Solte o volante


Estamos sempre à procura de realizar o que faz o nosso coração pulsar mais forte. Nos movimentamos com intensidade durante a nossa vida inteira para tornar os nossos sonhos realidade. Quando algo muito esperado por nós se torna real, sentimos uma das melhores sensações, não é verdade? O sentimento de autonomia e independência nos invade. Acreditamos que somos nós mesmos a única ferramenta necessária para que toda a máquina que é a nossa vida funcione. Cada vez menos aceitamos a ideia de que somos finitos e dependentes, e a nossa tendência de autoafirmação nos impulsiona a sempre querer mais poder em todos os âmbitos de nossa vida. 

 

“Procuramos incessantemente modos de adquirir tudo o que desejamos e nos dispomos a sacrificar muito para alcançá-las. Nunca imaginamos que concretizar os desejos mais profundos do nosso coração talvez seja a pior coisa que poderia nos acontecer.” (Tim Keller).

 

O nosso anseio por controle e poder não é novidade. No jardim, isso já ficou bastante claro quando os nossos pais sacrificaram o que já possuíam em Deus para obter a falsa ilusão de que eram condutores do próprio destino. Não somos diferentes deles, pelo contrário, queremos também conduzir a nossa vida sem a necessidade de um outro. Gostamos de provar o gosto do poder nas nossas relações sociais e políticas, em nossas filosofias, na maneira como criamos os nossos filhos, comandando a nossa empresa, escolhendo os planos para os próximos anos, e a lista pode ser bem maior. Queremos ter o controle, o poder de todas essas coisa e fugimos desesperadamente da ideia de que necessitamos de um comandante que sabe melhor quais ventos devem levar o nosso barco indefeso, pois assumir isso nos traz impotência e fere o nosso orgulho.

 

Por que corremos entusiasmados atrás de um poder e um controle sendo que tudo ao nosso redor nos mostra que somos naturalmente dependentes? Se pensarmos sobre a nossa vida, muito do que nos ocorre não está sob o nosso controle. A Bíblia nos mostra isso diversas vezes e desnuda a nossa real condição, quem verdadeiramente somos.

 

“Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa.” (Tiago 4:14).

 

“Os seres humanos têm bem pouco poder real sobre a própria vida. Noventa e cinco por cento do que determina o curso de sua vida está absolutamente fora de seu controle. Isso envolve o século e o lugar em que nascem, quem são seus pais e família, o ambiente em que passam a infância, a estatura física, os talentos geneticamente programados e a maior parte das circunstâncias em que se descobrem. Resumindo, tudo o que somos e temos nos é dado por Deus. Não somos criadores infinitos, mas criaturas finitas, dependentes.” (Tim Keller).

 

Convido você a ponderar um pouco sobre o que Deus demandou de Abraão ao chamá-lo em Gênesis 12. O autor aos Hebreus relembra esse chamado enfatizando a verdade de que apesar de não ter poder algum sobre o que aconteceria, ele foi obedecendo ao comando do Deus vivo.

 

“Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como herança, embora não soubesse para onde estava indo.” (Hebreus 11:8).

 

Viver com Deus é viver submetido aos desejos Dele. Ele é o Guia da nossa existência. Apenas um relacionamento verdadeiro com o Pai pode curar a idolatria do nosso coração. Somente o nosso Deus pode retirar de nós a rebeldia e o nosso desejo por domínio que nos faz assumir o volante como se a nossa vida dependesse apenas de nós mesmos. Onde estamos depositando a nossa esperança? Naquilo que pensamos que dominamos? Em nossa própria performance? Em líderes religiosos ou políticos? Nada disso pode nos trazer realização plena e eterna, ou  solucionar as nossas aflições e aliviar as nossas angústias nessa terra.

 

Solte o volante. Ele não é seu por direito. Se insistimos em tomar as rédeas da nossa vida, estamos dizendo a Deus com todas as letras que Ele não é o Senhor da nossa existência. Se pensamos que as nossas filosofias e os nossos planos podem, de fato, nos proporcionar felicidade e sentido, estamos afirmando que os pensamentos e planos de Deus não são suficientes e que, na verdade, Ele não sabe o que é melhor para nós. Se acreditamos que a nossa autoridade, notoriedade, performance e poder são os responsáveis pela nossa prosperidade e que tudo o que temos são frutos das nossas mãos, então, assumimos que somos loucos em acreditar na mentira mais contada nos últimos dias de que podemos fazer e ter tudo.

 

Tenha em você o mesmo sentimento que houve em Jesus Cristo. Ele se esvaziou de sua glória e majestade para viver como servo e obedecer ao Pai (Fp 2). Em nosso relacionamento com Cristo podemos ter o nosso coração alinhado ao Dele. Então, experimentaremos o poder que essa relação nos proporciona e a idolatria não mais encontrará morada em nosso coração.

 

“[...] A insegurança se foi, o desejo intenso de poder foi arrancado pela raiz.” (Tim Keller).

 

Que assim seja!

 


Hellen Juliane

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Keller, Timothy. Deuses falsos: as promessas vazias do dinheiro, sexo e poder, e a única esperança que realmente importa. São Paulo: Vida Nova, 2018.


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