Intercedendo por quem não merece
Meditando
essa semana, fui despertada novamente ao assunto acerca da oração. Volta e meia
nos deparamos com esse tema e confesso: é um assunto extremamente importante
que salta aos meus olhos todas as vezes que eu leio e penso a respeito. Isso se
deve ao fato de que quando oramos estamos diante do próprio Deus!
Gostaria
que pensássemos sobre uma oração que vai além de nós e requer mais da gente.
Essa oração é aquela que se faz com toda empatia que podemos ter e com todo o
nosso coração. É uma oração de fé: a oração intercessória por pessoas difíceis.
Você pode estar se perguntando: mas eu também sou uma pessoa difícil, o que
haveria de diferente nessa oração, além do fato de que ela será dirigida a
outra pessoa que não seja eu mesma?
A questão
é que, muitas vezes, nós somos chamados a orar por aqueles que não querem, não
veem e não adoram a Deus e ainda vivem uma vida de desobediência, sem
arrependimento, sem quebrantamento e sem confissão de pecados. Contudo, apesar
de todo esse cenário, somos chamados a orar e interceder por aqueles que estão
sob a mira da ira divina de Deus.
Pensemos
um pouco sobre o contexto do capítulo 7 de Amós e voltemos nossa atenção à
intercessão desse profeta. Veja, o Senhor o chamou para declarar ao povo o
juízo que se aproximava e, no meio desse fato que já havia sido decretado pelo
Senhor sobre o povo, o profeta intercede. Nos versos 2 e 3 o profeta clama:
“Senhor Deus, perdoa, por favor! Como poderá Jacó sobreviver? Pois ele é
pequeno.” Logo em seguida, uma vez mais o profeta suplica: “Senhor Deus, para,
por favor! Como poderá Jacó sobreviver? Pois ele é pequeno.”
Percebemos
que Amós teve profunda compaixão por esse povo ao se colocar diante de Deus
clamando e intercedendo por ele. Essa compaixão não tem como base os méritos
daquelas pessoas que estava sob o juízo do Senhor, nem era uma oração que tinha
por base o fato de ser um povo de coração quebrantado. Pelo contrário, não
havia quebrantamento no coração daquele povo, eles não haviam se arrependido;
eles não eram como o povo de Nínive que, ao ouvir a mensagem de Jonas, se
arrependeram. Não havia convicção de pecado por parte do povo de Israel, mas
havia o coração de Amós que se colocava diante do Senhor em oração.
O que
fazia com que o profeta tivesse fé para orar por um povo que merecia a ira
divina? O que o faria crer que o Senhor aplacaria o seu furor? Isso acontece
porque o profeta Amós tinha depositado a sua confiança na misericórdia divina.
Ele diz: “senhor, rogo-te, como subsistirá Jacó?” O profeta lembra da promessa
do Senhor de reunir todos os povos da terra para ser o seu povo.
Dessa
forma, nota-se que ele não intercede ao Senhor por quem é o povo, mas com base
nas promessas do Senhor e em sua misericórdia. Não há aquela oração baseada em
2 Crônicas 7.17 por um povo quebrantado, arrependido, que se humilha e,
prostrado diante de Deus, intercede pelo fim de seu castigo. Só há o profeta
clamando a Deus e dizendo “senhor perdoa-os”. Vemos o resultado das orações de
Amós nos versos seguintes: “Isso não vai acontecer. (...) E o Senhor mudou de
ideia em relação a isso e falou: — Também isso não vai acontecer.” (Amós
7.3;6).
A mudança
de ideia do Senhor aqui não revela que Deus se precipitou ou que se arrependeu,
pois Deus não tem essa característica que é eminentemente humana. O Senhor não
se equivoca ou comete erros, Ele não é pego de surpresa. O que aconteceu foi
uma mudança de direção do Senhor devido a intercessão do profeta Amós. Deus
suspendeu o seu juízo devido a uma oração.
Há
mudanças quando povo de Deus intercede! Aqui Amós entra no rol dos grandes
intercessores na Palavra de Deus. Além dele temos tantos outros, como por
exemplo, em Gênesis 18, Abraão intercede em relação a Sodoma e Gomorra, a
bíblia diz que o Senhor “lembrou-se de Abraão" e tirou Ló e a sua família
daquela destruição que se aproximava.
Ademais,
lembremos que em Êxodo 32.32 Deus tinha tomado a decisão de destruir a nação
peregrina de Israel no deserto e Moisés aparece como reparador de brechas pelo
povo, dizendo: “Senhor perdoa esse povo ou risca o meu nome do livro que
escrevestes” e Deus perdoa a nação por causa da oração de Moisés. Esses são
apenas alguns de tantos outros exemplos em que Deus poupou nações, suspendeu
juízos e preservou cidades e nações inteiras por causa da oração de seu povo.
A oração
não é em vão, meus amados irmãos. Há poder em sua intercessão! Deus pode mudar
circunstâncias, Ele pode mudar quadros e o rumo dos acontecimentos. Ainda que a
pessoa por quem você ora seja um ímpio, sem quebrantamento, continue orando
pois Deus ouve a sua oração como intercessor.
Recordemos
a oração de Jesus Cristo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc
23, 34). O próprio Jesus intercedeu junto ao Pai por um povo que, assim como a
nação em Juízo na história de Amós, não sabia a dimensão do seu próprio pecado
e agia sem arrependimento. Mas, apesar disso, o Senhor Jesus Cristo
sacrificou-se por quem não merecia, fazendo-se culpado em nosso lugar.
Apesar da
grandiosa ira de Deus sobre o pecado, há também grandiosa misericórdia. A sua
ira é suspensa por causa do sacrifício de Jesus Cristo. O Senhor passa por cima
dos pecados para aplicar a sua ira e sua justiça em seu próprio filho. É porque
o Senhor vê a cruz ensanguentada de Cristo que pode atender às orações de Amós,
as minhas e as suas. É por conta de seu Filho que Ele é capaz de atender
orações como a de Habacuque 3.2 em que diz: “Senhor Deus, na tua ira, lembra-te
da misericórdia.”
Kelly Balbino
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