Qual o meu lugar no propósito de Deus em Missões?


Quais as primeiras palavras que vêm à nossa mente quando pensamos em missões? Podem vir à tona palavras como evangelho, países, missionários, chamado, necessidade. Ou ainda, amor ao próximo, igreja, discípulos, oração. Se pudéssemos reunir essas palavras e encontrar um significado sobre missões, qual seria?

 

Geralmente, costumamos associar missões apenas ao sentido geográfico, ao sentido de servir a um determinado povo na comunicação do evangelho de Deus. Missionário, nesse sentido, é aquele que deixa tudo e vai para “cumprir o ide”. Embora isso seja algo totalmente válido e necessário, a obra missionária não se resume apenas a isso.

 

À luz das Escrituras, podemos compreender que o conceito de Missões está dentro do plano redentor de Deus para o mundo, ao recriar uma humanidade que seja distinta e que manifeste o conhecimento Dele às pessoas, com a retidão, a alegria, a justiça e a paz de um novo mundo que um dia encherá a terra.

 

No Antigo Testamento, o Senhor escolheu um povo que seria essa comunidade de luz às nações. Israel foi separado por Deus e colocado geograficamente em um lugar estratégico, no meio das nações pagãs, para comunicar algo sobre Ele (Ez 5:5).

 

“Israel é colocado na encruzilhada das nações e no umbigo do universo, um povo em exposição, visível para as nações. ‘Israel sabia que vivia sob constante observação do mundo à sua volta.’ Israel deveria viver sua história ‘como algo encenado diante dos olhos dos povos ao seu redor, sempre ciente de que o que estava em jogo era a glória de Deus’. A mensagem da vida coletiva de Israel deveria ser: ‘É nesta direção que a história está vindo - venha e junte a nós’”.¹

 

O Senhor deu mandamentos e instruções que não apenas iriam nortear Israel a estarem no centro de sua vontade, mas também comunicar essa nova linguagem do que significa viver no mundo, representando Deus para as nações e atraindo pessoas para se juntarem e participarem do que Ele estava fazendo na história.

 

“A ideia, portanto, era que a nação de Israel fosse um povo em exposição, encarnando em sua vida comunitária a intenção original de Deus com a criação e seu propósito escatológico para a humanidade… O povo de Deus seria um sinal atraente diante de todas as nações daquilo que Deus havia pretendido desde o início e do propósito para o qual se movia: a restauração de toda a criação e vida humana da corrupção do pecado. Israel assumiria seu lugar na missão de Deus principalmente sendo o que ele o chamou a ser, uma vez que ‘missão não está primordialmente relacionado a ir. E também não está relacionado essencialmente a fazer alguma coisa. Missão está relacionado a ser. Está relacionado a um tipo distinto de povo, uma comunidade [...] contracultural entre as nações.’”¹

 

Sabemos que Israel fracassou em sua missão, deixando-se sucumbir pelo velho mundo que ainda governava seu coração. Todavia, em Jesus contemplamos um novo Israel sendo restaurado e reunido para continuar a missão que Deus lhe confiou e que foi consumada para sempre. O Israel transformado de Jesus deve manifestar a verdade, o amor, a compaixão e a justiça do Reino que foi instaurado e que ainda virá, pois se constitui de pecadores que foram resgatados e regenerados de sua antiga maneira de viver, através da mensagem da cruz, e que caminham em direção à pátria celestial. Antes de fazerem alguma coisa, eles precisam entender sua identidade, quem são à luz do plano redentor de Deus, e se comportarem de maneira digna dessa vocação (Ef 4:1, Fp 1:27).

 

Missões existe porque há uma necessidade. “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23). A igreja é a comunidade escolhida por Deus para perpetuar a missão de Jesus, tomando o legado que Ele a entregou, de viver a verdade e comunicar os valores do Reino para um mundo que jaz em trevas.

 

Em seu ministério terreno, o Senhor separou homens para caminharem com Ele e aprenderem sobre os valores do Reino dos céus. Eram homens comuns, com suas limitações e falhas, que muitas vezes duvidaram e desejaram voltar atrás, porém homens a quem Deus se utilizou de maneira tal que revolucionaram a história. Uma grande mensagem foi entregue a eles, mensagem essa que chegou até os confins do mundo através da pregação dos mesmos, mediante o poder do Espírito Santo operando em suas vidas.

 

De modo semelhante, temos contemplado os feitos do Senhor na história, através de homens e mulheres comuns que entenderam quem eram Nele e que viveram para sua glória. Eu amo ler biografias, e através de cada história sou profundamente impactada com o legado que nossos irmãos deixaram por meio do seu serviço para Deus. Essas histórias me motivam a desejar ser uma pessoa melhor, vivendo para o que realmente importa, me comprometendo com a vontade de Deus e servindo a Ele de todo o meu coração.

 

Muitas vezes, ao lermos biografias de grandes homens e mulheres, podemos pensar: “Isso não é para mim. Aconteceu com eles, mas não pode acontecer comigo.” Somos tentados a pensar que não somos suficientes para cumprir o chamado do Senhor. De fato, ninguém é suficiente. Participar do que Deus está fazendo no mundo não é sinal de dignidade ou capacidade, mas de graça. É essa graça que opera apesar de nós e que nos conduz ao centro de Sua vontade, nos proporcionando o tremendo privilégio de sermos instrumentos nas mãos Daquele que rege o universo e cumprir seus propósitos gloriosos.

