Deus nunca fracassa
Chegamos ao final de mais um ano, o Senhor nos deu graça e
nos preservou até aqui. É muito comum nesse período aderirmos à prática tão
tradicional e incentivada do “fechado para balanço”, expressão tirada da área
comercial em que as empresas fecham para calcular os lucros e as perdas. A
expressão tem sido usada também quando fazemos uma “contabilidade” dos nossos
erros e acertos na retrospectiva de cada ano, embora o ideal é que essa fosse
uma prática diária.
Confesso que fiquei bastante desapontada com o resultado do
meu “balanço”, tenho muitas, mas muitas queixas contra mim mesma, quanto ao meu
Deus, no entanto, não tenho nenhuma, absolutamente nenhuma! Na verdade, quanto
a Ele, eu só tenho motivos para agradecer.
Há alguns poucos dias fui confrontada e consolada com uma
pregação ministrada pelo meu noivo, em que expôs o texto de Jeremias 18.1-17,
ele iniciou seu sermão com a frase que é o título desse texto: “Deus nunca fracassa”.
Esse é o famoso texto em que Deus manda seu profeta ir à oficina do oleiro para
lá ouvir suas palavras (v. 1). Na primeira divisão dessa passagem (v. 1-6), o
profeta narra que o oleiro estava trabalhando “a sua obra sobre as rodas”, mas
que o vaso que ele estava fazendo se estragou, então ele fez outro vaso do
mesmo barro conforme lhe pareceu melhor, em seguida Deus questiona o profeta:
“Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel?”
Logo após o Senhor faz uma assombrosa declaração:
“Como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.”
Essa estupenda declaração já foi usada de formas tão
irresponsáveis por nossa geração que parece que perdemos seu significado de
vista, embora seja tão cristalino. A imagem do oleiro manuseando o barro
conforme sua própria vontade, indica a autoridade, o poder e o controle de Deus
em relação a tudo que Ele criou, no contexto imediato, a nação judaica. Embora
a nação se corrompesse, ou seja, o vaso se estragasse, ainda assim, Deus tem
controle sobre o barro para fazer o que quiser dele. As falhas do povo não
podiam frustrar o propósito eterno de Deus.
Na segunda divisão (7-10), o Senhor explica como ele pode
trazer benção ou julgamento sobre um povo de acordo com oráculos de natureza
condicional. No primeiro caso, Deus diz que se ele proferir juízo sobre um povo
e eles responderem em arrependimento e conversão, Ele cancela a sentença. E no
segundo caso, Deus fala em abençoar um povo, mas se eles se rebelarem, o Senhor
trará juízo. É importante explicar aqui que não vemos nessa passagem Deus
mudando de ideia ou se arrependendo, embora as traduções use esse termo para se
referir a anulação dos oráculos, talvez o mais apropriado fosse dizer que Deus
se compadece, pois nesse caso específico, essas promessas de benção ou juízo
estão condicionadas à obediência ou desobediência, é só verificar a partícula
condicional (“se”) perpassando pelos dois oráculos. Assim como temos na
Escritura promessas incondicionais também temos condicionais
(contingenciais).
Na terceira divisão (11, 12), encontramos um oráculo
condicional contra Judá, pois o Senhor diz para eles se arrependerem como no
caso do primeiro oráculo em que ele profere juízo, mas o arrependimento o
cancela. No entanto, a resposta do povo é assustadora:
“... seguiremos nossos próprios planos, e cada um fará conforme a teimosia de seu coração maligno.” (v. 12)
Na última divisão (13-17), vemos o resultado da obstinação
do povo diante das chamadas para arrependimento enviadas pelo paciente e
amoroso coração de Deus. Os versículos 14 e 15 fazem um contraste entre a
constância da natureza com a inconstância do povo em não conseguir permanecer
nas “veredas antigas” e abandonam a Deus. O desfecho é que Deus cumprirá seu
propósito com Seu povo mesmo eles tentando “atrapalhar”, mesmo com as falhas e
pecados deles o Senhor seguirá Seu plano, mas é imprescindível advertir: Eles
serão disciplinados por isso, pois o Senhor diz (v. 17):
“Eu os espalharei com o vento oriental diante do inimigo, no dia da sua calamidade, eu lhes mostrarei as costas e não o rosto.”
Espalhar com o vento oriental diante do inimigo é uma
referência ao desterro, castigo que consta nas prescrições da Aliança. Como
eles esqueceram Deus, o Senhor os pune escondendo temporariamente o Seu rosto
deles.
Percebam o desenvolvimento da passagem:
1- Deus mostra que seu plano para o povo não será frustrado,
pois ele tem controle sobre o barro;
2- O Senhor envia um oráculo de juízo contingencial
ameaçando-os para que se arrependam;
3- O povo se recusa a arrepender-se;
4- Diante da obstinação, Deus anuncia juízo irrevogável para
discipliná-los.
A mensagem desse texto me confrontou quando ao ouvi-lo
pensei nos pecados cometidos esse ano (pelo menos os que pude lembrar), e me vi
tão parecida com Israel. Fui também consolada porque apesar dos meus pecados
Deus continua a cumprir seu propósito em minha vida, mas não posso esquecer-me
do resto da mensagem, em que Deus chama ao arrependimento e que caso haja
recusa da nossa parte, Ele usará a vara de Sua disciplina para nos açoitar
porque “o Senhor disciplina a quem ama e pune a todo que recebe como filho”
(Hb. 12:6).
Embora sejamos falhas como o povo da antiga Aliança,
precisamos suplicar ao Senhor para não ter a mesma atitude impenitente que eles
ao serem chamados ao arrependimento. Mas que possamos aproveitar esse momento
para chorarmos pelos nossos pecados, nos arrepender e suplicar ao Senhor para
sermos restauradas. Precisamos também fazer da introspecção uma prática diária
e não apenas ao fim de cada ano, por isso, necessitamos da leitura e reflexão
bíblica cotidianamente, pois a Escritura é a luz que ilumina os recônditos mais
escuros em nosso íntimo, mostrando o que está escondido lá. Precisamos ser
perscrutadas todos os dias pelo seu santo brilho, para que a confissão e o
arrependimento sejam constantes em nossa vida.
Essa é uma necessidade urgente que muito contribuirá para o
nosso crescimento em santificação. Talvez alguém pense em tentar iniciar a
prática devocional da confissão no primeiro dia do próximo ano, como se
houvesse algo de mágico nesse dia que nos trouxesse algum tipo de ajuda
especial, saiba que não há, e que nos voltarmos para Deus em quebrantamento é
algo tão necessário e urgente que você deveria fazer agora mesmo, aí onde você
está, pois se ignorarmos nossos pecados, Deus não os ignorará, mas nos
disciplinará.
Eu quero chorar hoje pelos meus
pecados, para não ter que chorar amanhã por causa do sofrimento da disciplina.
Lembre-se, Judá poderia ter evitado toda a aflição do exílio se tivesse se
arrependido.
O Senhor nos dê graça!
Sonaly Soares
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