Série: Perguntas nos Salmos: Que darei eu ao Senhor?
O Salmo 116 faz
parte da categoria dos que conhecemos como Salmos de gratidão, pois delata o
reconhecimento e a profunda devoção de um homem que teve a sua oração
respondida por Deus. Apesar de muitos o atribuírem a Davi, não sabemos ao certo
quem o compôs, como também não conhecemos o contexto em que ele se encontrava.
É um salmo muito pessoal, pois em dezenove versículos vemos a primeira pessoa
do singular aparecer mais de trinta vezes.
O salmista inicia
suas palavras com uma afirmação: “Amo o Senhor”, seguida de uma razão: “Porque
ele ouve a minha voz e as minhas súplicas.” Ele prossegue no versículo dois de
forma semelhante, dizendo que porque o Senhor inclinou os seus ouvidos para ele,
O invocaria em toda a sua vida.
No versículo três,
ele descreve como era a sua situação antes de ser atendido pelo Senhor, e em
concordância com o seu relato, era um situação acentuadamente angustiante. Ele
diz:
“Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim”.
Na poesia hebraica,
morte e inferno (ou “Sheol”) são termos bem agressivos, denotando algo que
agarra os vivos para desgastá-los com doenças ou esmagá-los com depressão¹;
então, o salmista estava sobremodo afligido, tendo, por causa disso, caído em
“tribulação e tristeza” (v.3).
Até que ele clama
ao Senhor: “Ó Senhor, livra a minha alma!” A sua oração não foi um apelo
silencioso, mas foram gritos de desespero, ao ver a si mesmo humanamente sem
esperança, diante de algo que exauria todas as suas forças, o deixando
arremessado ao chão e afundado em tristeza. Ele contemplava a morte bem
próxima, e os seus olhos não conseguiam encontrar nenhum meio de escape, além
do Senhor, a quem recorreu em oração. Quando todos os recursos humanos
falharam, ele sabia que podia ainda recorrer aos recursos divinos, e neles
encontrou o alívio para a sua alma, porque o Senhor é compassivo, justo e
misericordioso, que vela pelos simples, e Ele o livrou! (vs. 5-6).
O salmista podia
dizer à sua alma: “volta ao teu repouso” (v.7), porque o Senhor havia estendido
sobre ele a sua bondade. Ele poderia dizer para ela:
“Repouse e fique tranquila, não se agite com temores inquietantes e receosos como fazes de vez em quando.”²
Como também:
“Repousa em Deus. Retorna a Ele como teu repouso, e não busca esse repouso na criatura, pois ele deve ser encontrado só Nele.”²
O Senhor havia lhe
dado um tríplice livramento: a sua alma da morte, os seus olhos da tristeza, e
os seus pés da queda, e agora ele tem condições de andar em Sua presença, e é
isso o que ele se prontifica a fazer enquanto existir (vs. 7-9).
O salmista confessa
que apesar de ter estado muito aflito, ele creu, e que em sua perturbação
pensou que todos os homens fossem mentirosos (v.10-11), que não havia
absolutamente ninguém a quem ele podia confiar e recorrer quando precisasse. E
agora, depois de liberto, ele deseja expressar de alguma forma a sua gratidão
ao seu Senhor. Porém, ele se depara com a sua própria insuficiência em dar algo
que possa retribuir tudo o que Ele tem feito em seu favor. Então,
pergunta:
“Que darei eu ao SENHOR por todos os seus benefícios para comigo?” (v. 12).
Conforme ressalta
João Calvino, ele
“Exclama, com piedosa admiração, que o volume dos benefícios de Deus era maior do que as palavras que ele poderia achar para dar vazão às gratas emoções de seu coração. A indagação é enfática: o que darei? E declara que se sentia destituído não do desejo, e sim do meio que o capacitariam a render graças a Deus [...] ‘Estou muitíssimo disposto a cumprir meu dever, mas, quando olho ao meu redor, não encontro nada que seja uma recompensa adequada.’”³
Quantos benefícios
nós mesmas também temos recebido do Senhor? Se considerarmos, são mais do que
somos capazes de lembrar! E assim como o salmista, não temos condições nenhuma
de retribuí-Lo por eles. Então, o que podemos fazer? O que nos resta é
gratidão! Demonstrar de alguma forma o quanto somos gratas Àquele de quem temos
recebido todas as coisas.
