A incerteza dos planos humanos e a infalibilidade divina


Nos últimos dois anos, em decorrência da pandemia, temos visto de forma mais intensa e próxima a nós o quanto a vida é frágil. Seja com a morte de familiares, pessoas próximas, famosas e mesmo aquelas que não estão tão perto de nós. Além de perceber essa fragilidade, também fomos pegos de surpresa, sentindo a necessidade de traçar outros caminhos e buscar outras estratégias em diversas áreas da nossa vida. Tivemos que lidar com distanciamento, com o medo constante, com as novas formas de viver no mundo, na igreja, na escola, em casa.

 

No que diz respeito aos nossos planos, o capítulo 4 da epístola de Tiago mostra o quanto eles são incertos e o quanto é tolice desenvolver uma autoconfiança inabalável em nós mesmos. Em contrapartida, o Deus que nós servimos tem o controle de todas as coisas e é somente Nele que podemos confiar plenamente. A temática do capítulo se volta para a submissão a Deus e resistência às paixões. Após se direcionar aos irmãos sobre o julgamento alheio, há um direcionamento para pessoas específicas “ouçam agora, vocês que dizem” ou “prestem atenção, vocês que dizem”.

 

Os versículos 13 a 17 destacam a incerteza dos planos humanos. Quando lemos o versículo 13, vemos claramente uma referência às pessoas que já têm determinado em seus planos o lugar, tempo, ação e resultado. Ao que parece, Tiago se dirige àqueles envolvidos com negócios, o que não deixa de ser aplicável a nós hoje, ainda que você não trabalhe diretamente negociando ou no comércio, toda a nossa vida é atravessada por planos e decisões que tomamos.

 

O versículo 14 destaca que nós não temos o pleno controle da nossa vida breve. Nos últimos meses, temos ouvido bastante o eco das vozes que dizem “a vida é um sopro”, “a vida é como a erva que logo murcha”. Muitas pessoas se utilizam de tais afirmativas para justificar o máximo de “aproveitamento” de suas vidas enquanto há existência. Nesse versículo, Tiago usa a figura da neblina para enfatizar que nós não temos o controle nem sobre nós mesmos, quanto mais dos nossos planos. Isso nos faz relembrar as palavras de Jesus no sermão do monte: Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Mt 6.27

 

O versículo seguinte aponta para a necessidade de uma atitude que vai além de um jargão, mas para uma atitude de dependência de Deus.  Aparentemente, a realidade entre aquelas pessoas era de orgulho e vanglória diante de suas próprias pretensões e planejamentos, como se fossem infalíveis.

 

Tiago não está condenando o ato de planejar, ou o planejamento em si. Assim como a bíblia não condena (inclusive, em Lucas 14.25-34, Jesus conta a parábola da construção da torre fazendo uma comparação com a necessidade de ponderar sobre o discipulado).  Ele fala especificamente contra o tipo de atitude autossuficiente, que se firma nas próprias certezas e tem em si mesmo um orgulho por suas conquistas consideradas independentes. Mas, por que essa postura é pecaminosa? O pecado está em fazer prevalecer a vontade humana quando ela é alheia à vontade de Deus.

 

 A bíblia afirma claramente que o coração do homem é enganoso (Jeremias 17.9/ Pv 4.23)

 

Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. (Pv 3.5-6)

 

Por mais que planejemos da melhor forma, nem sempre nossos caminhos são os melhores. É tolice ignorar Deus em nossas decisões. Com o coração enganoso e corrompido, consequentemente nossos planos são imperfeitos, o livro de Provérbios destaca isso:

 

Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor, a resposta da boca.
Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos. Confia ao Senhor as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos. Provérbios 16:1-3

 

Aqui há um destaque da atividade de Deus nos afazeres do homem. Tanto os planos dos homens quanto a sua execução estão sujeitos ao controle divino. “Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos” — descrevem a nossa estranha capacidade de nos cegarmos a nós mesmos. “Deus pesa os espíritos” significa que ele verifica a fundo as ações e avalia a motivação da pessoa.

 

Submeter-se a Deus colocando seus planos diante dele não significa sempre esperar por uma resposta mística do que fazer ou não, não significa que vamos sempre buscar extraordinariamente uma resposta. Se fizermos isso, significa que entendemos que as Escrituras não são suficientes para direcionar nossa vida. Obviamente, existem coisas que você não irá encontrar uma resposta exata, mas os princípios bíblicos podem e devem direcionar suas escolhas. O Senhor nos revelou muitas coisas em sua palavra e nós devemos estar atentos a essas coisas ao invés de viver sempre em busca daquilo que ele não disse. É mais fácil querer uma resposta pronta que usar os meios que ele nos deu para refletir, analisar, ponderar de acordo com as Escrituras e decidir.

 

Em contraste com a nossa visão parcial e afetada pelo pecado, em Deus não há engano. Ele não vê as coisas em parte, mas de forma completa. A soberania de Deus significa que ele tem infinito domínio, não há limites para a sua autoridade de agir. O controle está no cerne do que devemos entender quando falamos da soberania de Deus. Não há limites para o que ele controla, não existe ninguém capaz de prevalecer sobre seus planos e desfiá-los. Ele nunca perde o fio da história (Jó 42.2). O salmista declara:

 

O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e como rei domina sobre tudo o que existe. Salmos 103:19

 

Isso não significa que nós somos fantoches ou robôs, lembramos aqui do paradoxo da soberania de Deus e responsabilidade humana. Ele trabalha ativamente por meio da nossa obediência e passivamente por meio da nossa desobediência.

 

Como disse Jó, seus planos não podem ser frustrados, e ainda que pareça tudo errado e catastrófico, ainda que por meio do sofrimento e da dor, Deus realiza seus propósitos. Lembremo-nos da história de José, vendido pelos próprios irmãos, ele passou por momentos extremamente difíceis, tentação, prisão... Ainda assim, Deus não tinha perdido o controle. Ainda que seus irmãos tenham agido de forma pecaminosa, o Senhor usou isso para o próprio bem de José.

 

Mesmo que pareçam bons, nossos planos são imperfeitos. Ainda que pareçam ruins, os planos do Senhor são infalíveis e não podem ser frustrados. O que faz você confiar em si mesmo? O quanto nós estamos comprometidos com o mito de soberania própria? Há muitas características que Deus compartilhou conosco, mas soberania não foi uma delas. A sabedoria sim.

 

Podemos aplicar essas verdades a nossa vida reconhecendo que não somos autossuficientes e independentes de Deus, reconhecendo que ele tem sempre os melhores caminhos ainda que não sejam agradáveis a nós e reconhecendo que o dinheiro, o lucro ou qualquer tipo de bem não são alicerces seguros.

 

Assim como Deus cuidou do que já passou, o nosso presente e futuro estão em suas mãos. Saiba que seu planejamento é útil e prudente, mas depender de Deus é necessário e primordial.  Ele é o grande tapeceiro das nossas vidas, Ele nunca perdeu o fio da história da humanidade, mesmo quando por causa da dureza do coração humano o seu único filho foi posto em uma cruz. Esse mesmo Deus que triunfou em Cristo e nos livrou da morte eterna é o que continua nos conduzindo até Ele por meio de seus planos infalíveis. 

 

Juliany Correia


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