A verdadeira piedade
“...a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” (1 Timóteo 4:8)
No capítulo do texto
acima, vemos Paulo escrevendo a Timóteo sobre como seria o cenário nos últimos
dias e orientando-o a como proceder, fazendo parte da orientação a recomendação
ao exercício da piedade. As palavras de Paulo são muito pertinentes e
aplicáveis aos dias atuais, bem como as orientações dadas por ele.
Como crentes,
sabemos que devemos buscar uma vida reta, santa e piedosa diante de Deus. Por
essa razão, é importante entendermos aquilo que realmente significa piedade,
para que essa virtude não venha a ser confundida com determinados modelos que,
comumente, são associados a essa virtude.
Há um certo
estereótipo acerca do que seria uma pessoa piedosa, como sendo alguém que dá
esmolas, de pouco aporte financeiro, que geralmente é privado de alegrias
terrenas e que vive para Deus sempre de forma penosa e sofrida. Essa é, mais ou
menos, a visão do senso comum a respeito da piedade - uma característica sempre
ligada à passividade, dor, sofrimento, dificuldade e escassez.
Contudo, um servo
genuíno do Senhor se mantém fielmente piedoso não apenas no sofrimento, mas
também na alegria, pois a sua piedade é fruto, unicamente, da devoção de seu
coração, e não das circunstâncias. Além das circunstâncias, a performance,
personalidade e modo de se vestir, por exemplo, também são, muitas vezes,
pontos estereotipados em um determinado padrão que indica piedade. Mas a
verdade é que não existe uma única forma de um crente piedoso agir, ser e se
vestir. Na verdadeira piedade, o indivíduo piedoso pode ser desde sanguíneo a
melancólico; de introvertido a extrovertido; de clássico a casual; o que
realmente importa, são os seus frutos espirituais visíveis de amor, santidade,
humildade, generosidade, serviço, bondade, etc., gerados de um coração
genuinamente devoto ao Senhor.
Mas afinal, o que,
de fato, é piedade?
A piedade é uma
santa devoção a Deus. É um modo de vida que resulta de um coração que ama ao
Senhor acima de tudo. É uma disposição interna, um arrebatamento do coração,
uma capacidade de resistir a toda situação desta vida cheio de amor a Deus e
humildade, apresentando frutos espirituais em qualquer que seja o temperamento,
personalidade e estilo.
Na Palavra de Deus,
temos o exemplo de Cornélio, o primeiro gentio convertido ao Cristianismo.
Cornélio era um centurião, isto é, um oficial do exército romano que liderava
uma companhia de aproximadamente cem soldados – o posto de centurião equivale
ao de um capitão de exército numa hierarquia militar. Ou seja, Cornélio era um
homem que tinha um papel importante e determinado prestígio no Império Romano
e, ainda assim, Lucas refere-se a ele como: “Piedoso e temente a Deus...” (Atos
10:2a). Dessa forma, vemos aqui que a posição ocupada por Cornélio não o
impossibilitava de ser encontrado como um homem piedoso e temente a Deus.
Todas as associações
superficiais vistas por nós, baseadas em estereótipos religiosos, acabam
limitando o nosso entendimento sobre o real conceito de piedade, bem como a
profundidade deste. Um homem piedoso não tem que ser, necessariamente,
desprovido de bens. O problema não é uma possível prosperidade, o problema é se
o nosso coração a devota e a idolatra. O problema é se nós resumimos a nossa existência
e alegria a ela. O problema é se ser próspero é o fim de nossas vidas e não um
meio (instrumento) de glorificar a Deus.
O pecado está no
nosso coração e não externamente a nós. O próprio Jesus afirmou que é do nosso
coração que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as
imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias (cf.
Mateus 15:19). Por isso, não faz sentido existir uma lista rígida de
características que precisam ser seguidas para ser alguém piedoso, pois a
verdadeira piedade não é um padrão, mas um coração.
Por exemplo,
percebam: eu posso não trabalhar fora, dedicar-me somente ao lar e aos filhos
e, ainda assim, ter um coração orgulhoso e arrogante – o que faz de mim uma
mulher impiedosa, mesmo dedicando-me apenas ao lar. Assim vemos, mais uma vez,
que a verdadeira piedade não é constituída por fatores externos,
circunstanciais, mas por um coração submisso e devoto a Deus, que está sendo e
deseja ser, cada vez mais, santificado por Suas mãos.
Queridas irmãs,
sabemos que é muito mais fácil (apesar de penoso) seguir a um padrão e viver
sob uma lista de condições, do que vigiar e sondar o próprio coração - pois há
um grande potencial pecaminoso dentro de nós e ele é mais profundo do que
podemos imaginar. Mas a verdade é que o nosso Deus deseja ser amado sobre todas
as coisas e não se satisfaz, nem se engana com meros seguidores de regras e
costumes, basta olharmos para as advertências do Senhor Jesus aos fariseus:
"Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade.” (Mateus 23:27,28)
A verdadeira vida
cristã não é uma lista de normas a serem cumpridas, ela é uma vida que preza
pelo amor supremo a Deus e à santidade. Todo comportamento cristão precisa
passar por esse crivo de devoção e santidade, contido na Palavra de Deus, para
então ser discernido como pecaminoso ou não. Não há um padrão pronto: a
prosperidade que pode gerar ganância e amor ao dinheiro, é a mesma prosperidade
que pode desenvolver a generosidade e a liberalidade. O sofrimento que pode
gerar o quebrantamento e a dependência, é o mesmo sofrimento que pode
desenvolver a amargura e o descontentamento. O indivíduo colérico que
facilmente pode se irritar em um conflito, é o mesmo indivíduo que pode
perseverar corajosamente. O que vai definir o sentido dessas coisas é o nosso
coração.
Deus não quer de nós
uniformidade, aparência e performance, Ele deseja amor verdadeiro e profundo.
Devoção suprema. Coração cativo. Vida autêntica e legítima. De modo que, quer
na dor ou na alegria, na escassez ou na fartura, na bonança ou na tempestade,
no vale ou nas águas tranquilas, no estilo contemporâneo ou despojado, no
temperamento frio ou quente, nós sejamos capazes de amá-lo supremamente.
O desejo do meu
coração, hoje, para mim e para você, querida leitora, é que não associemos
piedade a estereótipos rasos, mas que possamos zelar pelos nossos corações,
para que eles permaneçam profundamente firmados e devotos ao Senhor. Que o
nosso Deus, que nos sonda, possa endireitar os nossos caminhos, conduzindo-nos,
TODOS OS DIAS, a amá-lo supremamente de todo o coração. E assim, que em todos
os momentos de nossas vidas, com toda a nossa peculiaridade, possamos ser
encontradas Nele como mulheres, genuinamente, piedosas.
Que Ele seja o nosso
amado e querido Senhor, desde agora e para sempre! Amém!
"Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida." (Provérbios 4:23)
Millena Leal
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