo da cama ou da mesa da cozinha, atrás de uma cortina ou de uma porta, etc. Elas são facilmente encontradas, mas acham firmemente que estavam praticamente invisíveis. Talvez seja esse um dos maiores sonhos de uma criança - ser invisível. Provavelmente, algumas de nós já desejamos isso. Contudo, a gente cresce, né? Amadurecemos e os sonhos começam a ser outros. E, quando alguém não nos enxerga, dói. Às vezes, deixamos os nossos braços, pernas ou cabelos amostras, mas ninguém nos encontra.  Parece que realmente nos tornamos invisíveis.

 

Uma história que me deixa intrigada é a de Hagar. Acho que você a conhece. Ela foi envolvida em uma trama um tanto complicada. Sara, a sua senhora, ordenou que ela se deitasse com Abraão e lhe desse um filho. Hagar assim fez e Ismael nasceu. Nós já sabemos do pecado que gira em torno dessa história e também das complicações consequentes dela.

 

“Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dera nenhum filho. Como tinha uma serva egípcia, chamada Hagar, disse a Abrão: Já que o Senhor me impediu de ter filhos, possua a minha serva; talvez eu possa formar família por meio dela. Abrão atendeu à proposta de Sarai.” (Gênesis 16:1-2)

 

A Bíblia nos conta que Hagar por estar grávida começa a destratar a sua senhora. E Sara, com o total consentimento de Abraão, maltratou tanto Hagar que ela acabou fugindo dos seus senhores. Que situação horrível! A trama, que na cabeça de Sara se concretizaria em um final feliz, virou uma grande novela de drama e sofrimento.

 

Hagar estava no deserto próximo a um poço. Provavelmente essa mulher sentia-se insegura, sem mantimentos, sem companhia e ainda por cima grávida. Talvez Hagar sentia-se invisível. Mas, algo inesperado acontece (nós que lemos histórias sempre ficamos esperando a reviravolta dos casos difíceis, mas talvez ela não esperava nada do que ocorreu em seguida).

 

“O Anjo do Senhor encontrou Hagar perto de uma fonte no deserto, no caminho de Sur, e perguntou-lhe: Hagar, serva de Sarai, de onde você vem? Para onde vai?” (Gênesis 16:7-8)

 

Espera aí! Alguém estava observando Hagar. Ela não estava totalmente escondida como as crianças que brincam de esconde-esconde também não estão. Ela não era invisível. Hagar foi encontrada. Mesmo que nenhum olhar humano estivesse sob ela. Deus encontrou Hagar em um momento de total fragilidade, invisibilidade e rejeição e mostrou que mesmo embora estivesse frágil, ela possuía alguém Forte, mesmo sem ser vista por muitos, o Único Deus lhe enxergava, e, mesmo rejeitada, o Senhor era o seu consolo. Você pode ler toda a conversa entre o Anjo e Hagar em Gênesis 16:7-12. O Senhor fez promessas àquela mulher em relação ao seu filho. E Hagar chamou o poço onde estava de Beer-Laai-Roi, ou seja, o poço daquele que vive e me vê. Perceba que o fato de ser visível e encontrada por Deus surpreendeu aquela mulher:

 

“Este foi o nome que ela deu ao Senhor que lhe havia falado: “Tu és o Deus que me vê”, pois dissera: Teria eu visto Aquele que me vê?.” (Gênesis 16:13)

 

Alguns anos depois, Abraão seguindo as ordens de Deus despediu Hagar e o seu filho Ismael (Gn 21:8-21). Ambos agora estavam vagando pelo deserto. Hagar levou mantimentos, mas em um determinado momento a água acabou. A mulher deixou o seu filho para não ver o menino morrer. Mais uma vez Hagar se vê isolada, em vulnerabilidade e invisível. Afinal, ninguém estava ali vendo a sua situação. Outra vez, nós leitores da história esperamos outra grande intervenção divina.  E foi exatamente isso o que aconteceu:

 

“Deus ouviu o choro do menino, e o anjo de Deus, do céu, chamou Hagar e lhe disse: O que a aflige Hagar? Não tenha medo; Deus ouviu o menino chorar, lá de onde você o deixou. Levante o menino e tome-o pela mão, porque dele farei um grande povo. Então Deus lhe abriu os olhos, e ela viu uma fonte. Foi até lá, encheu de água a vasilha e deu de beber ao menino.” (Gênesis 21:17-19)

 

Nesses relatos bíblicos conseguimos ver a mesma personagem em duas situações parecidas em tempos diferentes. O que me deixa encantada é que em ambas as situações Hagar foi maravilhosamente encontrada mesmo estando invisível para muitos. Deus a encontrou! O Senhor a socorreu em seus períodos de necessidade (Sl 46:1).

 

Não são poucas as vezes que nos sentimos invisíveis. Talvez tentamos em vão deixar alguma parte amostra para que as pessoas nos notem, mas nada acontece. Saímos vagando pelos nossos desertos sem a presença de alguém, sem um apoio aparente. Nos sentimos como Hagar, rejeitada e imperceptível. Mas, a Palavra nos mostra que mesmo nos momentos que parece que há uma nuvem escura nos cobrindo e ninguém nos enxerga, o Senhor nos vê. Não podemos fugir dos olhares atentos do Senhor (Salmos 139). Hagar não foi a única pessoa invisível encontrada pelo nosso Pai. O nosso Senhor também encontrou o profeta Elias em uma caverna (1 Reis 19:9) e tantos outros, como eu e você. Não importa os lugares nos quais nos encontramos. Ele nos visita ali mesmo, seja no deserto ou na caverna, seja na coletoria de impostos ou na areia da praia (Lucas 5:27; Mateus 4:18-19), ou até mesmo em nossa casa dentro do nosso quarto, atrás das cortinas e das portas, embaixo das mesas e das camas. O Senhor nos encontra!

 

Houve um dia em que vagávamos perdidas e sem esperança de ser encontradas. Invisíveis e sem nada em nossas mãos. Até que Ele nos achou e provou que os seus olhos enxergam os invisíveis. Ele nos acolheu e tomou o nosso fardo. Nos limpou com o seu sangue, nos deu uma nova vida e colocou uma nova canção em nossos lábios. Convido você, minha irmã, a lembrar de que embora o seu coração falho tente lhe contar que ninguém te vê, mostre a sua alma que há um Deus que vive e te vê. O Senhor te gravou na palma de sua mão e não te esquece (Isaías 49:15-16). Ele te buscou no deserto e disse: Eu te vi!

 

Alegre-se na Salvação do Deus que te encontrou!

 

“...Teria eu visto Aquele que me vê?” (Gênesis 16:13)

 

Hellen Juliane

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