Recordando orações: gratidão e perplexidade
“Eu me lembro dos dias em que orei por coisas que tenho
hoje”, frases similares a essa são amplamente compartilhadas e registradas em
tom de agradecimento por bênçãos recebidas. E como é bom recordar e vivenciar
os feitos do Senhor! Como é revigorante ter o coração inundado de gratidão por
tudo que Ele tem sido e feito a nós! Mas, será que lembramos também das vezes
em que a perplexidade tomou conta de nós por que uma oração foi atendida? Você
orou, suplicou, colocou diante de Deus tantas vezes algo específico. O Senhor
te respondeu e você ficou atônita: “não pode ser”, “como foi isso?”, “eu não
acredito”, “mas já?”. Bom, eu não sei se já aconteceu com você, mas comigo sim,
e eu não sou a única.
O capítulo 12 do livro de Atos narra a milagrosa libertação
de Pedro da prisão. Naqueles dias, os cristãos estavam sendo perseguidos por
Herodes, o qual prendeu e matou alguns que pertenciam à igreja. Pedro foi um
dos presos, encarcerado e vigiado por vários soldados. Enquanto estava lá, sob
a guarda reforçada: “a igreja orava fervorosamente a Deus por ele.” Atos 12.5
De forma extraordinária, antes do julgamento público, Pedro
é libertado por um anjo do Senhor. As algemas e a guarda reforçada não foram
impedimentos para aquele que não é limitado por impossibilidades.
Demorou um pouco até para o próprio Pedro cair em si, ao se
dar conta que não se tratava de uma visão, ele se dirige à casa onde os irmãos
estavam reunidos para orar. Certamente, como é mencionado no v 5., ele era um
dos motivos de oração. Entretanto, ao chegar lá, a notícia é recebida de duas
formas:
1 – Com fé e alegria por parte de uma serva chamada Rode.
Ela nem precisou abrir a porta para ter certeza, ao reconhecer a voz de Pedro,
voltou para avisar aos demais.
2- Ao receberem a notícia, as outras pessoas ali presentes
duvidaram, o que se expressa nas respostas à Rode: “você está fora de si”,
“deve ser o anjo dele”, até que abriram a porta e ficaram boquiabertos com o
que estavam presenciando.
É agora que nos perguntamos: como é que as pessoas estavam
orando intensamente a Deus por Pedro e ficam chocadas com a intervenção do
Senhor naquela situação? Então... Você não ficaria? Já tinha havido morte e
perseguições violentas a diversas pessoas, e provavelmente também se tinha
orado por elas. Embora a oração fosse um dos pilares sobre o qual cresceu a
igreja primitiva, naquele momento não parecia haver esperança.
Ao longo da nossa caminhada cristã, temos reações que se
aproximam da atitude de Rode, mas também semelhantes ao comportamento das
outras pessoas. Muitas vezes oramos com fé e certeza de reposta, de
intervenção. Outras vezes oramos até fervorosa e intensamente, mas sem muita
esperança de intervenção divina. Parece contraditório, mas o fato é que estamos
sempre suscetíveis a tais oscilações.
Apesar de nós e apesar de como oramos e depositamos nossa
confiança no Senhor, Ele nos mostra que a sua vontade soberana prevalece, seja
na vida, seja na morte; seja na prisão, seja na liberdade; seja com o sim, seja
com o não. A oração não é uma forma de manipular Deus, de persuadi-lo a
realizar os nossos desejos, mas é uma atitude de comunhão e dependência que nos
molda e transforma nosso coração. A oração é uma declaração de que nós não
estamos no controle.
Não oramos em vão, ainda que em algum momento pareça que
Deus não está nos ouvindo, Ele está atento ao nosso clamor (Salmos 34.15).
Talvez não tenhamos uma resposta imediata e da forma que gostaríamos, mas nosso
gracioso Pai nos ajuda a confiar no que lhe apraz.
Não se trata daquilo que queremos, pois às vezes não sabemos
nem como orar (Rm. 8.26). Importa que a vontade perfeita do Senhor seja feita.
Independente do que buscamos, Deus conhece o todo, conhece o quebra-cabeça
montado e trabalha para além da nossa compreensão que tenta juntar peça por
peça vagarosamente.
Olhe para trás e relembre suas orações, algumas respostas nos
ferem, outras respostas nos acalentam. Todas elas estão contribuindo para o
nosso crescimento espiritual e firmeza em Deus. Recorde também as vezes que o
Senhor te surpreendeu, respondendo sua oração incrédula e sem convicção. Que
suas memórias tragam à tona a necessidade de glorificar e agradecer a Deus em
todo tempo.
Que o Pai eterno nos ajude em nossa incredulidade, que Ele
nos dê a alegria de Rode ao abrir a porta e se deparar com a Sua
intervenção. Que a nossa perplexidade
culmine em agradecimento sincero. Oremos uns pelos outros, como igreja, ainda
que a nossa oração seja imperfeita.
Dediquem-se à oração, estejam alertas e sejam agradecidos. Colossenses 4:2
Juliany Correia
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