A prática da misericórdia

 

Lembro que aprendi, na adolescência, o conceito prático de misericórdia: misericórdia é não dar a alguém a punição merecida. O maior exemplo de misericórdia é o próprio Deus: merecíamos a condenação eterna, mas Ele não nos deu isso, pelo contrário, Ele nos concedeu a salvação. Recebemos a misericórdia de não sermos condenados e, além disso, a graça de sermos salvos. Nisto consiste o Evangelho: não é sobre nossas obras, méritos ou conquistas, é sobre a bondade de Deus. É sobre o Senhor! Nós somos apenas as feituras de Suas mãos, alcançadas por Sua misericórdia e graça.

 

Contudo, a misericórdia não deve fluir apenas de Deus em direção a nós, mas deve também fluir de nós para com os outros. Crentes nascidos de novo, alcançados pela misericórdia de Deus, são misericordiosos uns com os outros. A Bíblia diz que: se alguém afirma não ter pecado, é mentiroso. Isso significa que ainda precisamos, dia após dia, da misericórdia de Deus sobre nós. Não apenas no passado, nós também precisamos agora. Ter ciência disso deve ser suficiente para agirmos de modo semelhante com o nosso próximo.

 

Um grande empecilho à misericórdia somos nós mesmos. De maneira geral, nós somos pessoas orgulhosas, desejosas por executar nossa autojustiça. Ser misericordioso com o erro de alguém seria uma afronta à nossa ortodoxa exigência ao próximo, seria uma afronta ao arrogante legalismo que nutre o nosso ego. Esse cenário piora em uma situação que fomos diretamente afetados. O nosso coração caído grita: “eu estou certo(a)!” e nós o escutamos, porque ninguém quer abrir mão da razão, ninguém quer negar a si mesmo, ninguém quer diminuir.

 

Todavia, minhas irmãs, a vida cristã não é sobre recebermos misericórdia e darmos condenação. Assim como nosso Deus foi misericordioso conosco, nós devemos ser uns com os outros. A natureza caída é uma realidade que aflige a todos nós, por isso, diante de nossas imperfeições e fraquezas, precisamos contar com esse favor em nosso meio.

 

Misericórdia não é acatar o erro do outro, mas é se compadecer. É escolher acolher o outro mesmo que ele esteja sujo pelo pecado. É amá-lo, direcionando-o ao trono da graça para que suas vestes possam ser limpas. É oferecer graça e solução, em vez de oferecer insensibilidade e condenação. É a base que deve reger o anúncio das Boas-novas.

 

Diante disso, queridas irmãs, que nós possamos buscar no Senhor a graça de sermos mulheres misericordiosas, que entendem e transbordam do favor de Deus. Mulheres que são um lugar de suporte e acolhimento para aqueles que, em algum momento, perderam a luta contra o pecado, bem como aqueles que vivem escravizados sob o seu domínio. Assim, nossa vida apontará para o amor paciente e perdoador do nosso Senhor, além de sermos encontradas como mulheres "bem-aventuradas" Nele, para a Sua glória e para nossa alegria.


Millena Leal


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