[Série: Sendo mulher] - Sendo uma mulher que serve a Deus


Servir a Deus tanto significa amá-lo e obedecê-lo, como também significa servir ao outro. O serviço é uma prática cristã resultante de um coração cheio de amor que, com frutos visíveis, demonstra que verdadeiramente ama dedicando-se ao outro.


Em tempos de muitas tarefas e rotinas agitadas, ter um momento para dedicar-se ao outro fala ainda mais alto sobre o Amor. Hoje em dia, o “normal”, e até mesmo o mais simples, é viver uma vida voltada para si mesmo, esquecendo e descartando tudo aquilo que não diga ao seu próprio respeito. Contudo, a nós, crentes, o Evangelho nos chama a olhar para o outro e servi-lo com amor.


“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.” (Gálatas 5:13)

 

Não há como dissociar a fé cristã do serviço ao próximo. A palavra de Deus nos chama a ser misericordiosos e bondosos uns com os outros (Efésios 4:32), a dedicar-nos uns aos outros (Romanos 12:10), acolher-nos (Romanos 15:7), levar os fardos uns dos outros (Gálatas 6:2), ou seja, amar e servir ao próximo.


Isso porque, nessa nova vida, estamos sendo conformadas à imagem do Filho, e o Filho carrega em si as marcas do amor sacrificial. Jesus não considerou que ser igual a Deus era algo que devia apegar-se, mas esvaziou a si mesmo e assumiu a forma de servo. O Deus Filho despojou-se de Sua glória, se fez carne e viveu entre os homens como Alguém que veio para servir, e não ser servido.


Isso não deve apenas nos admirar e constranger, mas deve nos impelir a buscar ter o mesmo coração do Mestre, pois Ele mesmo disse: “Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (João 13:13-15).


Assim, não há como ter dúvidas de que o serviço cristão é uma ordenança e uma marca de todos aqueles que seguem e amam ao Senhor. Contudo, minhas irmãs, devido ao nosso coração caído, corremos o risco de inverter a lógica do serviço. Por isso, é importante termos em mente que: a prática das boas obras não é capaz de atribuir a nós valor e identidade – isso só pode ser feio pela obra salvadora de Cristo.


Ao servir o nosso próximo com amor e constância, não estamos agregando a nós mais valor, não estamos nos tornando mais amadas por Deus, nem mesmo podemos nos considerar alguma coisa devido a isso. Pelo contrário, por termos recebido valor, dignidade, amor e identidade em Cristo Jesus, nós amamos e servimos uns aos outros. O serviço é um fruto e não uma condição.


Contudo, se não submetermos o nosso coração ao Senhor para que Ele, diariamente, endireite os nossos caminhos, corremos o risco de confundir estas coisas. Afinal, estamos inseridas em um contexto meritocrático, de produtividade extrema e busca pela identidade em coisas corruptíveis, no qual podemos, sem perceber, ser sutilmente influenciadas por esta visão.


Aquele que entende o verdadeiro e genuíno serviço, faz porque entende o que por ele foi feito, em quem ele foi tornado e para quem ele vive. Essa prática deve nos acompanhar como um bom perfume de Cristo, um fruto visível do amor, um transbordar da graça de Deus em nós. Em nossas famílias, em nossa igreja, na sociedade, seja a um ímpio ou a um crente, ao considerar as necessidades das pessoas e servi-las, falaremos sobre Aquilo que cremos e trazemos em nós – Cristo.


Outro ponto importante a respeito da prática do serviço cristão, é que um servo deve estar saudável para servir bem e que, para isso, também precisa cuidar de si. No início da minha fé, eu olhava o cuidado próprio como pecaminoso, egoísta – e, de fato, pode ser, mas isso não significa que nós não devamos ter nenhum nível de cuidado conosco. Não podemos negar que há um cuidado legítimo, recomendado pelas Escrituras, que faz parte da mordomia cristã, da ciência que prestaremos conta de nós a Deus.


Precisamos servir ao nosso próximo de forma constante e amorosa, mas também não podemos descuidar de nós mesmas, visto que as nossas obras precisam ser fruto de uma vida íntegra, inteiramente reta diante de Deus. Ter um inegociável momento de devocional, um tempo de descanso, dedicar-se à prática de exercício físico, ir regularmente aos médicos, são ações que fazem parte de cuidados que podemos ter conosco que nos habilitam a servir bem ao outro. O próprio apóstolo Paulo escreveu a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Timóteo 4:16).


Sendo assim, queridas irmãs, que possamos ser servas genuínas do nosso Senhor. Servas que cuidam de si mesmas e estão habilitadas ao cuidado com o outro. Servas que servem como consequência do que são e do que receberam em Cristo Jesus. Servas que escolhem não viver apenas para si, mas que escolhem ver e considerar também o outro.


Que Deus, em Cristo, nos abençoe.

 

Millena Leal

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