Conhecendo Deus e o tornando conhecido


Embora não consigamos definir ou conhecer Deus de maneira exaustiva, por sermos de natureza tão distante e limitados de entendimento, podemos conhecê-lo através do que Ele nos revelou em seus atributos. Segundo Heber Campos,

 

“Os atributos são ‘qualidades’, ‘propriedades’, ‘virtudes’ ou ‘perfeições’ de uma pessoa particular ou de um ser. Como Deus é um ser, ele possui qualidades ou características que fazem com que ele seja o que é. Os atributos não são alguma coisa acrescida a Deus, mas são qualidades essenciais dele.”¹

 

Os atributos de Deus podem ser classificados como comunicáveis e incomunicáveis, sendo comunicáveis aqueles que podem ser vistos em alguma medida na natureza humana, por exemplo: amor, justiça e santidade. Já os incomunicáveis são aqueles encontrados apenas no ser de Deus, como onipotência, onisciência e auto-existência.

 

Cremos que homem e mulher foram criados imago dei, ou seja, à imagem de Deus (Gn 2:26, Tg 3:9), o que significa que Deus compartilhou com o ser humano características que lhe são próprias. Assim, o Senhor os diferenciou  do restante da criação, atribuindo-lhes faculdades intelectuais, emocionais, físicas e morais.

 

“Todas as criaturas são incorporações de pensamentos divinos e todas elas revelam as pegadas ou vestígios de Deus. Mas todos esses vestígios, distribuídos lado a lado no mundo espiritual e no mundo material, são recapitulados no ser humano e, assim, são tão ligados organicamente e tão grandemente aumentados que claramente constituem a imagem e a semelhança de Deus. Todo o mundo se eleva, culmina e se completa e alcança sua unidade, seu objetivo e sua coroa na humanidade.”²

 

Percebemos a seriedade e também a graça do que significa ser imago dei. Após a queda, a imagem e semelhança de Deus em nós foi distorcida por causa do pecado, mas através do sacrifício vicário de Cristo, essa imagem é restaurada e somos revestidos de um novo homem que é criado segundo Deus e que é conformado à imagem do seu Filho (Rm 8:28-29, Ef 4:24, Cl 3:10).

 

A Escritura nos mostra evidentemente a necessidade de ter o nosso caráter moldado ao de Deus. Somos por natureza egoístas e orgulhosos, enlaçados pelas paixões da carne e rebeldes à sua vontade, mas através da misericórdia concedida e da graça exposta, há uma esperança para nós. O Espírito Santo realiza a sua obra em nossas vidas e  nos capacita a vencer o pecado e a nos aproximarmos da vontade de Deus, santificando-nos e nos tornando como Ele é. Quanto mais santificados somos, mais parecidos com Deus nos tornamos e mais glória trazemos ao Seu nome.

 

Sabemos que a luta pela santidade é real. A cada dia tentamos sobrepor nossa velha natureza e nos revestir daquela que é criada segundo a imagem do filho de Deus. Embora com dificuldade, ansiamos ser revestidos. Seja no falar com brandura, no não devolver com ultraje aquele que nos feriu, no pensar nas coisas do alto, no demonstrar a benevolência e a paz em um mundo corrompido, no dominar a nossa carne e a nossa língua, no testemunhar da glória de Deus. Através de nossas ações, palavras e pensamentos, ansiamos vencer o pecado e representar nosso Senhor.

 

Essa é a nossa alegria e também a nossa glória, sermos representantes de Deus no mundo. Quanto mais de nós a Ele entregamos, mais Dele recebemos.

 

"Aos poucos estou desapegando de mim

E me apegando a ti

Aos poucos estou abandonando meu eu

Para te seguir e te ter bem aqui [...]

E a cada passo que eu dou

Em direção à sua cruz

Pedaços de mim vão ficando para trás

E partes de ti vão me preenchendo

E quanto mais eu me aproximo de você, Jesus

Mais partes de ti vem compor quem sou

Mais semelhante eu torno."³

 

Como disse João Batista: "convém que ele cresça e que eu diminua " (Jo 3:30). Convém que Ele apareça e que nosso eu seja amortecido. Isso requer renúncia, fé e obediência. É um caminho áspero, mas gratificante. Tudo isso é demonstrado em nosso dia a dia, nas oportunidades que temos de fazer a diferença e de agirmos como Jesus agia, de seguir o seu exemplo e de expressarmos o fruto do Espírito Santo (Gl 5:22-23), que é consequência de um coração regenerado.

 

Que possamos refletir sobre como temos revelado os atributos de Deus em nossa existência, e que o Senhor nos auxilie nessa jornada, a fim que as pessoas contemplem em nós um nome que é digno de ser lembrado, alguém que é totalmente digno, o autor de nossa salvação e o amado de nossa alma.

 

 

Thayse Fernandes

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¹ CAMPOS, Heber Carlos de. O ser de Deus e os seus atributos. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.

² BAVINCK. Herman. Dogmática reformada: Deus e a criação. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.

³ Aos poucos, de José Jr. Disponível em: https://youtu.be/goNc-5z-PUI

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