 

“Muitos cristãos se sentem desencorajados e desalentados quando a vida espiritual e o testemunho são atingidos pelo pecado ou pelo fracasso. Nossa tendência é de nos considerarmos seres insignificantes - e se fôssemos abandonados aos nossos próprios recursos, isso seria verdade! No entanto, seres insignificantes são justamente o tipo pessoa que Deus usa, pois é só isso que ele tem para usar [...] Deus escolhe o humilde, o pequeno, o manso e o fraco para que não haja qualquer dúvida quanto à fonte de poder quando a vida dessas pessoas mudar  o mundo. Não é o homem que conta; é a verdade de Deus e o poder no homem.”²

 

Deus tem se utilizado de pessoas que se consideram pequenas demais para a grande obra, para evidenciar que é o poder Dele que opera em nossa fraqueza.

 

Por Ele estar comprometido consigo mesmo, seu propósito na missão não falhará apesar de toda falha humana, e assim podemos avançar com confiança.

 

“Apesar de todo erro, deslealdade e infidelidade do parceiro humano da aliança, Deus vai completar a sua missão. [...] visto que toda a autoridade no céu e na terra foi dada a Jesus Cristo, somos enviados ao mundo com confiança em que a missão de Deus será realizada.”³

 

Porém, como John Piper nos afirma, “onde a paixão por Deus for fraca, o zelo pelas missões será fraco”. O objetivo final de Deus é que sua glória seja conhecida e desfrutada entre todas as nações. Se esse é o objetivo de Deus, precisa ser o nosso também. Mas, para que isso aconteça, precisamos amar a sua glória mais do que a glória desse mundo, tendo a Ele como o nosso tesouro supremo, mais valioso do que tudo o que o mundo pode nos dar ou nos tirar.

 

“Nós não falamos de Cristo porque não amamos tanto o seu nome a ponto de não suportarmos vê-lo não reconhecido e não adorado. Se apenas os nossos olhos se abrissem para vermos a sua glória, e se apenas nos sentíssemos feridos pela vergonha de sua humilhação pública entre os homens, não seríamos capazes de permanecer em silêncio.”

 

O apóstolo Paulo certamente amava a glória de Deus. Ele que considerou tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, pelo qual perdeu todas as coisas e as considerava como esterco para que pudesse ganhar a Cristo. (Fp 3:8) Ele que afirma que sua ardente expectativa era ver Cristo engrandecido em seu corpo, quer pela vida, quer pela morte (Fp 1:20) e que não tinha nada por precioso nesse mundo, contanto que cumprisse com alegria o chamado que Deus havia lhe entregado (At 20:24).

 

Por isso, Paulo fez tudo o que fez. O que lhe movia não era meramente o amor pelas pessoas, ou a obrigação de cumprir o seu chamado, mas um exímio amor pelo Senhor que derramou sua vida em prol do principal dos pecadores (I Tm 1:15) e um profundo anseio de vê-lo engrandecido em todo o mundo.

 

Tenho pedido a Deus que Ele gere em mim esse coração apaixonado pela sua glória. Um coração alinhado ao Dele, que ama sua obra e que se compromete em manifestar ao mundo os valores do Reino, para que todos vejam e ouçam que só há salvação em Jesus Cristo. Uma vez que entendemos nossa identidade e o plano redentor de Deus, nos rendendo a Ele de todo nosso coração, grandes coisas poderão acontecer através de nossas vidas, para que o nome Dele seja visto, conhecido e adorado em todo o mundo. Isso é Missões. Como diz John Piper, Missões existem porque falta adoração. Precisamos pregar porque as pessoas precisam glorificar ao único Deus que vive para sempre e nisso encontrar sua felicidade. Deus confiou esse chamado a mim e a você. Que possamos viver para evidenciar a glória do seu nome e encontrar nisso o nosso papel no propósito Dele em missões.

 

“Porque eu sou apenas um ninguém

Tentando dizer a todos

Tudo sobre Alguém

Que salvou minha alma

Desde que Você me resgatou

Você deu ao meu coração uma música para cantar

Estou vivendo para que o mundo veja

Ninguém além de Jesus.”

 

  

Thayse Fernandes

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¹ GOHEEN, Michaek W. A Igreja missional na Bíblia: luz para as nações. São Paulo: Vida Nova, 2014.

 

² MACARTHUR, John. Doze homens comuns: a experiência das primeiras pessoas chamadas por Cristo para o discipulado. São Paulo: cultura cristã, 2011.

 

³ HORTON, Michael. A grande comissão: o resgate da estratégia divina para o discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

 

 PIPER, John. Alegrem-se os povos: a supremacia de Deus nas missões. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.

 

 STOTT, John. Nosso silêncio culpado: a igreja, o evangelho e o mundo. Curitiba: Esperança, 2014.

 

 Nobody, Casting Crowns. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1yBzIt_z8oY


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