[Série: Sendo mulher] - Sendo uma mulher no século XXI

 


Mulher. Confesso que algumas vezes retruquei comigo mesma o fato de ter nascido mulher, quando nova convertida e com o coração queimando por missões, almejava ir ao campo transcultural sozinha. Comecei a imaginar todos os desafios que estariam presentes se fosse enviada dessa forma, com minha vulnerabilidade e limitações diante de todos os perigos e desafios que qualquer mulher enfrenta neste mundo caído.

 

Como amante de biografias inspiradoras que sou, percebi que geralmente os homens se destacam quando se fala de missionários, reformadores, pregadores, etc. Em contrapartida, vi que poucas mulheres eram enviadas para o campo missionário sem estar casadas, as quais se contentavam com sua vida comum no lar. Ficava intrigada por me sentir incapaz de poder fazer as coisas que eu gosto e de servir a Deus com isso, embora não entendesse o que de fato significava ser uma mulher segundo o coração do Senhor, a quem dou graças por ter mudado minha visão de 15 anos atrás e por termos mais exemplos de mulheres servas de Deus que inspiram nossa fé hoje.

 

Ao estudar as Escrituras, minha visão medíocre de feminilidade foi sendo moldada pelos princípios revelados pelo Senhor, e os seus propósitos para mim como mulher foram se tornando cada vez mais claros. Percebi que existe beleza na feminilidade bíblica e que não somos mulheres por mero acaso - sim, existe beleza e propósito em ser mulher. Não viemos a esse mundo por mera coincidência ou sorte; o Deus perfeito, sábio e amoroso formou o nosso ser, e isso é sobremodo glorioso.

 

Nos últimos anos, é notório que as mulheres que têm ganhado destaque no meio midiático são as mulheres guerreiras, aquelas que lutam por si mesmas e que não precisam de um príncipe encantado. A ideia da princesa que aguardava pelo seu amado, indefesa e necessitada de sua proteção, tem se perdido nos filmes, novelas ou séries, isso mostra que a visão a respeito da  feminilidade tem sido mudada em nosso tempo.

 

Não sou a favor dessas imagens estereotipadas e mencionadas acima. Entendo que a mulher romantizada nos filmes como a princesa encantada não é nem sequer o que existe nas nossas vidas como mulheres hoje, e que não podemos ver a realidade com essa ótica de fantasias, aguardando um casamento para nos sentirmos completas. Também entendo que a mulher guerreira e independente, que luta por seus ideais com seus superpoderes, de semelhante modo, não reflete a nossa realidade, nem precisa refletir. Somos mulheres guerreiras, mas também vulneráveis. Fortes, mas também sensíveis. Femininas, mas não incompletas. Submissas, mas não inferiores. Somos mulheres sem necessidade de provar o nosso valor por meio do esforço próprio, pois tal valor que possuímos foi provado em uma cruz ensanguentada, aquela carregada por aquele cuja opinião realmente importa. Nem a princesa encantada, nem a guerreira invencível - a mulher real.

 

Para onde então olharemos em nossa busca de referenciais? Nancy Leig DeMoss responde no famoso trecho de seu livro “Mulher cristã: repensando o papel da mulher à luz da Bíblia”:

 

Deus nos criou, e ser criação de Deus define tudo para nós como mulheres. Não olhamos para a cultura ao nosso redor para encontrar nossa identidade feminina; não sondamos nossas emoções para descobrir nosso propósito. Tudo o que somos e fazemos deve ter suas raízes firmadas em Deus.¹

 

Na Bíblia, encontramos diversas mulheres da vida real, que protagonizam histórias das quais podemos extrair lições. Há mulheres que devemos imitar, como Rute com seu amor e serviço, Abigail com sua sabedoria e submissão, Ester com sua coragem e temor a Deus, Maria com sua humildade e fé, dentre tantas outras. Contudo, há mulheres que devemos aprender com seus erros a fim de não imitá-los, como Eva com sua cobiça e insubmissão, Jezabel com sua astúcia e maldade, a mulher de Jó com suas murmurações e incredulidade, etc.

 

Na Palavra de Deus, encontramos tudo o que precisamos para ser uma mulher segundo o seu coração, expressando a nossa feminilidade de maneira que glorifique o seu Nome e revele a sua beleza neste mundo obscuro. Ainda que possamos nos inspirar em referenciais terrenos, é preciso ter cuidado com nossas emoções e pensamentos falhos, pois somente Cristo é o modelo perfeito e a solução para homens e mulheres pecadores.

 

Fico a me perguntar o que aconteceria se as mulheres cristãs não se contentassem com os padrões impostos de feminilidade ao nosso redor, mas dedicassem suas energias e tempo ao tentar conhecer mais a palavra de Deus e o Deus da palavra. Como teríamos mulheres mais contentes, mais gratas, mais felizes, mais servas. Mulheres que esperam em Deus quando os medos e ansiedades surgem, que sorriem diante o futuro, que não procuram seus próprios interesses, mas os de outrem e que enfrentam seus desafios com força, destemor e dependência divina.

 

Que não esperemos isso das outras pessoas, mas que possamos com humildade rogar ao Senhor que comece em nós a mudança que desejamos ao nosso redor, pois o Senhor que nos criou nos ouve em nossos desejos mais profundos, nos vê em nossos mais variados contextos e nos ampara em nossos dias mais tenebrosos. Ele é a nossa suficiência, a quem podemos recorrer sempre que precisarmos, a nossa salvação, a nossa satisfação. Precisamos lembrar quem somos à medida que entendemos quem Ele é. Dele extraímos todas as respostas que necessitamos a respeito do que significa ser homem ou mulher e Nele encontramos a nós mesmas.

 

Para aprendermos o significado de ser mulher, devemos começar por aquele que a criou.²

 

E Ele quer nos usar, aqui e agora.

 

Não pense que você tem de ser extraordinária para ser usada por Deus, Não precisa ter dons, talentos, habilidades ou ligações especiais. Deus é perito em usar gente comum, cujas fraquezas e limitações fazem delas exemplos ideais para sua grandeza e glória.¹

 

Que digamos ao Senhor: “Eis-me aqui, usa-me como a mulher que o Senhor desejar, em meu tempo, em minha casa, em meu trabalho, em minha universidade, em minha vizinhança, onde o Senhor permitir que eu coloque os meus pés, que ali possam ver uma extensão da beleza do Criador refletida no fato de eu ser a mulher que me criaste para ser.

 

Thayse Fernandes

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¹ DEMOSS, Nancy Leigh. Mulher cristã: repensando o papel da mulher à luz da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2012.

² ELLIOT, Elisabeth. Deixe-me ser mulher: lições à minha filha sobre o significado de feminilidade. São José dos Campos, SP: Fiel, 2021.


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