E quando aqueles que amamos se vão? Uma palavra sobre o luto
Fazer escolhas com sabedoria e discernimento, alinhadas com os princípios e a vontade de Deus, pode evitar que muitas dores nos acometam. Contudo, existem dores que são inevitáveis, como a dor deixada pela morte de quem amamos. Não há o que fazer, um dia, todos nós, perderemos aqueles que amamos e teremos que atravessar este momento de dor. É inerente, inevitável.
O luto é um processo
caracterizado pelo “conjunto de reações, sentimentos e experiências de quem
perde algo ou alguém”¹. Dessa forma, por ser um processo, o luto não desaparece
em um breve intervalo de tempo, mas acompanha o indivíduo por um considerável
período. Isso porque a perda de uma pessoa querida traz consigo a necessidade
de readaptar a realidade para conseguir permanecer vivendo sem a pessoa que se
foi. Esse processo de “refazer a vida” acontece aos poucos e é importantíssimo,
pois é através dele que é viabilizada a continuidade da vida daquele que sofre
com a perda.
Dessa forma, uma das
coisas que não devem ser feitas é a fuga dessa experiência. Muitas vezes,
pensa-se que é necessário abolir os sentimentos e as lembranças daquele se foi,
bem como encher-se de atividades para não ter tempo de pensar naquele que
morreu. Contudo, é apenas vivendo a experiência do luto que é possível aceitar
a perda e reorganizar a vida. Por isso, é necessário viver tudo o que o
processo de luto traz consigo, para que a aceitação ocorra e uma nova forma de
viver se estabeleça.
Como crentes,
sabemos que não precisamos viver esse processo sozinhos e sem esperança. Além
de todos os benefícios espirituais concedidos a nós por meio do sacrifício de
Cristo, Nele também há a firme certeza de companhia, consolo, força e esperança.
Deus é o nosso auxílio sempre presente na adversidade (Sl 46:1), e somos morada
do Seu Espírito (1 Co 6:19), consolador e intercessor, que estará conosco para
sempre (Jo 14:16) e que não nos deixará sozinhos até que se cumpra a promessa:
“E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” (Apocalipse 21:4)
A Bíblia diz que a
criação geme, pois está submetida à dor e ao sofrimento de um mundo caído, onde
há a presença do pecado. Mas, a fé dos santos na promessa de Deus os fortalece
e os capacita a atravessar os infortúnios da vida aqui. Nós, filhos de Deus,
assim como toda a criação, gememos, mas sabemos: toda dor é por enquanto, e
nisso cremos e esperamos.
Contudo, algumas
complicações de natureza emocional podem acontecer após a perda de uma pessoa
querida, e se faz necessário ter o discernimento de que, muitas vezes, isso não
é um problema espiritual. Por exemplo, quando a duração e a intensidade do
processo de luto é estendida e retomar a vida se torna algo muito complicado, a
indicação é procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Se a pessoa
enlutada não está conseguindo desenvolver meios para continuar vivendo, se não
está conseguindo ressignificar sua dor, a ajuda de um especialista se faz
imprescindível (LUIZ, 2020).
Por isso, se estamos
lidando com pessoas enlutadas, precisamos exercitar a maior das virtudes
espirituais - o amor. O amor que é paciente e bondoso, sendo o que nos capacita
a ouvir e acolher - sem reprimir a dor do outro, respeitando o seu processo e
os seus limites, bem como sendo aqueles que irão conduzir, se necessário, a
pessoa enlutada a um especialista. Dessa forma, entendemos que buscar conter e
refrear a tristeza do enlutado não é adequado, pois a tristeza não
caracteriza-se como um “sentimento errado”, muito menos pecaminoso.
Sentir tristeza e
chorar é uma reação normal diante de situações ruins, inerente à condição
humana, que precisa ser acolhida sem repressão. Cada indivíduo possui o seu
próprio tempo de superação, ressignificação e reorganização da vida, dessa
forma, cabe a nós, em amor, ajudá-lo a lidar com a sua dor e sofrimento, até
que consiga dar os próximos passos, vivenciando o seu próprio processo.
Já você, que está
vivenciando o seu processo de luto, primeiro gostaria de te dizer que sinto
muito. Sinto muito pela sua dor, minha querida irmã. Que o doce Espírito Santo
te console, fortaleça o teu coração, te dê graça para vivenciar esse processo
de luto e te encha de esperança no porvir. Lembre-se “...que as aflições deste
tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser
revelada.” (Rm 8:18). Que sua dor possa ser ressignificada, que você possa
refazer a sua vida dentro dessa nova realidade e continuar a viver para a
glória de Deus.
Nos momentos em que
a dor apertar, e você não conseguir nem orar, sugiro a você fazer dessa música
- muito conhecida em nosso meio, a sua oração:
“Espírito Santo, ore por mim
Leve pra Deus tudo aquilo que eu preciso
Espírito Santo, use as palavras que eu necessito usar, mas não consigo
Me ajude nas minhas fraquezas
Não sei como devo pedir
Espírito Santo, vem interceder por mim
(...)
Estou clamando, estou pedindo
Só Deus sabe a dor que estou sentindo
Meu coração está ferido
Mas o meu clamor está subindo”²
E que assim, querida
irmã, esteja você auxiliando uma pessoa enlutada ou esteja você mesma passando
pelo luto, que o Senhor lhe conceda graça sem medida, a fim de que você possa
passar por essa fase, bem como ajudar outros a passarem, recebendo o seu
auxílio e com o coração aquecido na esperança do porvir.
Que Deus em Cristo
vos abençoe.
¹LUIZ, Beatriz. Como
sobreviver após uma perda: o processo do luto. Campinas-SP: 2020. Disponível
em: <https://www.puc-campinas.edu.br/wp-content/uploads/2022/02/Cartilha-sobre-luto-Versao-Final.pdf>
²Espírito Santo -
Fernanda Brum. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=BhpWV94vj68>
Millena Leal
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