O que há por trás de tanto exibicionismo nas redes sociais?


Outro dia, tive saudade do tempo em que eu tinha mais contato com a literatura, especialmente a medieval. Revirei meus livros e voltei a antigas anotações sobre vários movimentos literários. Demorei-me na segunda geração do Romantismo, a que mais me intrigava.

Foi na segunda metade do século XIX que a literatura Ultra-Romântica, como também é chamada, foi produzida. Uma das mais importantes particularidades desse tipo de literatura é a evasão da realidade, que gerou pessimismo, isolamento, melancolia, tédio, desilusão e dor existencial. Esse comportamento caracteriza-se pelo que ficou conhecido como o “mal do século”, uma crise existencial que seria consequência direta do racionalismo frio do Iluminismo. Por essa razão, os poetas ultra-românticos são profundamente sombrios, apresentando uma visão bastante pessimista da vida. Nesse tocante, Álvares de Azevedo é o maior exemplo entre os poetas brasileiros dessa época. 

A crise de valores e crenças do século XIX levou as pessoas a tentarem fugir da realidade no subjetivismo e egocentrismo que as levava a disposições trágicas, entregando-se aos vícios, comportamento esse, retratado nas obras literárias do Romantismo da segunda geração.

Mas teria todo século o seu mal? Se a resposta for sim, qual seria, então, o mal do nosso século?

Eu entendo que o mal de todos os séculos dessa ordem de existência é o pecado, mas há tendências em determinadas épocas que acentua mais algumas de nossas inclinações pecaminosas do que outras. Se a geração da segunda metade do século XIX fugia da realidade para a melancolia e os vícios, para onde fogem as pessoas do nosso tempo? Qual é o escape? Honestamente, eu não penso que haja um único escape, mas vários, no entanto, como não posso abordar em um texto todos os assuntos que gostaria, nesse texto eu pretendo tratar de uma tendência cada vez mais crescente em nossos dias, que tem se mostrada como uma evasão da realidade – o exibicionismo!

Uso a palavra exibicionismo para referir-me ao habito de uma pessoa ostentar a si mesmo e/ou suas posses, e hoje, onde isso acontece com mais intensidade e extravagância são nas redes sociais. Preciso deixar claro que não é, necessariamente, errado publicar fotos pessoais e de bens materiais em nossas redes sociais, o que está sendo abordado nesse texto é a extravagância, a falta de bom senso, o uso desequilibrado das mídias sociais na exposição pessoal.

Há um apelo em toda a nossa cultura por superexposição: compramos a ideia de que precisamos mostrar tudo o que temos e o que somos, parece não haver mais delimitações entre o público e o privado. No passado as pessoas tiravam fotos de aniversários, casamentos, etc. Hoje elas tiram do que vão comer. Tudo precisa ser registrado e publicado. Como disse o sociólogo Zygmunt Bauman:

“Os tempos atuais escorrem pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar”

Mas porque fazemos isso? Já parou pra pensar, qual a motivação por trás de toda essa exposição desnecessária? Por que se exibir tanto?

Parece que o profundo anseio escondido por trás de toda essa superexposição é o desejo de as pessoas quererem mostrar para o mundo quem elas gostariam de ser. Gostariam de ser sempre bonitas, de estarem sempre rodeadas de amigos, de relacionamentos a mil maravilhas, de frequentar os restaurantes mais caros, de refeições além do padrão, de viagens a lugares incríveis, de ter dinheiro para bancar tudo isso, de sorrisos, de se sentirem sempre felizes, determinadas, esperançosas, enfim. Precisamos mostrar para nossos “amigos” que nossa vida é maravilhosa, mesmo não sendo, porque não suportamos a ideia de que os outros estejam felizes e nós não, então precisamos construir nosso mundo de fantasias, colorido e super divertido e expor, sim, expor para todos verem nossa vida desejável, ainda que seja só uma falácia.

Nós podemos ter uma vida realmente feliz, mesmo tendo de lidar com os problemas que são pertencentes a esta realidade, quando temos paz em Deus e estamos contentes e agradecidas pelo que Ele é para nós e por tudo o que nos deu. Essa felicidade não é expressa em exposições fúteis em que o centro somos nós mesmas.

Seu perfil nas redes sociais é uma plataforma para seu exibicionismo? Alguém dirá: “Claro! O perfil é meu.” No entanto, como cristãs, precisamos lembrar que está registrada na Bíblia a história de um homem que usou o palco de sua própria vida para a “exibição” dAquele que é maior que todos. Esse homem foi João Batista. Certa vez ele disse:

“É necessário que ele [Jesus] cresça e que eu diminua.” (João 3:30)

Que declaração grandiosa e difícil de ser absorvida por uma geração cuja mentalidade é regida pela supervalorização de si mesma.

Mulheres, se Cristo é o vosso Salvador, então é mais importante que Ele seja “exibido” em sua vida do que você mesma. O mundo não precisa de mais um rostinho bonito, mas do Poderoso Salvador que pode resgatar as pessoas de suas vidas pecaminosas. E nós fomos chamadas para contar ao mundo a história da nossa salvação, dando glórias eternamente ao que nos amou e nos lavou com Seu sangue.

Definitivamente, o mundo já tem mulheres fúteis demais, egocêntricas demais, sensuais demais, interesseiras demais... Deus quer formar o caráter do Seu Filho em você. Então diminua para que Ele cresça. Isso será visto através de uma vida piedosa, que será expressa em todas as áreas da vida, em todas as atividades, em todos os relacionamentos.

Podemos até ter algum prazer com as muitas curtidas e comentários em nossa autoimagem, mas não há prazer maior do que fazer aquilo para o qual fomos criadas - glorificar a Deus. Nisso está a satisfação do anseio mais profundo de nossa alma.

Use suas redes sociais com moderação e humildade quanto aos seus atributos, virtudes e posses, mas que sejam saturadas de Cristo e Sua obra perfeita.


Sonaly Soares

32 comentários:

  1. Respostas
    1. É uma alegria para nós poder de alguma forma ajudar, Luana.

      Um abraço!

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  2. Ótimo texto!!o mundo ta desse jeito mesmo!!

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  3. Que texto mais tocante!!

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  4. Precisava ouvir isso.... obrigada.💕

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