Enxergando beleza no ordinário
Todos nós ansiamos
viver coisas extraordinárias diante de Deus. Ouvir testemunhos e experiências
marcantes de pessoas à nossa volta aquece o nosso coração e nos deixa a
sensação de que queremos viver o mesmo em nossa vida. Ler biografias, ouvir
relatos bíblicos de homens e mulheres que marcaram seu tempo também nos
confronta e nos faz refletir o quanto queremos seguir o exemplo deles e ver a
mão do Senhor estendida em nossa história.
Apesar dessas coisas
serem totalmente válidas, o que muitas vezes não conseguimos compreender é que
podemos enxergar a mão do Senhor em todos os momentos de nossas vidas, nas
coisas simples do dia a dia, em nosso ordinário. Nas conversas rotineiras, na
mesa com os amigos, em nosso trabalho, universidade ou casa, no simples
preparar das refeições, lavar a louça suja ou amamentar o bebê - Deus pode ser
encontrado em nosso cotidiano.
O Senhor Jesus em
seu ministério viveu a maior parte de sua vida de forma cotidiana e estava sob
a expectativa de estar cumprindo a vontade do Senhor, pois “foi obediente até a
morte, e morte de cruz.” (Fp 2:8). Tudo o que o Senhor viveu, inclusive as
horas de sono, de se alimentar ou conversar com a multidão, de chorar ou rir
com os discípulos, e nas demais coisas simples em que o “extraordinário” não
estava acontecendo, estava sob a direção divina. De maneira semelhante, podemos
entender que a nossa vida rotineira está acontecendo sob a direção de Deus,
onde tudo converge para o propósito Dele em nossa história. Nada é por acaso.
Todas as coisas acontecem “por ele, por meio dele e para ele.” (Rm 11:36). Não
podemos desperdiçar momentos esperando o extraordinário acontecer, podemos
glorificar a Deus a partir do aqui e do agora, todos os dias, inclusive, nas
coisas simples e rotineiras.
Jesus subiu aos
céus, mas nos deu a promessa de que enviaria o Espírito Santo para estar sempre
conosco.
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.” (Jo 14:16,17)
Sendo assim, nunca
estamos sozinhos: Deus está presente conosco na pessoa do Espírito Santo. Isso
nos traz consolo e ao mesmo tempo temor. Minha vida precisa ser vivida coram
deo, diante de Deus, na presença e na realidade Dele. Como os reformadores
trouxeram à tona em sua época, não existe diferença entre religioso e não
religioso, sagrado ou profano, podemos conectar todas as experiências de nossa
vida com a convicção de que a mesma está escancarada diante Daquele que tem
todas as coisas em suas onipotentes mãos.
“Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: É meu!” (Abraham Kuyper)
Você pode estar se
perguntando: como é possível viver coram deo? Como aplicar essas verdades em
minha vida? Primeiramente, tendo o entendimento e a convicção correta. Entender
que existe beleza no ordinário, que Deus está ali do nosso lado quando não
vemos “coisas espirituais” acontecendo e que podemos encontrá-Lo em nosso dia a
dia.
"Não haverá descanso para o seu pobre coração até você aprender a ver a mão de Deus em tudo." (A. W. Pink)
Segundo, desenvolvendo o contentamento em nossas circunstâncias, ao invés de ficar desejando a vida de
outras pessoas, gerando insatisfação e dúvidas em nosso coração. Onde estou e
as coisas pelas quais vivo é fruto da providência divina e por isso devo ser
grato. Posso observar as coisas simples do dia a dia como demonstrações de graça e sempre agradecer ao dono da vida e pedir para que Ele me capacite a fazer algo rico e recompensador onde Ele me colocou.
“Aquilo que somos chamados a fazer todos os dias, exatamente onde Deus nos colocou, é rico e recompensador.” (Michel Horton)
Terceiro, confiando
que Deus está operando em todo tempo e buscar viver a vida de Jesus. Quando as
coisas fogem do nosso controle, quando nossos planos são interrompidos ou
quando nossas expectativas sobre algo são frustradas, é fácil murmurar e
maximizar as dificuldades, ao invés de enxergar as circunstâncias como meio de
graça. Perdemos inúmeras oportunidades de contemplar a graça de Deus operando
em nós, aperfeiçoando o nosso caráter e nos ensinando algo sobre Ele por
estarmos olhando apenas para o que é aparente (II Co 4:18). Deus está operando
aqui e agora, usando as circunstâncias do nosso dia a dia para nos transformar,
nos salvar de nós mesmos e nos tornar como seu Filho.
Ao invés de
responder à afronta com raiva e amargura, precisamos demonstrar mansidão e
domínio próprio, como Jesus, que quando afrontado não revidava, quando afligido
não ameaçava. Ele deseja que sigamos as suas pisadas (I Pe 2:21-23). O que quer
que façamos, que possamos nos esforçar para viver uma vida agradável a Deus.
“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.” (Cl 3:17)
“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo”. (Colossenses 3.23-24)
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (I Co 10:31)
E por último,
mantendo um relacionamento de intimidade com Ele. Quanto mais próximo de Deus
estivermos, mais Ele nos revelará o seu coração. Quanto mais próximo de Deus
estivermos, mais amaremos as coisas que Ele ama e odiaremos as coisas que Ele
odeia. Ele se dará a conhecer a nós, quando formos constantes em nossa vida
devocional.
“Sua vida de oração particular é um dos principais indicadores de que seu cristianismo vem de dentro e é verdadeiro, e não apenas o resultado de seu ambiente.” (Timothy Keller)
Nossa vida de oração
não deve se resumir a um momento na igreja, ou a um ambiente que entendemos
como “espiritual”, mas a um hábito constante. Da mesma forma, nossa leitura da
Palavra e a adoração que consagramos a Deus.
“E se os momentos corriqueiros, de pratos e de fraldas, podem ser realizados com o objetivo de desfrutarmos de Deus, logo, a vitalidade espiritual que experimentaremos em nossa casa não é nada menos que milagrosa.” (Glória Furman)
Todavia,
“Como pessoas ocupadas, pragmáticas, apressadas e distraídas, desenvolvemos hábitos de desatenção e perdemos as minúsculas teofanias do nosso dia.” (Tish H. Warren)
Que possamos rogar
ao Senhor para que nos dê sensibilidade espiritual e o verdadeiro entendimento
de que podemos enxergá-lo em nosso ordinário, em nossa vida simples e comum,
longe dos holofotes e dos aplausos, todavia, próxima Dele.
“É preciso coragem para crer que uma vida pequena ainda é uma vida significativa, e é preciso graça para saber que o Senhor me vê e me ama mesmo que eu não tenha feito nada poderoso ou ousado ou até mesmo interessante, e isto me basta.” (Tish H. Warren)
Thayse Fernandes
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