O salmista iria
demonstrar sua gratidão de quatro formas. Iria tomar o cálice da salvação,
invocar o nome do Senhor, pagar os seus votos e oferecer sacrifícios de ações
de graças (vs. 13-14, 17-19). Ele remonta a coisas que eram comuns em sua
época, sob o regime da lei. Iria em direção ao templo, com uma oferta em suas
mãos, para que um sacrifício fosse realizado, junto com a libação do vinho, ou
seja, o cálice da salvação, e da gratidão pública ao Senhor. Além disso, ele
iria invocá-Lo, e pagar todos os votos que fizera ainda quando estava em sua
aflição. Ele diz duas vezes que iria cumprir os seus votos ao Senhor diante de
todo o povo (vs. 14, 18), e que iria invocar o Seu nome (vs. 13, 17).
Mas, acima do
sacrifício do animal, estava o sacrifício da sua vida. Ele já dissera que amava
o Senhor (v.1), que invocaria o Seu nome durante toda a sua vida (v. 2) e que
andaria em sua presença aqui na terra (v. 9). Então, ele estaria diante do
Senhor, desfrutando de Sua presença, continuamente. Ele não agradeceria ao
Senhor apenas uma vez, mas a sua vida seria uma vida de eterna gratidão. Ele
não se esqueceria Dele num só momento, antes, viveria para Aquele em quem
residia a sua plena felicidade.
Não precisamos mais
oferecer sacrifícios de animais ao Senhor, porque o sacrifício perfeito já foi
realizado por Jesus na cruz do Calvário. Então, como demonstramos nossa
gratidão ao Senhor? Vivendo inteiramente para Ele! Apresentando para Ele o
sacrifício das nossas vidas, ofertadas para o serviço do Seu Reino e da Sua
perfeita vontade. É isso o que o Senhor deseja dos seus servos: Que tenhamos a
Ele como o mais desejável e o mais importante que tudo o mais, todos os dias.
Posteriormente, o
salmista diz que era o seu servo, filho da sua serva, cuja morte é preciosa aos
Seus olhos (vs. 15-16). Com isso, ele diz que a morte que tanto temia não seria
para ele um mero acaso, pois o Deus que tem estima por seus servos cuidava das
particularidades da sua vida; e, conforme a NVI, via com pesar a morte deles.
Se Deus não permite que nenhum pardal morra sem o seu consentimento (Mt
10:29-31), não iria também cuidar daqueles que valem muito mais do que pardais,
nesse aspecto? Logo, não há o que temer.
“... quebraste as minhas cadeias.” (v. 16)
O Senhor havia
quebrado as suas cadeias, e um dia, Ele quebrou todas as cadeias que nos
assolavam, e nos trouxe para um lugar seguro, debaixo de suas asas. “Ele nos
libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor” (Cl 1:13). Nele somos libertas do pecado, do mundo e de nós mesmas. Que
daremos ao Senhor por tudo isso? Tenhamos um coração grato, e vivamos para o
Único que é digno de ter a nossa vida por inteiro em Suas mãos.
Thayse Fernandes
____________________
¹ KIDNER, Derek.
Salmos 73-150: Introdução e comentário. São Paulo: Mundo cristão, 1984.
² HENRY, Matthew.
Comentário bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro:
CPAD, 2010.
³ CALVINO, João. O
livro dos Salmos. Vol. 4: salmos 107-150. São José dos Campos: Fiel, 2009.
Amando essa série ❤. Muito edificante cada leitura. ��
ResponderExcluirAmém Thaiz!
ExcluirQue o Senhor te abençoe!
Amém!!! Muito exclarecedora a palavra!! ✨💫🙌
ResponderExcluirRealmente, que possamos ser gratos todos os dias da nossa vida, muito edificante esse texto.
ResponderExcluirobrigada por seu texto, estou me preparando para falar desse salmo para as crianças da minha igreja, Deus abençoe.
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