[Série: Sendo mulher] - Sendo uma mulher com múltiplas emoções


Deus te criou de modo assombrosamente maravilhoso (Salmos 139:14) e Ele decidiu te criar repleta de emoções. Sim, até aquelas que às vezes incomodam. Sim, até mesmo a tristeza. Nascemos com a capacidade de sentir emoções das mais básicas, como raiva e nojo, às mais complexas, como vergonha e culpa.¹ Há boas razões para elas existirem e devemos ser gratas a Deus pelas nossas emoções. Somos mulheres abençoadas por tê-las, e também por servir a um Deus que sente, ouve-nos  e compreende o que sentimos.

 

Jesus chorou. (João 11:35).

 

Na minha angústia, clamo ao Senhor, e ele me ouve. (Salmos 120:1).

 

Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas… (Hebreus 4:15).

 

Diante disso, concluímos que Deus tem interesse em nossas emoções. O Senhor está atento ao que sentimos e ao modo como sentimos. Ele não está alheio a nós.

 

Há alguns mitos em relação às emoções que por diversas razões começamos a compreender como verdades. Esses entendimentos começam a orientar a nossa forma de lidar com as nossas próprias emoções e também as de outras pessoas. Um dos mitos mais acreditados e que repercute em nosso dia a dia é que as emoções “negativas”, como tristeza, medo, vergonha, não devem ser sentidas ou são ruins e pecaminosas. Outro mito acerca das emoções é que não devemos compartilhar com as outras pessoas o que sentimos, pois isso é um sinal de fraqueza ou incômodo. Por fim, vou destacar apenas mais outro mito. Por vezes, acreditamos que não conseguimos controlar as nossas emoções. Perceba que se tomamos esses mitos como verdades, toda essa compreensão nos orientará em nossa vida e isso é muito importante. Como pessoas que nasceram de novo, devemos entender como as nossas emoções influenciam o nosso viver. Precisamos compreender por que motivo sentimos o que sentimos. Ou seja, questionar-se de onde vêm as emoções que se sente é um bom começo para lidar com elas.

 

As nossas emoções têm funções. Elas podem comunicar algo para alguém. Quando estamos alegres por receber um presente de alguém amado, fica clara a nossa satisfação. Quando sentimos medo por identificar um perigo, comunicamos tanto para nós mesmos como para outros esse possível perigo. Além disso, as nossas emoções comunicam aquilo que mais valorizamos e amamos. Elas também nos motivam para agir. Quando sentimos medo, raiva ou tristeza, conseguimos identificar que o nosso próprio corpo reage. Ao nos deparar com o perigo ou com algo que nos aborrece, nos preparamos (até mesmo fisicamente) para lutar ou fugir (tomar alguma decisão). Quando nos entristecemos com algo, o nosso peito aperta, nossos olhos derramam lágrimas e nos preparamos para reagir ao que está acontecendo conosco. Por fim, posso destacar outra função que as emoções apresentam. Elas nos ajudam a  conectar com outras pessoas e também nos eleva a Deus.

 

Quando compreendemos que as nossas emoções têm funções, começamos a entender que até as emoções das quais tentamos fugir são importantes, e muitas vezes devemos senti-las. Precisamos sentir medo se há perigo. Nos sentimos tristes e angustiados se perdemos alguém ou algo que estimamos. Sentimos raiva quando algo nos incomoda. Sentir emoções não nos faz pecadoras. Jesus sentiu e a Bíblia nos afirma que em nada Ele pecou (Hebreus 4:15). O nosso Senhor se alegrou (João 15:11), se compadeceu das pessoas (João 4), se irou (Mateus 21:12), se entristeceu em diversas situações (João 11; Mateus 26:36-46).

 

Até aqui compreendemos um pouco sobre as emoções e algumas de suas funções. Talvez uma pergunta que nos persegue e que nem sempre é tão fácil de ser respondida é: como lidar com as minhas emoções, então? Já entendemos que somos mulheres criadas com múltiplas emoções, mas como lidar com elas em nosso cotidiano? Atualmente fala-se muito sobre as emoções. Em alguns casos, exageramos o valor que as emoções têm em nossa vida a ponto de nos definir a partir daquilo que sentimos (seja algo positivo ou não). Mas, o contrário também parece ser real. Por vezes invalidamos o que sentimos e não nos preocupamos com nada relacionado a isso. Contudo, a Palavra de Deus lida com as nossas emoções e também demanda de nós que não ignoremos o que sentimos, pois isso revela onde o nosso coração repousa.

 

Our emotions are neither the most important thing about us, something to be worshiped, nor are they the least important, a problem to be avoided or ignored. [As nossas emoções não são nem a coisa mais importante sobre nós, algo para ser adorado, e nem são a menos importante, um problema a ser evitado ou ignorado].²

 

Um bom caminho a percorrer para começar a lidar com as nossas emoções é compreendê-las como expressões daquilo que amamos. O nosso coração se apega e costuma entregar-se àquilo que ama. Também precisamos entender que a nossa identidade não está ancorada naquilo que sentimos, mas em Cristo e naquilo que Ele fez por nós.

