Lembre-se de quem você é


De forma bem geral, entende-se como identidade o conjunto de características que diferenciam uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível individualizá-la. Em algum momento da vida você já deve ter se perguntado quem você é e o porquê. É comum nos depararmos hoje com ideias relacionadas à identidade que demonstram bastante fragilidade e mutabilidade.  Cada indivíduo se redefine à medida que entende ser necessário, o que parece nos mostrar um certo tipo de quebra e imprevisibilidade. Busca-se por identidade nas mais diversas esferas da vida, nas quais costumamos nos firmar para termos nossa própria definição: trabalho, casamento, estudos, amizades... Mas o que de fato caracteriza um cristão? E em que ele baseia sua identidade?

 

Em vários momentos ao longo da narrativa dos evangelhos, as palavras de Jesus tocam em questões que se relacionam à identidade de seus seguidores. Em Mateus 5 vemos importantes afirmações sobre isso. Este capítulo marca o início do Sermão do Monte, que é proferido depois que Jesus começa a pregar e chama os primeiros discípulos. Quando as multidões começam a segui-lo, ele sobe ao monte para ensinar e seus discípulos se aproximam (a atenção prioritária aos discípulos não negligencia alcançar também a multidão).

 

Inicialmente, Jesus começa a ensinar sobre as bem-aventuranças, enfatizando o quanto são realmente felizes aqueles que vivem conforme a ótica do Reino, ainda que de forma inversa às avaliações humanas relativas à “felicidade”. Nos versículos 13 a 16 lemos duas afirmações que apontam para a relação daquele que vive de acordo com o Reino de Deus estando no mundo: vocês são o sal da terra. Vocês são a luz do mundo.

 

"Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus". (Mateus 5:13-16)

 

Primeiramente, o que ser “sal da terra” diz sobre a identidade do cristão? Se você pensar na utilidade do sal apenas no contexto de hoje, talvez pense em poucas coisas, mas pensará principalmente na função de temperar, dar sabor. Mas imagine um mundo sem geladeira, tudo apodrece rapidamente se não for conservado da maneira certa: o sal é extremamente necessário. Porém, “se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.”, em Marcos 9.49-50 e Lucas 14. 34-35, Jesus diz a mesma coisa, em ambos os casos os textos destacam a necessidade da renúncia na vida daqueles que desejam segui-lo. Se o sal perde suas características e, consequentemente, sua utilidade, servirá apenas para ser lançado fora. Se aqueles que dizem seguir a Cristo não agem como tal, estes são como o sal que perdeu suas características e apenas cobrem o chão com sua insipidez.  

 

Em segundo lugar, o que ser “luz do mundo” diz sobre a identidade do cristão? A ideia de luz pode ser banal se você pensar nas cidades iluminadas em que vivemos. Mas pense em um mundo sem eletricidade, tudo é um verdadeiro breu à noite e você pode enfrentar verdadeiros apuros se não estiver com sua candeia. Assim como um mínimo feixe de luz ilumina a mais intensa escuridão, uma cidade construída nas alturas não pode ser escondida. Da mesma forma, não vai dar muito certo tentar esconder algo que seja luminoso, qualquer criança vai descobrir. A ideia é de iluminação e visibilidade, mas esqueça os estrelismos, trata-se de uma luminosidade refletida. Nas Escrituras a luz aponta para o verdadeiro conhecimento de Deus, sua bondade, justiça, sabedoria, englobando todas as bênçãos da salvação. ¹ Jesus é a verdadeira luz dos homens e nós a refletimos, como transmissores da luz primordial. A luz brilha e tem um largo alcance, sua fonte é glorificada. O Senhor brilha. 

 

Dito isto, é importante atentar para o fato de que esta passagem, embora soe de maneira prescritiva, na verdade é um lembrete de quem somos em Cristo, como diria meu esposo, é como se Ele nos falasse: “lembrem-se da identidade de vocês”, “lembrem-se que eu já venci e do que vocês são em mim.”

 

Portanto, lembre-se de quem você é por causa de Jesus. Sal que conserva um mundo em putrefação e luz que irradia na escuridão da ignorância e do pecado. Isso significa influência em todas as instâncias sociais. Se nossa identidade se firma em Cristo, não precisamos de qualquer esfera da vida como âncora ou régua de definição de quem somos, antes, nossa verdadeira identidade nos direcionará e será exposta em todos estes âmbitos à medida que O servimos.

 

 O que Cristo opera em nós pode incomodar outras pessoas. A luz que transmitimos ilumina e também revela as “más obras” feitas na penumbra, a conservação talvez não seja conveniente para todos ao nosso redor. Ainda assim, não esqueça que ser insípido e apagado não faz parte da definição identitária que nosso Senhor nos deu. Vivamos, pois, sendo o que Cristo disse que nós somos para a glória dEle.

 

Juliany Correia



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