Deus conta com os "de Nazaré": os improváveis, os desprezados e imperfeitos.
Quando olhamos para
o relato de João sobre a conversa entre Filipe e Natanael, somos levados a uma
intrigante pergunta que Natanael faz a Filipe: "De Nazaré pode sair alguma
coisa boa?" (Jo 1.46). Nessa pergunta, fica evidente certo preconceito por
parte de Natanael em relação a Nazaré. Mas por que isso?
Nazaré era uma
cidade pequena, com não mais de duas mil pessoas. Era um lugar não muito
valorizado pelos judeus, era desprezada. Este não era um local de onde se
esperava sair o Messias. E o Antigo Testamento era claro ao afirmar que o
Messias seria de Belém da Judeia (Mq 5:2). A pergunta de Natanael equivale a
uma conclusão precipitada: nada de bom poderia sair de Nazaré. Contudo, o
Evangelho nos surpreende ao nos apresentar Jesus Cristo vindo de Nazaré.
Natanael tinha esse
pensamento. Como um rei viria de um lugar como Nazaré? Deus não escolhe aquele
que o mundo espera e recompensa. Assim como as histórias dos personagens
escolhidos da Bíblia: nunca os de Jerusalém, por assim dizer, mas sempre os
"de Nazaré".
Por exemplo, havia o
princípio da primogenitura na época da cultura judaica. O filho primogênito
receberia a herança e herdaria grande parte da riqueza, assegurando
assim que a família mantivesse o status e a posição na sociedade. Desse modo, entendemos que os demais filhos não tinham certas regalias que o primogênito possuía. No
entanto, em toda a Bíblia, quando Deus escolhe alguém por meio de quem atuar,
geralmente prefere o irmão mais novo. Preferiu Abel a Caim, Isaque a Ismael, Jacó a
Esaú, Davi a todos os onze irmãos mais velhos.
Outra tradição
cultural da antiguidade revelada em Gênesis: naquelas sociedades, mulheres com
muitos filhos eram exaltadas como heroínas. Ter muitos filhos significava
sucesso econômico, militar e, claro, que a probabilidade de perpetuar o nome da
família estava garantida. Por isso, as mulheres que não podiam ter filhos eram
humilhadas e estigmatizadas. Contudo, ao longo de toda a Bíblia, quando Deus
nos mostra como opera por meio das mulheres, escolhe aquelas que não podem ter
filhos e abre-lhes a madre. São mulheres desprezadas, mas Deus as prefere em
relação às amadas e abençoadas aos olhos do mundo. Ele escolheu Sara, esposa de
Abraão; Rebeca, esposa de Isaque; a mãe de Samuel, Ana; a mãe de João, Isabel.
Assim também aconteceu
com Jesus. Ele não é reconhecido como alguém vindo de Belém, como um belemita,
e as pessoas poderiam dizer "Ah, ele veio da cidade em que nasceu o rei
Davi". Contudo, ele foi conhecido como um nazareno. Jesus escolheu ser
conhecido como vindo de Nazaré. O desprezado dos desprezados, porque a sua
redenção envolvia tornar-se um desprezado, a fim de que você e eu fôssemos
favorecidos.
Deus conta com os
improváveis e inadequados, como uma vez meu esposo Tarciso Braz pregou:
“Nós somos ferramentas inadequadas, e glória a Deus por isso, para que a glória não seja nossa, mas como disse o Apóstolo Paulo, que possamos nos gloriar nas nossas fraquezas, já que nelas o poder de Deus é aperfeiçoado.
Contudo, o artista
experiente, mesmo com ferramentas inadequadas, é capaz de fazer obras
extraordinárias, pois seu talento e habilidade são capazes de extrair o melhor
dessas ferramentas, apesar de suas imperfeições.
Assim, Deus, O
grande artista, sabe como nos usar, ferramentas inadequadas, para fazer obras
extraordinárias, além do que podemos imaginar, pois Seu poder e excelência
superam nossas inadequações e imperfeições, bastando estarmos disponíveis para
ser usados por Ele, com um coração que clama: Eis-me aqui, usa-me”.
A lógica a respeito
do Reino de Deus é diferente da nossa e, nessa lógica, Deus conta com os
"de Nazaré”. E você deve estar se perguntando como saber se sou ou não
"de Nazaré"? Na verdade, todos nós somos, pois à vista do que já
tratamos até aqui, todos nós somos imperfeitos, pecadores, pequenos. Somos
assim, e Deus nos convida a reconhecermos isso e também vivermos em humildade,
sabendo que nada vem de nós. Apesar disso, Ele decide nos usar.
Hoje podemos fazer
um exame em nosso coração e reconhecermos que também somos de Nazaré. Podemos
hoje alegremente despertar para o fato de que Deus ama tratar com pessoas
assim, pessoas de “Nazaré”, imperfeitas, mas que são usadas poderosamente por
Aquele que é perfeito!
Por isso, bem
aventurados os pobres e humildes, porque destes é o reino de Deus. Bem
aventurados aqueles que se reconhecem "de Nazaré”. Aqueles que não confiam
na própria força, aqueles improváveis. Com pessoas de Nazaré Deus trabalha! É
exatamente com gente que se acha "de Nazaré" que Deus conta para o
seu Reino.
Kelly Balbino
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