 

Aquilo com o qual você se importa molda a maneira como você sente. Suas emoções estão sempre expressando as coisas que você ama, valoriza e entesoura, quer você as compreenda ou não.³

 

Quando se passa anos desempregada e uma oportunidade de emprego chega, podemos chegar a saltar de alegria (literalmente) e a valorizar tal emprego. Isso não é ruim. Isso apenas nos mostra que sentimos alegria porque valorizamos essa experiência. Se acontecer algo que nos faça novamente ir para as estatísticas de desemprego em nosso país, provavelmente ficaremos tristes ou com medo, ansiosas em relação ao futuro. É válido lembrar que dependendo da maneira como lidamos com o que sentimos, podemos pecar ou não. Nesse exemplo, apenas quero enfatizar que o valor, a estima, aquilo que nos é importante molda o que sentimos.

 

Fica claro que para entender o que sentimos e o que as nossas emoções revelam sobre nós mesmas, necessitamos de autoavaliação. Precisamos identificar, examinar, avaliar o que estamos sentindo e, por fim, agir em relação a tudo isso. O que sentimos pode descortinar coisas boas e más ao nosso respeito. Não devemos fugir das nossas emoções mesmo quando elas nos indicam que o nosso coração está amando algo que não deveríamos e por isso estamos agindo de uma forma errada. Independente do que as suas emoções expressam, leve-as a Deus. Para que consigamos lidar com o que sentimos, devemos envolver Deus nesse processo. Tentar lidar com as emoções sem incluir o nosso Pai nesse processo é insensatez e o fim é claro: desastre.

 

Se queremos aprender a lidar com o que sentimos, precisamos entregar ao Senhor as nossas emoções. Davi foi um homem que levava as suas emoções ao Senhor em oração, súplicas e ações de graças. Fazendo isso, o rei Davi descortinava o seu coração diante de Deus.

 

Tem compaixão de mim, Senhor, porque eu me sinto debilitado; sara-me, Senhor, porque os meus ossos estão abalados. Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago. (Salmos 6:2,6).

 

Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor. (Salmos 12:1).

 

O nosso maior e perfeito exemplo é o Senhor Jesus. Ele lidou perfeitamente com as suas emoções, e como a nossa identidade está ancorada Nele e estamos diariamente sendo moldadas para nos parecer com Cristo, devemos, então, aprender com Ele acerca de como lidar com as emoções. Com o relato do apóstolo João sobre a morte de Lázaro, percebemos que Jesus não fugia de suas emoções e nem tentava escondê-las.

 

Quando Maria chegou ao lugar onde estava Jesus, ao vê-lo, lançou-se aos pés, dizendo: Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê! Jesus chorou. Então, disseram os judeus: Vede quanto o amava. (João 11:32-36)

 

Quando estava no Getsêmani pouco tempo antes de ser preso, compartilhou o que sentia com os seus discípulos e também com Deus em oração. Ao fazer isso, Jesus submetia as suas emoções ao Pai.

 

E, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres. (Mateus 26:37-38).

 

Tendo isso em mente, precisamos compreender três importantes aplicações para nós baseadas na vida do nosso Senhor. Primeiro, as nossas emoções não nos controlam, mas nós devemos compreendê-las e controlá-las. Segundo, podemos compartilhar o que sentimos com aqueles que nos cercam. Não precisamos fugir das nossas emoções (mesmo aquelas que nos incomodam um pouco), nem precisamos fingir que não as sentimos. A Bíblia nos adverte a nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (Romanos 12:15). Terceiro, devemos derramar o nosso coração diante de Deus (Salmos 62:8). O Senhor está atento para ouvir tanto os nossos clamores como os nossos deleites. Ele ouve tanto o nosso choro como o nosso louvor em ações de graças. É incrível o que esse autor aponta em relação a isso:

 

Precisamos reforçar esse ponto. Todos nós somos facilmente presunçosos, cegos para o privilégio que nos é oferecido no chamado de Deus para derramar nosso coração. Imagine, o próprio Pai se importa com o que você pensa, convida você a conversar seriamente com ele a qualquer momento, pelo tempo que você precisar. Uma honra impressionante — mas, ainda assim, vemos a oração como um dever cansativo.

 

Derramamos o nosso coração com a certeza de quem nos ouve também nos atende.

 

Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos. (Salmos 18:6).

 

Por último, gostaria de me endereçar às mulheres que estão em sofrimento. Talvez as emoções mais sentidas por vocês nos últimos dias foram o medo e a tristeza. Faça com que as suas emoções lhes direcionem para mais perto de Deus. Entreguem totalmente o seu coração ao Senhor. Fale a Ele tudo o que se passa com vocês. Cada detalhe daquilo que sentem, derramem Nele. Ele saberá o que fazer!

 

A você que tem o coração quebrantado, Jesus conhece todas as suas aflições, pois aflições semelhantes foram a sua porção também.

 

Lembrem-se:

 

Nossa esperança não é a ausência de nosso pesar, ou sofrimento, ou dúvida, ou lamento , mas a presença de Jesus.


Hellen Juliane

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¹ Leahy, Robert L. Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre : Artmed, 2013.

² Groves, Alasdair. Your emotions aren’t the most (or least) important thing about you. Publicado em: 6, maio, 2019. Disponível em:  https://www.thegospelcoalition.org/article/emotions-important/. Acesso em: 15 de março de 2023.

³ Groves, J. Alasdair; T. Smith, Winston. Organize suas emoções. Edição do Kindle. São José dos Campos: Editora Fiel, 2022.

 ibid.

⁵ Eswine, Zack. A depressão de Spurgeon: esperança realista em meio à angústia. São José dos Campos: Fiel, 2015.

 ibid.

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